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12/06/2012 - 06h00

'Precisamos abrir o TED para o mundo', diz diretora de ciclo de palestras

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LUCAS SAMPAIO
DE SÃO PAULO

Kelly Stoetzel, diretora de conteúdo do TED, está em uma maratona desde abril. São Paulo é 13ª cidade que ela visita em pouco menos de dois meses.

Quarta-feira ela viaja para Amsterdã, onde participará do último evento preparatório para o TED 2013, que será realizado entre feveireiro e março do ano que vem, em Long Beach, Califórnia.

Ela está rodando o mundo para organizar o maior de todos os TEDs, que contará com talentos encontrados nas 14 cidades em que houveram eventos preparatórios. Kelly esteve presente em todos eles.

Criado em 1984, o ciclo de palestras é conhecido por suas apresentações rápidas, disponíveis na internet. Entre os que já participaram do evento estão Bill Gates, Bono e Bill Clinton.

Eduardo Knapp/Folhapress
Kelly Stoetzel, diretora de conteúdo do TED; São Paulo recebe o 1º evento oficial da América Latina nesta terça
Kelly Stoetzel, diretora de conteúdo do TED; São Paulo recebe o 1º evento oficial da América Latina nesta terça

Na entrevista exclusiva concedida à Folha horas depois de desembarcar no Brasil, Stoetzel faz um balanço das 12 cidades pelas quais já passou, fala sobre a sua expectativa para o evento no Brasil e dá a entender que esta pode ser a primeira e última vez que o TED vai a tantas cidades diferentes em tão pouco tempo.

Ela revela que, não fosse um brasileiro mundialmente famoso, talvez ela nem sequer fizesse parte do TED hoje.

Confira abaixo a entrevista na íntegra.

*

Folha - É a primeira vez que há um evento oficial do TED aqui no Brasil e também na América Latina. Por que vocês escolheram o Brasil e por que São Paulo?

Kelly Stoetzel - Em parte porque estamos empolgados com várias coisas que têm acontecido aqui no Brasil. Nossa parceria com os organizadores de TEDx em cada uma das cidades também contribuiu. O Rodrigo [Vieira da Cunha, embaixador sênior do TEDx para a América Latina e organizador do evento oficial em São Paulo] é um parceiro muito bem-sucedido nos eventos TEDx aqui em São Paulo.

Como foi esse trabalho com os TEDx aqui e nas outras cidades?

Tem sido uma verdadeira colaboração. Nós conversamos sobre os palestrantes e eles produzem o evento por conta própria.

Qual é a sua expectativa para São Paulo?

Eu acho que temos um programa forte para amanhã [hoje].

Você viu as inscrições e as apresentações brasileiras? Há algum talento especial?

Nós temos uma equipe trabalhando na organização deste evento. Eu estava viajando pelas outras cidades.

Você esteve em todas as 12 cidades até agora?

Sim, eu estou viajando desde abril. Passou muito rápido.

É a sua primeira vez no Brasil?

Primeira vez, acredita? Eu gostaria de poder ficar mais tempo. Mas quarta-feira já iremos para Amsterdã, para realizar o evento na última das cidades.

Qual é a sua avaliação das 12 cidades pelas quais você já passou? Como está sendo essa busca por novos talentos?

Tem sido incrível. Tem sido realmente um sucesso. Em todas as cidades eu me sinto confiante o suficiente para dizer que encontramos palestrantes para o palco principal e para o site também.

Na lista das 14 cidades escolhidas, há várias de países em desenvolvimento --não só de países desenvolvidos. É uma mudança de mentalidade, de que há muito para aprender e compartilhar com estes países?

Para nós, foi apenas uma questão de ir ao máximo de regiões possíveis. Gostaria de ir a mais cidades, mas nós simplesmente não temos tempo.

Em cada cidade que fomos, vimos semelhanças incríveis entre os palestrantes e o que eles pensam, mas também algumas diferenças. Diferenças no sentido que cada cidade tem uma coisa só dela, que é importante.

Por exemplo: nós estivemos em Túnis, na Tunísia. É um país que acabou de passar por uma revolução, então há muita inovação acontecendo lá. Foi um lugar especial, porque tinha acabado de acontecer uma revolução.

Você acha que os problemas e as soluções nessas 14 cidades são os mesmos? Ou há detalhes únicos em cada uma delas que acabam contribuindo para resolver problemas das outras?

Todo lugar tem problemas que são únicos e problemas que são similares aos de outras cidades. Às vezes você assiste cinco ou seis palestras e a solução para um problema é a combinação de tópicos que aparentemente não se conversam, como a formação de uma teia de aranha e o padrão de tráfego de uma cidade. Desse cruzamento surge uma ideia.

Como foi a seleção das cidades?

Nós olhamos para o mapa e espalhamos o máximo possível, de uma forma que encontrássemos parceiros TEDx que pudessem organizar os eventos. Também levamos em consideração lugares interessantes, que pudessem trazer palestrantes diferentes.

Esses eventos preparatórios vão fazer do TED 2013 o melhor que vocês já fizeram?

Eu acho que sim. Eu espero que sim. Nós encontramos pessoas que não descobriríamos de outra forma. Eu desejo que a gente consiga trazer surpresas especiais para o evento do ano que vem para o palco principal.

Por que vocês decidiram fazer esses eventos preparatórios para o TED 2013?

Uma das grandes razões pela qual decidimos fazer essa busca por talentos este ano foi porque precisamos abrir o palco para o resto do mundo, para que tenhamos palestrantes do mundo inteiro em Long Beach [Califórnia, onde será realizado o TED 2013].

Nós não pensamos em nós mesmos como uma organização dos Estados Unidos. Nós nos vemos como uma organização global.

Quando começamos com o programa TEDx, a ideia era abrir o TED para que pessoas de todo o mundo pudessem fazer eventos como o TED.

O que vimos surpreendeu nossa previsão mais otimista. Pessoas de todo o mundo fizeram programas impressionantes e encontraram palestrantes incríveis. Nós ficamos muito empolgados.

Existem quantos TEDx no mundo hoje?

Há sete ou oito acontecendo todos os dias em algum lugar do mundo. É uma loucura. Mais de 3 mil por ano. Alguns são eventos pequenos, mensais, em cafeterias; outros são imensos, para 2 mil pessoas, com uma produção imensa.

Quantas inscrições vocês receberam do Brasil?

Nós não divulgamos por cidade. Nós apenas dizemos que tivemos 2 mil inscrições na soma de todas as cidades.

O primeiro evento TEDx aqui em São Paulo foi em 2009. Atualmente, há 50 licenças ativas no país para organizar eventos em várias cidades. Você acha que demorou para fazer um evento oficial por aqui ou é o momento certo para fazê-lo?

Nós geralmente não fazemos eventos pelo mundo. Nós temos apenas dois eventos anuais: o TED em Long Beach e o TED global, que é realizado no Reino Unido. Era em Oxford antes, agora é em Edimburgo.

Nós somos uma equipe enxuta e não conseguimos fazer grandes eventos em todos os lugares. É a primeira vez que estamos fazendo um evento em várias cidades ao mesmo tempo. Exceto por Nova York, Londres e Bangalore, nunca fizemos um evento nas demais cidades escolhidas.

Desse porte, é a primeira vez?

Nós nunca fizemos nada como este antes. No ano passado, tivemos a inspiração do que seria o evento deste ano. Nós fizemos audições em Nova York para buscar talentos para se apresentarem no TED. Foi muito mais bem sucedido do que pensamos que poderia ser.

Nós queríamos um palestrante para o palco principal e acabamos com quatro palestrantes para o palco principal e outros três para o site. Aí nós pensamos: "Isso realmente funcionou. Vamos fazer no mundo inteiro."

A fórmula descentralizada do TED, com os TEDx, funciona? Vocês conseguem se espalhar por mais lugares e países do que se tivessem um esquema centralizado?

Nós precisaríamos de uma equipe imensa para conseguir a mesma coisa. Nós não conseguimos fazer mais eventos do que já fazemos. Somos limitados.

Por outro lado, nós não precisamos fazer mais eventos. Pessoas como o Rodrigo [organizador do TED em São Paulo] fazem eventos incríveis.

É possível dizer que conceito dos TEDx é um sucesso?

Coisas interessantes acontecem nos TEDx que nós nunca imaginamos. Nunca sonhamos que os TEDx se tornariam tudo isso.

Hoje nós é que aprendemos dos organizadores dos TEDx. A comunidade TEDx expande o conhecimento.

Como você passou a fazer parte da organização?

Eu vim do mundo artístico e já estou há 8 anos na organização. Eu ia ao TED há muitos anos. Catorze, talvez.

Eu acompanhava o meu pai, que assistia às palestras todos os anos. O evento começou em 1984 e meu pai vai ao evento desde 1987 ou 1988.

Quando o Chris comprou o TED --há um laço brasileiro interessante nessa história--, eu estava saindo do mundo artístico. Eu recomendei o Vik Muniz ao Chris, para ele fazer uma apresentação no TED. Foi minha primeira recomendação. Acredito que tenha sido em 2003. Em 2004, Vik foi convidado de novo.

Quando Chris disse que estava se mudando para Nova York por causa do TED, perguntei a ele sobre a equipe. Acabei largando meu emprego. Consegui a vaga porque o Vik deu muito certo, foi um grande sucesso.

Você começou em qual cargo?

Comecei com o mesmo cargo que tenho hoje, diretora de conteúdo. Mas quando eu comecei éramos apenas alguns e eu fiz muitas coisas diferentes. Trabalhávamos no apartamento do Chris.

É um grande crescimento da casa do Chris para o que o TED representa hoje, não?

É empolgante de ver. Há muita mudança, o tempo todo, e eu fico muito feliz de ver todas as mudanças pelas quais o TED tem passado. Seria assustador para mim dizer que estamos nos transformando em uma corporação.

Ainda há esse incrível, fantástico e dinâmico sentimento de ação, de você fazer as coisas e ver elas acontecendo de verdade. Todo mundo que trabalha lá ama de verdade o que faz e é realmente apaixonado pelo seu trabalho. Isso é algo que nunca vai mudar.

Às vezes temos desafios, como falta de espaço para trabalhar, mas adoro trabalhar com isso.

Há alguma pergunta que eu deveria ter feito e não fiz?

Boa pergunta. Talvez o projeto de tradução. Ele é incrível. Nós começamos com um projeto aberto de tradução porque queríamos que as ideias alcançassem mais pessoas.

Nós temos um grupo incrível de tradutores das palestras do TED em várias línguas. Estamos alcançando muito mais pessoas porque os eventos TEDx são traduzidos para idiomas nos quais eles não foram apresentados. Tudo graças a um exército incrível de voluntários.

Quais palestras são traduzidas e em qual língua? São os tradutores que escolhem?

Os voluntários traduzem qualquer apresentação que eles quiserem em sua própria língua. Você pode ir ao site e ver quais apresentações estão na sua língua.

Tem sido incrível ver o TED espalhar por todo o mundo. Nós nunca fizemos marketing ou nada do tipo.Quando as apresentações vão para a internet, atingem muito mais pessoas.

A fórmula das 14 cidades foi um sucesso?

Sim, com certeza.

E vocês pretendem repeti-la no ano que vem?

É difícil fazê-la da mesma forma que foi este ano, embora tenha sido muito bem sucedida. Ainda não tivemos tempo de sentar e avaliar a edição deste ano.

Mas eu certamente preciso viajar mais por todo o mundo, ir a mais eventos TEDx, me conectar aos organizadores.

É possível fazer algo similar, pelo menos? Com algumas adaptações?

Talvez. Nós só fomos de cidade em cidade desde que começou, há dois meses. Ainda não tivemos tempo de pensar em tudo o que tem acontecido. Falta sentar e conversar sobre tudo isso.

Alguma ideia de como pode vir a ser?

Definitivamente pode ser algo mais engajado com os eventos TEDx em todo o mundo. Talvez fazer em menos cidades.

 

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