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Fausto de Sanctis faz ficção sobre juiz que se encanta por advogada
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MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
Não há a menor sutileza no disfarce. Em seu primeiro livro de ficção, o juiz federal Fausto Martin de Sanctis narra a descida ao Inferno de um juiz cujo nome tem as mesmas iniciais que as dele: Fernando Montoya Di Sorrento.
Leia o primeiro capítulo do livro de ficção do juiz Fausto de Sanctis
Como De Sanctis, 46, que prendeu banqueiros como Daniel Dantas e Edemar Cid Ferreira, Di Sorrento julga casos que encantam a mídia. Como o juiz de verdade, o juiz de ficção tem uma fé quase religiosa no que chama de busca pela verdade.
Acabam aí, aparentemente, as coincidências. No livro, batizado "Xeque-Mate", o magistrado comete um erro brutal --condena um inocente-- ao se encantar sexualmente por uma advogada envolvida em um crime.
A confusão entre ficção e realidade foi proposital, segundo De Sanctis. "Me seduz a ideia de que as pessoas tomem um livro de ficção como realidade. Eu queria confundir mesmo", disse à Folha.
A confusão, para ele, tem um objetivo: jogar o leitor num mundo desconhecido, o dos dilemas que um magistrado enfrenta ao julgar. "Juiz não é uma máquina perfeita de resolução de casos, não é carimbador nem seguidor de jurisprudências. Queria mostrar um juiz humano, que erra e tenta consertar o erro."
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
O juiz federal Fausto de Sanctis em seu apartamento na Vila Olimpia, em São Paulo |
INCÔMODO
De Sanctis diz que virou escritor por causa de um incômodo --acha que o público não entende a função de juiz-- e de um desafio, feito há dois anos pelo filho Thomaz, hoje com 13 anos.
"Ele perguntou: 'Por que você só escreve livros técnicos e não sobre outras coisas?'", conta o autor de dez livros sobre direito. O juiz quis saber sobre o que poderia escrever. "A vida de um juiz", foi a sugestão do filho.
O incômodo com a função tem uma relação óbvia com as polêmicas com que o juiz se envolve. A mais célebre foi a disputa em 2008 com o ministro Gilmar Mendes, então presidente do Supremo Tribunal Federal, na Operação Satiagraha.
Mendes mandou soltar Daniel Dantas e, dez horas depois, De Sanctis ordenou uma nova prisão. Mendes liberou Dantas pela segunda vez e disse que o juiz havia afrontado o Supremo.
Toda essa reputação não teve qualquer serventia na aventura literária. De Sanctis diz saber que lhe falta traquejo literário: "Tive dificuldades para escrever diálogos e, às vezes, parece que há um personagem só no livro. Não me sinto sofisticado. É o meu calcanhar de aquiles".
Apesar da autocrítica, seu livro recebeu elogios do escritor Moacyr Scliar e do cineasta Fernando Meirelles.
De Sanctis não é um leitor contumaz. Só lembra de dois títulos ficcionais que leu neste ano: "Memórias das Minhas Putas Tristes", de García Márquez ("não gostei"), e "Crime e Castigo", de Dostoiévski --"genial".
Sua maior influência, afirma, é Machado de Assis (1839-1908). "Sabe aquelas interrupções de narrativa de 'Memórias Póstumas'? Tentei fazer isso no livro."
A falta de paciência é grande problema, diz. "Não tenho paciência para reescrever. É um erro meu. Sinto como se fosse uma perda de tempo."
Foi com esse espírito de não reescrever que De Sanctis acabou seu quarto livro. "Xeque-Mate" é o primeiro de uma trilogia sobre a Justiça; o último, "O Mundo de Mokatan", é ficção científica.
Ah, o erro do juiz provocado pela obsessão sexual não tem nada de autobiográfico, segundo ele. Pergunto se já cometeu erros como o do livro. "Não. Não que eu saiba."
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