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Peça de David Mamet revela mundo "labiríntico" em SP
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GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO
No conto "O Jardim de Veredas que se Bifurcam", Jorge Luis Borges compara uma obra literária a um labirinto. Segundo ele, ambos são formados por jardins que se dividem em diversos caminhos.
Alvise Camozzi toma emprestada a metáfora do escritor e poeta argentino para explicar "O Bosque", peça de David Mamet inédita no Brasil, que estreia hoje com sua direção: "Esse espetáculo é um jardim de bifurcações. Quero que o público se perca e que cada espectador escolha o seu próprio percurso".
"O Bosque" é essencialmente onírica. Passa longe da linguagem naturalista que consagrou Mamet como um dos maiores dramaturgos e roteiristas norte-americanos da atualidade.
O texto é nebuloso, inconclusivo e aberto à interpretação do público.
Retrata o encontro de um casal jovem em uma casa situada numa floresta, em frente a um lago.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Atores Bruno Kott (esq) e Cristine Péron encenam a peça "O Bosque", de David Mamet |
Eles desempenham ações banais de qualquer relação afetiva. Conversam, se beijam e até brigam. Sob a aparente normalidade, Mamet cria uma atmosfera de mistério.
Os diálogos curtos, truncados e repletos de silêncios não estabelecem comunicação. Os personagens parecem desconectados da realidade. Desconfiam da própria memória e têm dificuldade de relembrar histórias de infância.
"Nesse texto criado em início de carreira, numa fase de experimentação radical, Mamet dialoga com Harold Pinter e Samuel Beckett, seus mestres. O absurdo emerge de maneira violenta, e a falta de memória se torna a própria incapacidade de existir", explica Camozzi.
O diretor acentua o clima enigmático por meio de uma encenação em que o palco se torna progressivamente mais escuro --e obscuro.
Na última cena, a personagem mulher se transforma em um vulto que percorre com dificuldade uma das instalações presentes no palco, formada por almofadas brancas sobrepostas, as quais parecem corpos amontoados e evocam o lago.
A instabilidade instaura no teatro um clima de tensão. "Tento desnortear o espectador para que ele saia da peça revendo sua relação com o mundo, que está em decomposição", conclui o diretor.
O Bosque
ONDE CCBB (rua Álvares Penteado, 112; tel. 0/xx/11/3113-3651)
QUANDO terças, quartas e quintas, às 19h30; de hoje até 27/10
QUANTO R$ 6
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