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03/08/2010 - 08h31

Fábrica copia quadros com técnica que reproduz até fios de cabelo

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SILAS MARTÍ
ENVIADO A PINHAIS (PR)

Numa viagem de negócios, João Rezende foi parar na Coreia. Ficou impressionado com as fabriquetas de móveis que, num só dia, faziam centenas de cadeiras, empilhadas na frente da loja para vender ao cair da tarde.

Catálogo ajuda na luta contra os falsários

"Mesmo naquele fundo de quintal, dava para fazer uma coisa sofisticada", lembra o dono da Recriar. "Tinha coisa dali indo para a Europa."

Ele aprendeu bem a ideia de juntar indústria e ilusão de exclusividade. Faz cinco anos que ele é o homem que copia. De Da Vinci a Portinari, seu negócio é reproduzir grandes clássicos da arte.

"Portinari é hoje 40% do nosso movimento", diz o empresário. "Mas o foco da decoração brasileira está sempre nos abstratos, florais."

Logo na entrada do galpão onde funciona a Recriar, reproduções dos personagens da Turma da Mônica e grandes cartazes publicitários denunciam outras esferas de atuação de sua fábrica.

Mas Rezende confia na lábia de vendedor para convencer decoradores que uma cópia de "O Lavrador de Café" é mais sofisticada que uma natureza-morta ou padrões geométricos genéricos.

Guilherme Pupo/Folhapress
João Rezende, dono da Recriar, com cópia da tela de Portinari
João Rezende, dono da Recriar, com cópia da tela de Portinari

RICO REAL E NOVO RICO

"Consumidor de arte no Brasil ou é rico real ou é novo rico", define o empresário. "Quem compra é classe B e a parte culta da classe C, gente que gosta de Louis Vuitton."

Portinari entrou então como grife nesse panteão de nomes bonitos e cobiçados.

Depois de fechar um acordo com João Cândido Portinari, o filho do artista, Rezende conta que passaram meses tentando imitar as cores originais de todas as telas.

"Tem um azul diferente das escalas de cor que existem", diz Rezende. "O azul Portinari ferrou a gente."

Essa é a cor que aparece nos azulejos da igreja da Pampulha, no céu profundo atrás de seus retirantes, nas paisagens de "Meninos Soltando Pipa", "O Mestiço" e no caixão de "Enterro", tela roubada há duas semanas de um museu em Pernambuco.

Na sala de impressão, funcionários comparam as cores do pano impresso com as da mesma tela num monitor.

Enquanto corrige problemas na obra de outros artistas, o acordo com os Portinari obriga a empresa a ser fiel até às falhas no quadro, como uma parte mofada ou um fio de cabelo grudado na tinta.

"Vem dar uma olhadinha nos pelos do Portinari, checar o DNA dele", provoca Rezende, apontando para o monitor. "Toda essa sujeirinha branca são itens de definição da imagem, eu consigo ver como a tinta se comportou."

Caso tenha se comportado mal, a impressão pode ser interrompida. Uma tela dobrada na mesa de centro da sala, reprodução da azulejaria da Pampulha, foi descartada por não ter o mesmo azul que está no catálogo raisonné, índice geral de obras do artista.

Cópias do catálogo estão espalhadas pela fábrica. Best-sellers do artista, como "O Lavrador de Café", têm provas impressas em versão menor, do tamanho de uma folha de papel. No canto, têm o número de controle da tela, igual ao que está no catálogo.

Rezende alinha todos eles sobre uma mesa para mostrar seu acervo de réplicas. "Esta é a maior mostra de Portinari de todos os tempos", anuncia, orgulhoso.

E, se dependesse dele, Portinari saltaria dos quadros para adereços de mesa, porta-chaves e outros objetos.

Na fábrica, há até testes de telas do artista em suportes de prato, mas a família ainda não liberou a produção.

Talvez por achar que andam levando ao pé da letra demais a frase de Portinari que dizia que "pintura que se desliga do povo não é arte".

 

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