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Teatro Bolshoi em Moscou reencontra grandeza imperial
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DA FRANCE PRESS, EM MOSCOU
A foice e o martelo desapareceram da cortina, os brasões dos czares foram restaurados nas tapeçarias e douraduras da sala que retornou à forma antiga, com a ajuda do branco da clara de ovo e da vodka: o Bolshoi reencontrou sua grandeza imperial após um gigantesco trabalho de renovação.
"Nós entramos hoje num teatro imperial, não mais naquele da época soviética" onde Stalin pronunciava seus discursos, onde foi anunciada a morte de Lênin e adotada a primeira Constituição soviética, comentou Mikhaïl Sidorov, representante da empresa Summa, encarregada dos trabalhos desde 2009.
Após seis anos de reformas, com um custo oficial de 21 bilhões de rublos (cerca de 500 milhões de euros), o teatro Bolshoi, glória da cultura russa sob todos os regimes, desde sua fundação, em 1780, vai reabrir novamente suas portas no dia 28 de outubro.
O teatro viu dobrar sua superfície, passando a ter equipamentos ultramodernos, mas os restauradores estão orgulhosos, principalmente, por terem conseguido dar a ele o aspecto dos tempos de esplendor, após sua renovação pelo arquiteto russo-italiano Albert Cavos em 1856, após um incêndio.
"Conservamos tudo o que pudemos do século XIX", assegurou Mikhaïl Sidorov.
Natalia Kolesnikova/France Press | ||
Alunas do Bolshoi |
Após a Revolução bolchevique de 1917, os comunistas se livraram de todas as referências czaristas do Bolshoi: Nas tapeçarias do foyer imperial, os brasões czaristas com a águia bicéfala foram cobertos de globos terrestres ou de liras.
O salão e a suíte, onde passeava a família imperial, durante os entreatos, foram rebatizados, então, de sala Beethoven. Aí eram organizados concertos de música de câmara ou pior, reuniões do Partido Comunista.
"Os velhos atores lembram-se que aí foi debatida a sorte de Galina Vichnevskaïa", uma soprano e esposa do músico Mstislav Rostropovitch, contou Sidorov. O casal foi obrigado a se exilar nos anos 1970 após ter defendido e hospedado em sua casa o escritor dissidente Alexandre Soljenitsyne.
Foram precisos três anos para tecer à mão a seda vermelha que cobre as paredes do salão que reeencontrou, hoje, a denominação de foyer imperial e a decoração recebida para festejar a coroação do czar Nicolau II, no final do século XIX.
A preocupação de preservar a acústica também passou a segundo plano na época soviética.
NOITES EM CLARO
"As douraduras eram limpas com panos molhados em vez de pincéis de pele de esquilo", se indigna Sidorov. Para reparar os desgates, foi preciso mobilizar 156 restauradores, explicou.
"A base foi feita com claras de ovos que deviam ser deixadas aí por 40 dias. Nessa etapa dos trabalhos, o odor aqui era terrível", contou Mikhaïl Sidorov.
Após depositar sete camadas de douraduras, os restauradores as limpavam com vodka e poliam o conjunto com caudas de esquilos", precisou.
Os trabalhos de renovação do Bolshoi também tiveram como objetivo restabelecer a acústica inicial do prédio, deteriorado pela construção do metrô nos anos 1930 que mergulhou em cimento o subsolo do grande salão e da orquestra.
"No século XIX, o Bolshoi era o número um mundial em termos de acústica. No século XX, foi para o 55° lugar", explicou Sidorov.
Segundo ele, mais de 1.000 especialistas foram ouvidos para a escolha dos materiais necessários à renovação, aí compreendidos o tecido para as poltronas, cujo número foi reduzido para 1.740, contra 2.100 no antigo prédio.
"Os trabalhos realizados no Bolshoi não têm precedentes. O prédio corria, inclusive, o risco de desabar. Em geral, num caso parecido, as pessoas não renovam, preferem demolir", resumiu o representante do mestre de obras.
O diretor geral do teatro, Anatoli Iksanov, confessou ter passado algumas noites em claro: "tive mais medo quando foram deslocadas paredes que datam de 1825. Foi só quando me disseram que a inclinação era inferior a 2 milímetros que voltei a dormir".
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