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11/02/2011 - 07h26

Sem Panahi, Berlim vive debate sobre liberdade de expressão

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ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

O júri da 61ª Berlinale dará início a seus trabalhos hoje com uma cadeira vazia. O lugar onde deveria sentar-se Jafar Panahi, 50, permanecerá vago em sinal de protesto.

Leia a íntegra de carta de Jafar Panahi a autoridades iranianas

Convidado a integrar o júri, o cineasta não pôde vir a Berlim porque está na cadeia. Condenado a seis anos de prisão e proibido de filmar por 20 anos, Panahi tornou-se símbolo da arte que o presidente Mahmoud Ahmadinejad tem tentado calar.

Seus problemas com o governo remontam a junho de 2009 quando, após criticar o assassinato de jovens que protestaram contra a eleição de Ahmadinejad, foi preso, acusado de conluio.

Depois de algumas semanas, foi libertado, mas teve o passaporte apreendido.

O cineasta, que é partidário do movimento verde, opositor do regime, voltaria à cadeia em fevereiro de 2010, sob a acusação de estar fazendo um filme sem autorização do governo.

Em dezembro de 2010, veio a condenação por "propaganda contra o governo".

Atta Kenare/AFP
Jafar Panahi em Teerã, em agosto do ano passado
O cineasta iraniano Jafar Panahi, que não pode comparecer ao Festival de Berlim, em Teerã, em agosto de 2010

ARTE E CENSURA

Em Berlim, o aniversário da Revolução Islâmica, ocorrida em 11 de fevereiro de 1979, será lembrado com a exibição, em sessão nobre, de "Fora do Jogo" (2006), último longa de Panahi.

No decorrer do festival, todos os seus filmes serão projetados, sempre precedidos de um discurso.

Para dar mais força à retrospectiva, o festival sediará, na próxima semana, um debate destinado a discutir arte e censura.

"Quando um artista é proibido de se expressar, temos o dever de falar alto", diz Matthijs Knol, responsável pelo painel. Quatro iranianos farão parte do debate. São exilados, uma vez que quem lá vive tem de passar por uma via-crucis para conseguir o visto de saída do país.

"Ele foi punido de maneira rígida porque é famoso", diz o cineasta Ali Samadi Ahadi, nascido no Irã e há 25 anos residente na Alemanha. "Queremos mostrar que não vamos ficar acuados."

ATMOSFERA DE MEDO

Outros iranianos são esperados no festival. Asghar Farhadi está na competição com "Nader e Simin, uma Separação". Farhardi enfrentou problemas nas filmagens por ter manifestar apoio a Panahi.

A Folha tentou contato com dois diretores que virão a Berlim com um curta e um documentário. Mas ambos vivem à sombra, em clima de medo.

"Tentei começar um documentário no Irã há três anos", conta Ahadi. "Era impossível. Desisti."

Se isso acontece é porque Ahmadinejad prega que a arte deve servir à revolução, mas também porque o cinema tornou-se um importante instrumento de tomada de consciência social.

NEORREALISMO

Dono de uma estética próxima do neorrealismo italiano, Panahi começou a ganhar fama no Ocidente em 1995, ano em que seu primeiro longa, "O Balão Branco", saiu de Cannes com a Câmera de Ouro.

Cinco anos depois, ele ganharia o Leão de Ouro, em Veneza, com "O Círculo", uma crítica à opressão contra as mulheres.

Na carta de defesa enviada à Justiça, fez questão de lembrar que, ironicamente, o espaço dedicado a seus prêmios internacionais no museu de cinema de Teerã é maior que a cela que passou a habitar.

"Apesar dos maus-tratos que ultimamente tenho sofrido de meu próprio país, sou iraniano e quero viver e trabalhar no Irã", escreveu o diretor que, até hoje, não teve nenhum de seus cinco longas lançados no próprio país.

 

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