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Quadrinista Allan Sieber escracha em novo "talk show"
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LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DE SÃO PAULO
Gago, com português sofrível e antissocial. Ainda assim, o quadrinista Allan Sieber resolveu embarcar na produção de um "talk show".
"Na verdade é um personagem. Sou eu uns dois tons acima -ou abaixo. É alguém mais grosso do que sou habitualmente", explica o autor das tiras "Bifaland" e "Preto no Branco", ambas publicadas pela Ilustrada.
"Trash Hour" estreia amanhã à 0h, no Canal Brasil, com a proposta de mostrar pessoas ordinárias com histórias extraordinárias.
Ao lado de personagens inusitadas, mas reais, como a camareira de motel evangélica, Sieber e o diretor Fabiano Maciel colocaram na lista entrevistados inventados, como Marlon e Mairon, dupla caipira esquizofrênica formada por um homem só, e uma ex-freira que é ex-lésbica.
Gravada no próprio estúdio do desenhista, a série tem 13 episódios de 12 minutos de duração e é a primeira incursão de Sieber diante das câmeras -afora algumas participações em filmes de alguns "incautos", como ele define.
"Em 'Trash Hour', senti um certo desconforto, porque tenho uma autocrítica que beira a psicopatia, uma insegurança abissal que me trava um pouco. Mas ajudou ter gravado na minha cadeira, com gente que já conhecia."
Marlene Bergamo - 9.mar.11/Folhapress | ||
O quadrinista Allan Sieber, que lança novo talk show |
FORMATO GASTO
Segundo ele, o modelo mais curto funciona bem na grade do canal e "não fica uma encheção de linguiça".
Afinal, ele diz, o formato de programa de entrevistas é "megaultragasto". "Hoje em dia todo mundo quer vender seu peixe, sua peça, seu livro, seu filme. Nossa intenção é discordar das pessoas. Chega de afagos de ego. Vou ter bem menos amigos depois de o programa estrear."
Seguindo apenas um esboço de roteiro, ele diz que "ia conhecendo as pessoas conforme as perguntas fluíam".
Na estreia, o convidado é o artista plástico Cabelo, também definido como "171".
A conversa vai bem até que começa a explicar o conceito de sua arte. É quando entram no episódio algumas intervenções gráficas, com balões de pensamento iguais aos dos quadrinhos, onde se lê: "Não estou entendendo nada".
Em seguida, o apresentador chama a Mulher Audiência. Interpretada por Thatiana Moraes e com figurino diminuto, ela reclama do "patrão", cobra seu salário no ar e compreende ainda menos do discurso de Cabelo. "Tudo isso é apenas uma desculpa para mostrar a Thatiana. Ela me xinga e é quem manda em mim e no programa", diz.
SOPRO
Para Paulo Mendonça, diretor do Canal Brasil, Sieber "é um sopro de irreverência na TV". "Está tudo muito certinho, é bom ter um tom politicamente incorreto."
O gaúcho já é velho conhecido do Canal Brasil, para o qual havia feito algumas animações. No "Retalhão", com Zéu Britto, o personagem Negão BolaOito estrela um "talk show", esquete que é repetido no novo programa.
"Trash Hour" tem outros quadros em animação, como "5 Coisas que Eu Odeio" -em que Sieber explora seus desgostos em diversas áreas- ou "Faça Você Mesmo", com dicas de como ganhar dinheiro "fácil" e sem sair de casa.
"Trash Hour" é ácido desde a abertura, com leitura de trechos de livros de autoajuda -"tão horríveis que não preciso comentar; abrindo em qualquer página, aleatoriamente, fica ridículo"- até as cartas, também fruto da imaginação de Allan Sieber e Fabiano Maciel.
Entre os problemas apontados pelos espectadores fictícios, está um cigarro sempre presente na tela.
É o próprio Sieber, que aparece fumando e bebendo o tempo todo. "Eu nem conseguiria ficar sem fumar, mas a ideia era que não tivéssemos amarras nem veto a nada, por isso resolvemos botar a própria crítica no ar", explica. "Hoje o politicamente correto virou uma epidemia."
NA TV
Trash Hour
"Talk show" em 13 episódios
QUANDO estreia à 0h de segunda para terça, no Canal Brasil
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