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Estátua da Liberdade inspirou novo trabalho de Steve McQueen
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SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Na balsa para Manhattan, Steve McQueen foi fisgado pelo olhar da estátua da Liberdade e sua tocha de cobre fincada no céu de Nova York.
"Foi um disparo na minha cabeça, acendeu uma luz", conta o artista britânico à Folha. "Naquela hora, já tinha umas dúvidas sobre o que quer dizer a ideia de liberdade nesses nossos tempos."
Tempos atrás, a greve de fome de Bobby Sands, ativista do Exército Republicano Irlandês que definhou em protesto contra o governo Thatcher nos anos 1980, foi mote de "Hunger", filme do artista premiado em Cannes.
"Queen and Country" (a rainha e o país), sua série de selos postais em que estampou rostos de soldados britânicos mortos em combate no Iraque, também está impedida de circular até hoje por censura do Royal Mail.
Não estranha que a liberdade tenha virado uma espécie de obsessão visual para o artista, como se tentasse vencer amarras do sistema, transpor o limiar entre a poesia da arte e a prosa do cinema, na obra que leva à próxima Bienal de São Paulo.
"É uma investigação física da liberdade e do monumento erguido em homenagem a essa ideia", diz ele sobre "Static". "Estático porque não se move, é a tentativa de entender como esse objeto se traduz para a realidade."
Nos rodopios de sua câmera em torno da estátua, McQueen funde dois tempos _a crueza morta de um monumento que treme como símbolo vazio e as associações históricas à América que recebeu os "pobres, cansados, as massas amontoadas desejosas de respirar".
Querendo ou não, McQueen lembra as consequências históricas desse chamado. Espécie de fantasma extraquadro, o ataque às Torres Gêmeas sublinha o momento em que a América deixou de querer esses povos e virou uma terra violentada.
Divulgação | ||
Imagem do vídeo que compõe "D'Est", instalação que Chantal Akerman trará a São Paulo |
CALOR E DESTRUIÇÃO
Tem a mesma pegada o filme "Fantasmas de Nabua", do tailandês Apichatpong Weerasethakul. Num retorno ao nordeste do país onde cresceu, o artista lida com a memória de segunda mão. São jovens que querem esquecer o passado violento da vila num jogo de futebol com uma bola pegando fogo.
Em pouco mais de dez minutos, Weerasethakul estoura os limites de suas lembranças sem situar no tempo e no espaço os lances flamejantes da ação que acaba na própria tela em chamas.
"É a ideia de dor e prazer juntos", resume. "Esses personagens passam a ideia de calor, mas ao mesmo tempo representam a destruição, numa tensão perpétua."
Nos aspectos formais tanto desse filme quanto de "Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives", seu filme que venceu o último Festival de Cannes, ensaia uma ode aos mecanismos do cinema.
"É um tributo a essa terra e também aos filmes, gibis e televisão que acompanho desde criança", conta. "Sinto uma necessidade urgente de documentar minhas lembranças, mas, ao mesmpo tempo, de atualizar isso ao contexto contemporâneo."
ROSTOS NO ABISMO
Mas nessa atualização, Weerasethakul passa por Jean-Luc Godard e alguns truques da nouvelle vague.
É a mesma rota e cartilha formal que segue Chantal Akerman em "D'Est", a instalação que mostra na Bienal.
"Quando vi o primeiro filme de Godard, mudei toda minha visão de mundo", lembra Akerman. "Aquilo mudou meu olhar, era a ideia de modernidade em si."
Filha de judeus fugidos da Polônia, ela volta ao Leste Europeu numa investigação de povos e paisagens sem rumo. Busca um coro de vozes dissonantes numa espécie de "música estrangeira" e descobre, no fim, que já tinha na cabeça desde sempre as imagens que encontrou.
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