Renato Godá celebra a vida em movimento em novo álbum 'Nômade'

Crédito: Bruno Santos/Folhapress A modelo transexual Gabrielle Joie filmou a serie "Toda Forma de Amor" para o Canal Brasil
O músico Renato Godá, que lança o disco 'Nômade'

THALES DE MENEZES
DE SÃO PAULO

O nome do terceiro álbum de Renato Godá é praticamente uma declaração de intenções. "Nômade" é um disco sobre vida em movimento, sobre idas e vindas. E traz 11 canções maduras, com alguma pegada de rock americano de raiz folk.

Aos 47 anos, o cantor paulistano reconhece que é agora, justamente quando está menos "nômade", que a inquietude se reflete com mais força em suas letras. "Hoje eu vivo de um jeito mais calmo", diz à Folha. "Tenho um endereço de correspondência, mas não tive durante boa parte da minha vida."

Depois de praticamente 25 anos sem férias, reconheceu uma relação de cansaço com a música. "Show em cidade longe pra cacete? Meu Deus do céu! E nunca tinha reclamado de trabalho na vida."

Essa saturação foi somada ao diagnóstico de autismo do filho, Tom, e fez com que Godá ficasse mais em casa. "Pude fazer isso graças a trabalhos de publicidade, de locução, que eu gravo muito."

"Nesse período sabático, sem pressa de voltar, tive a sorte de escolher só os shows que queria fazer. Sem urgência. meu interesse era ficar com a família, curtir meu filho e minha mulher, organizar a minha vida", diz. E recorre a uma metáfora.

"Com 45 anos, é como escalar o topo da montanha, tipo a metade da vida. A paisagem então é completamente diferente. Por conta dessa reflexão, escrevi uma série de músicas sem pretensão de nada. Mostrei para as pessoas mais próximas, e elas se identificaram com as canções."

Voltou então a ter uma boa relação com a música, tocando com amigos na sala de casa. E resolveu gravar um disco. Tinha 40 músicas, muitas delas com influência de sons texanos, assimilados numa turnê americana. Nas letras, versos sobre botas gastas, cavalos galopando, poeira de estrada, sol no deserto.

SEM ENSAIOS

O disco foi gravado em três dias. Sem ensaios, sem arranjos já escritos. "Na véspera, mandei para a banda uma versão de violão e voz das músicas e pronto. Não mudei nada na pós-produção. O que você escuta é o take mais honesto, sem mentira. O resultado é único. Não se repetiria em duas noites seguidas."

Essa mistura de urgência e honestidade não é coisa nova para Godá. Seu primeiro álbum, "Canções para Embalar Marujos" (2010), veio de um registro ao vivo no estúdio, de poucas horas, com uma banda formada para aquela sessão. "Queria que tivesse uma sujeira no som."

Gostou de algumas canções, mas não de outras. Pegou as favoritas e lançou no álbum. O resultado ele classifica como um divisor de águas em sua vida.

Ali exibia uma influência declarada de Goran Bregovic, o músico bósnio célebre pelas trilhas dos filmes do diretor Emir Kusturica. "Um cara do Leste Europeu, bem cigano. Quando ouvi aquilo, foi como encontrar Jesus. É isso que eu quero! Na época, eu compunha sobre um passado recente, boêmio, que tinha tudo a ver com aquilo."

O trabalho rendeu convites para tocar fora do Brasil, abrindo boa fase que continuaria com o disco seguinte, "Eu Não Mereço Seu Amor" (2014). Parte da crítica brasileira, sem referências de Bregovic e de música cigana, passou a compará-lo com Serge Gainsbourg e Tom Waits.

"Vou jurar para você, pelos meus filhos: eu conheço pouquíssimas músicas do Tom Waits!", diz, rindo. "Aliás, não escuto música em casa. Eu não tenho uma caixa de som na minha casa."

PÃO DE QUEIJO

A imagem de "bad guy" o faz rir. "Tem gente que chega em casa achando que vai entrar na toca do Ozzy. Sou de família mineira, recebo todos com café e pão de queijo."

Godá lançou "Nômade" nas redes sociais no final do ano passado. E acaba de soltar "Longe Eu Vou", primeiro clipe do disco, com participação do filho mais velho, Gabriel Garcia, artista plástico. O álbum em formato físico sai em breve, quando começar a turnê pelo Brasil.

"Só vejo sentido em ter disco físico para a turnê. Porque o cara vai aos shows e compra. Eu mesmo não vou a uma loja de discos há anos, mas sei que tem uma demanda, muita gente quer o disco físico, quer o autógrafo na capa."

Godá parece sincero ao dizer que não se enxerga em nenhuma turma musical. "Sou um cavaleiro solitário." Mais nômade é impossível.

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ARTISTA Renato Godá
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