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22/07/2010 - 20h03

Sonoplasta de "Alice" faz público mugir, gritar e roncar no Anima Mundi

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CLARICE CARDOSO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

De cacarejos a quebra de vidro, de roncos a mastigação, o público participou intensamente da Masterclass de Andy Malcolm na manhã de hoje, no 18º Anima Mundi, no Rio.

Com o pretexto de ensinar técnicas de sonoplastia para animadores, o canadense trouxe fitas amassadas, baldes, objetos de plástico e até verduras para mostrar à plateia --lotada-- como é feito o trabalho dos "foley artists", responsáveis por certos efeitos sonoros, como sons de passos, por exemplo, feitos para parecer que foram captados durante as filmagens.

Na animada palestra, que não terá repetição em São Paulo, ele exibiu dois curtas, um "live action" e uma animação, e convocou os presentes a subir ao palco e tentar, eles mesmos, criar os sons que ilustravam cada cena. O envolvimento do público foi positivo.

Malcolm já trabalhou com grandes diretores como Robert Altman, David Cronenberg, Spike Lee, Michael Mann, Robert Redford e Gus Van Sant. Entre seus trabalhos mais recentes, destaca-se o filme "Alice no País das Maravilhas", de Tim Burton.

"Algumas cenas de 'Alice' chegavam a ter 120 camadas de sons. Foi uma produção muito detalhada nesse sentido", disse o artista à Folha enquanto caminhava pelo Jardim Botânico do Rio na segunda-feira.

Divulgação
Cena do filme "Alice no País das Maravilhas", do diretor Tim Burton
Cena do filme "Alice no País das Maravilhas", do diretor Tim Burton

CELEIRO DE SONS

Apesar do vasto currículo, ele não usa nenhum barulho de arquivo quando assume um novo trabalho.

"Faço tudo ao vivo, nada é pré-gravado. Os sons podem parecer iguais, mas, na realidade, não o são. O jeito de andar --o pé levanta ou se arrasta?-- as superfícies, o estado emocional --está andando resignado, arrastando os pés, ou pisa duro, com raiva?--, tudo isso muda."

Para tentar chegar ao som mais fiel possível, ele costuma reproduzir as situações dos longas em seu estúdio, o Footsteps Post-Production Sound Inc., em Toronto, no Canadá. Certa vez, para fazer um filme Imax sobre corridas de carros, construiu uma superfície com motor, colocou um deles sobre ela e captou os sons. Segundo ele, nenhum dos pilotos ou mecânicos que foram à pré-estreia notou a diferença.

Já no caso de "Alice", para a cena em que o Chapeleiro Maluco anda sobre a mesa, ele comprou jogos de chá caríssimos. "Usei porcelana da melhor qualidade, as mais caras que encontrei. Queria o som mais rico possível. Claro que, com isso, quebrei um monte de xícaras no processo", diverte-se.

"O ponto do trabalho do 'follie' é fazer algo que ninguém vai ouvir, que seja transparente. O maior elogio é quando as pessoas acham que os sons foram captados durante a cena e nem imaginam que eu fiz tudo depois."

Para o trabalho, Malcolm tem um celeiro, um trailer e um porão cheio de objetos dos mais variados usados para criar literalmente qualquer tipo de som. Alguns, como parte do que mostrou no Anima Mundi, ele nem sabe para que uso foram originalmente projetados.

Numa conta rápida, são 40 telefones, 500 pares de sapatos e incontáveis superfícies das mais varias madeiras.

"O mais fundamental, quando se vai gravar passos, é entender quem é aquele personagem, em que estado emocional ele está, que tipo de sapatos vestiria e que som ele faria. Soa vago, mas é algo muito específico e importante que, no fim, faz diferença", ensina.

SANGUE E GRACINHAS

Gêneros diferentes, explica Malcolm, trazem, como em todas as etapas de produção, desafios diferentes.

"Comédias não precisam ser tão realistas, você pode forçar um pouquinho. Animações dão muita liberdade, estão naquela zona de fantasia. No resto, cada um traz alguma questão que nos faz quebrar a cabeça. Um desafio recente foi um filme de vampiros em que o cara colocava a vítima de ponta cabeça e lhe dava uma facada. Saía tanto, mas tanto sangue... Como traduzir isso em sons?"

Apesar dos detalhes, a plateia da Masterclass pode ver, boa parte do trabalho consiste em algo divertido de fazer. "Os diretores, os produtores, até os animadores, todos trabalham sentados o tempo todo. Somos os únicos que ficamos literalmente andando para lá e para cá jogando coisas."

A jornalista CLARICE CARDOSO viajou a convite da organização do festival

 

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