Obra de Coutinho guia o programa de entrevistas 'Cineastas do Real'

Crédito: Marcus Leoni/Folhapress Amir Labaki, que dirige e apresenta 'Cineastas do Real
Amir Labaki, que dirige e apresenta 'Cineastas do Real'

NAIEF HADDAD
DE SÃO PAULO

O documentarista Eduardo Coutinho (1933-2014) norteia o trabalho do crítico de cinema, curador e escritor Amir Labaki ao longo deste ano de 2018. "Coutinho é o mais importante cineasta brasileiro depois do cinema novo", enfatiza Labaki.

Em maior ou menor grau, a obra do diretor de "Santo Forte" (1999) e "O Fim e o Princípio" (2006) influencia os 13 documentaristas que participam da segunda temporada de "Cineastas do Real", no Canal Brasil.

Amir Labaki dirige e apresenta esse programa de entrevistas, cuja primeira temporada foi ao ar em 2015.

O jornalista também é curador do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários, evento criado por ele e que chega à 23ª edição em abril deste ano.

Labaki assina ainda uma coluna sobre cinema no jornal "Valor Econômico".

O primeiro a conversar com Labaki na nova temporada de "Cineastas do Real" é o gaúcho Jorge Furtado, 58, que lançou o documentário "Quem É Primavera das Neves" em 2017.

AMBIDESTRO

Como a maior parte dos nomes que participam do programa de entrevistas, Furtado é "ambidestro", no dizer de Labaki. Ou seja, o gaúcho transita entre documentários e filmes de ficção.

Ao longo da entrevista, Furtado reflete sobre os limites éticos durante a preparação de um filme, tema que recebeu atenção constante de Eduardo Coutinho.

Não é por acaso que o cineasta de Porto Alegre considere "Cabra Marcado para Morrer" (1984), de Coutinho, a mais importante produção da história dos documentários brasileiros.

A obra de Coutinho surge –de forma espontânea, na maioria das vezes– entre as referências centrais dos demais nomes da temporada, como Cao Guimarães. O diretor mineiro, de filmes como "A Alma do Osso" (2004), é a atração do terceiro episódio da série de entrevistas.

"Cineastas do Real" terá ainda a participação de cineastas como Zelito Viana, Ugo Giorgetti, Lúcia Murat, Joel Pizzini e Eryk Rocha.

DE VOLTA A 1961

Eduardo Coutinho é ainda uma inspiração para Labaki na produção de um documentário sobre os grandes acontecimentos da política brasileira em 1961.

Labaki tem "Peões" (2004) como um de seus modelos.

Assim como no filme, em que Coutinho entregou o protagonismo a figuras anônimas do movimento sindical do ABC, o jornalista pretende reunir depoimentos de gente pouco conhecida que tenha boas histórias sobre a Campanha da Legalidade, de agosto de 1961.

Liderado por Leonel Brizola, o movimento defendia a posse do então vice-presidente João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros, o que, de fato, acabou acontecendo.

Esse filme é um desejo antigo de Labaki, prestes a completar 55 anos.

Em 1986, ele lançou o livro "1961 - A Crise da Renúncia e a Solução Parlamentarista" pela editora Brasiliense. Àquela altura, já cultivava a vontade de fazer um documentário sobre o período.

"1961 nos ensina que é preciso desconfiar de demagogos que trazem uma solução extra-política para esse grande problema chamado Brasil. O país confiou no Jânio e deu no que deu", diz Labaki.

NA TV
Cineastas do Real
(segunda temporada)
QUANDO quarta (10), às 21h; sábado (13), às 16h30; e terça (16), às 13h30
ONDE Canal Brasil

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