Pioneira do stand-up feminino, Sarah Silverman revê estilo de humor

JASON ZINOMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM HOLLYWOOD

No primeiro teste de "I Love You, America", seu novo programa político e de variedades, Sarah Silverman apresentou um casal que estava nu na primeira fila da plateia.

Mas a presença mais exótica talvez tenha sido a de um eleitor de Trump, parte de um grupo de pessoas comuns entrevistadas por Silverman, comediante progressista que discursou na convenção do Partido Democrata em 2016.

Questionado sobre seu apoio ao presidente, ele explicou que Trump estava envolvido em menos escândalos que Hillary. Silverman fez uma careta, e a plateia se preparou para uma resposta aguçada. Mas ela só sorriu educadamente e seguiu em frente.

Será que aquela era mesmo Sarah Silverman?

"Não se pode fazer uma pessoa mudar de ideia discutindo", disse no dia seguinte, enquanto via cenas do programa, que estreou nos EUA na plataforma Hulu em outubro. "Fatos não levam as pessoas a mudar de ideia."

Gesticulando diante de um mapa dos Estados Unidos que decora a parede de seu escritório, ela completa: já há suficientes comediantes dispostos a explicar por que seus oponentes estão errados.

Silverman, 46, uma das maiores comediantes de stand-up de sua geração, foi a pioneira de uma vertente de humor feminino que abriu caminho a novas estrelas, como Amy Schumer e Ali Wong.

A atitude quanto à ambição também mudou. Ela diz que agora põe a carreira em primeiro, acrescentando que embora ame o namorado, o ator britânico Michael Sheen, o relacionamento funciona porque ele vive a um oceano de distância. "Quero fazer coisas que importam e me dedicar totalmente a elas."

Silverman vem aceitando papéis dramáticos, como no filme "Batalha dos Sexos". Após alguns pilotos para TV falharem, decidiu procurar um formato próximo do stand-up, no qual interpretasse a si mesma e conversasse com gente com quem não necessariamente concorda.

Ela convidou o comediante conservador Dennis Miller para o programa, mas ele recusou. Quando percebeu que Ivanka Trump era sua seguidora no Twitter, enviou uma mensagem à filha do presidente. Não houve resposta.

Suas incursões às regiões conservadoras dos EUA para o programa também geraram choques. Na Louisiana, uma eleitora de Trump se queixou de que o presidente Barack Obama "sustentava vagabundos", enquanto sua família falava em fazer parte do programa federal de saúde.

Silverman disse que se divertiu. Questionada sobre se a visita havia aumentado sua esperança de que as coisas mudem, parou para pensar. "Ainda é possível respeitarmos uns aos outros", disse. "Mas convencemos alguém a mudar de ideia? Não."

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