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28/01/2013 - 04h24

Krajcberg diz que denuncia criminosos e não vê reação

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FABIO BRISOLLA
DO RIO

Polonês naturalizado brasileiro, Frans Krajcberg, 92, passou os dois últimos meses em Paris. Voltou na semana passada e, numa breve passagem pelo Rio, conversou com a Folha.

Mercado de arte vê oferta de obras falsas com assinatura de Frans Krajcberg

"Tenho muita coisa para falar", disse ele, ao chegar a um restaurante na praia do Leme, zona sul carioca.

Krajcberg queria desabafar. Consagrado por transformar em arte vestígios da destruição da natureza, como madeiras carbonizadas em queimadas, ele fez da causa ecológica uma inspiração.

Mas a vida em seu paraíso ecológico passou a ser uma relação de amor e ódio.

No sítio em Nova Viçosa, no sul da Bahia, virou alvo de aproveitadores que invadiram sua propriedade várias vezes nos últimos anos. Teve obras roubadas, perdeu dinheiro e recebeu ameaças.

Inconformado com a impunidade, Krajcberg denuncia a existência de criminosos na sua região especializados em falsificações de sua obra. E protesta: "Ninguém faz nada contra isso".

*

Folha - O senhor já detectou quantas obras falsas, com a sua assinatura, que apareceram no mercado de arte?
Frans Krajcberg - São muitas, já perdi a conta. É uma vergonha o que está acontecendo. Até a assinatura atrás dos quadros fazem igual. É cada vez mais comum encontrar um catálogo de leilão com uma obra falsa assinada por Krajcberg. É escandaloso.

O senhor procurou polícia para denunciar as falsificações?
Já falei, mas nada foi feito. Soube de obras falsas sendo vendidas em São Paulo. Existe um homem suspeito de levar minhas obras de Nova Viçosa para lá. Mas não vou citar nomes. A polícia é quem deveria investigar isso.

Por que Nova Viçosa?
Acredito que todas as falsificações saem de lá. Cheguei a ter dez funcionários auxiliando nos meus trabalhos. Alguns acabaram roubando obras, dinheiro... Agora estão aproveitando a experiência nas falsificações. Hoje, tenho apenas dois funcionários.

Quantas vezes sua casa foi alvo de furtos e roubos?
Sete vezes. Perdi dinheiro, além de trabalhos meus e de outros autores. Tinha um belíssimo [Marc] Chagall, que ganhei do próprio. Era meu amigo. Morei por três meses na casa dele. Também tinha um desenho do alemão Willi Baumeister, meu professor. Tudo roubado. É muito triste.

Na última invasão (em julho de 2011), o senhor foi refém dos criminosos...
Estava deitado na cama quando quebraram a janela. Entraram no meu quarto e perguntaram pelo dinheiro. Eram três. Um deles apontou uma arma para minha cabeça e avisou que, se eu fugisse, atiraria. Fui com eles até outra casa, onde guardo obras. Lá havia uma bolsa com dinheiro, que eles levaram.

O governo da Bahia designou escolta para protegê-lo. Eles não perceberam a invasão?
Tenho segurança dia e noite. Os policiais circulam pelo sítio o tempo todo. Estão sempre perto de mim. Mas daquela vez não viram nada.

O senhor tem medo de morar em Nova Viçosa?
Não tenho medo. Passei quatro anos na guerra. Como posso ter medo depois disso?

Pensa em se mudar para outra cidade?
Minha história está em Nova Viçosa. No ano passado, fui visitar o Oscar Niemeyer no hospital. Ele me disse: "Já te falei, não pensa na sua idade, pensa em trabalhar." Mas não tenho idade para recomeçar em outro lugar.

O senhor acha que merecia mais atenção das autoridades brasileiras?
Acabo de voltar de Paris, onde recebi uma bela homenagem da prefeitura. Eu tenho um espaço em Montparnasse para guardar minhas obras, que acaba de ser ampliado pelo patrocinador.

Por isso, não consigo entender por que sou tão maltratado no Brasil, o país que escolhi para viver. Falsificam meus trabalhos e ninguém faz nada contra isso. É uma vergonha um país como o Brasil deixar isso acontecer.

 

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