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21/12/2010 - 07h23

Eduardo Coutinho faz audição para novo projeto no Rio

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ROBERTO KAZ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Às 10h de uma quarta-feira recente, Laura Liuzzi, produtora do cineasta Eduardo Coutinho, chegou ao largo da Carioca, no centro do Rio.

Entrevistados escolhem Roberto Carlos e Beto Guedes

Ergueu uma placa escrita à mão em que se lia: "Alguma música já marcou a sua vida? Cante e conte sua história!".

Foi abordada por Roberval Uzeda, 45, funcionário público, que anunciou: "Olha aí, eu tenho uma pra contar. Eu era gago, e o Roberto Carlos me tirou da gagueira. Salvou a minha vida, brother!".

O homem olhou para a câmera e cantarolou uma estrofe de "Como É Grande o Meu Amor por Você". Explicou: "Cantei isso pra minha negona, deixei de gaguejar e ganhei a mina. Hoje, quando a gente se encontra, é o maior 'love'. É pra televisão?".

Não era. Uzeda acabava de se juntar a cerca de 110 pessoas que haviam colocado seus dotes vocais a serviço do cineasta Eduardo Coutinho.

Da lista, em fase de produção, serão aproveitados 50 personagens para o próximo filme do diretor --ainda sem título--, em que as pessoas devem falar sobre músicas que marcaram suas vidas.

A produção, contou Coutinho, começou um mês atrás: "Resolvi fazer o filme mais simples que podia imaginar. Tão simples que é incrível que ninguém tenha feito".

A produtora Laura Liuzzi passou, então, a publicar mensagens na internet, convocando voluntários. Ela diz que a iniciativa foi infrutífera: "As pessoas mandavam a história por escrito, sem cantar". Decidiu anunciar nos classificados. "Também não fez tanta diferença", contou. Restou ir às ruas, acompanhada do câmera João Maia.

Daniel Ramalho/Folhapress
O cineasta Eduardo Coutinho em seu escritório, no Rio de Janeiro; ele diz gostar de Bob Dylan, embora não ouça música 'desde que inventaram o CD
Eduardo Coutinho, que diz gostar de Bob Dylan, mas não ouvir música desde a invenção do CD, no Rio de Janeiro

ANIMAL ARISCO

Naquela quarta-feira nublada, Laura entrevistou oito pessoas no centro. Uma delas foi Jurandy Wenceslau de Castro, 51, camelô. "A música que me marcou é 'Fera Ferida'. Acredito que seja do Roberto Carlos", contou.

Após cantar uma estrofe ("Mas saí ferido, sufocando o meu gemido. Fui o alvo perfeito, muitas vezes no peito atingido"), Castro explicou a importância da canção: "Eu tinha um casamento com uma pessoa. Quando a nossa filha tinha quatro anos, descobri que não era minha. Surtei, Fui morar na rua".

Ele contou que a depressão persistiu até o dia em que ouviu um playback de "Fera Ferida". "Acho que foi por causa daquela parte que diz: 'Animal arisco, domesticado esquece o risco'. A partir daí, comecei a catar latinha. Hoje sou casado de novo e tenho uma menina de três anos".

Seguiu-se um intervalo até que Renato Pantaleão de Lima, 32, vendedor de guarda-chuva, viu a placa. Animou-se: "Uma música que marcou a minha vida? Falo já!". Cantou "Ideologia", de Cazuza: "Essa me marcou por causa do sistema, da manipulação do governo. A minha ideologia é a dignidade". Ao despedir-se, inquiriu: "Ninguém vai levar uma sombrinha?". Vendeu três.

No fim da manhã, a equipe foi abordada pelo pastor Nazarene Ribeiro de Paula, 56, da Igreja Batista. Com pompa epistolar, ele contou sua história: "Quando eu tinha 14 anos e era muito pobre, um garoto, o Baltazar, me disse que eu não seria nada na vida. Olhei para o céu e falei: 'Meu Deus, será que é isso?'. E recebi o abraço de Deus".

Nazarene prosseguiu: "Hoje já preguei dentro do Palácio da Justiça, já jantei com presidente da República. Papai do Céu me fez autoridade". O pastor contou ter ido visitar Baltazar alguns anos atrás, para perdoá-lo. "Sabe o que descobri? Que ele havia se matado com dois tiros na cabeça."

"E alguma música te marcou?", perguntou Laura.

"Ah, marcou. Aquela da Damares, que diz: 'Minha vitória hoje tem sabor de mel'."

 

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