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Análise: Google deveria ser o alvo principal da ação da Apple
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LULI RADFAHRER
COLUNISTA DA FOLHA
Por que a Apple não processa o Google? A pergunta incomoda. Android, o mais popular sistema operacional móvel hoje, não foi desenvolvido pela HTC, pela Samsung ou por qualquer outro fabricante de celulares.
Para atacar a raiz do problema de supostos plágios, o alvo principal da Apple deveria ser o fornecedor do sistema operacional cuja interface é tão similar à do iPhone. Mas, como em toda guerra, a estratégia não costuma ser fácil. Nem direta.
O gigante da busca, que comprou recentemente a divisão de celulares da Motorola e que vem crescendo furiosamente com suas operações de computação móvel, não é um adversário fraco.
Suas tecnologias são tão importantes em áreas como busca, e-mail e GPS que abrir mão delas significaria sacrificar a qualidade do iPhone.
Sem contar que é muito mais fácil colocar a culpa em um fabricante de aparelhos, que gera lucros diretos a partir de suas transações, do que responsabilizar uma empresa que distribui gratuitamente seu sistema operacional, já que sua principal fonte de recursos é gerada de forma indireta, através de inteligência de mercado e publicidade contextual.
Plágios e referências diversas são mais ou menos comuns em indústrias de ponta, raramente sendo levados a disputas judiciais de tal porte e intensidade.
A intensidade de uma disputa como essa deve-se à importância que tem um sistema operacional na criação de um ecossistema econômico que dita as regras e controla as relações entre seus participantes.
Como bem demonstrado por Microsoft, Facebook e Apple, quanto mais abrangente e popular for a plataforma, mais lucrativa ela tende a ser.
A Apple tem razão ao vencer a disputa jurídica. O sistema usado pela Samsung é tão parecido com o do iPhone que qualquer leigo pode confundi-los com uma simples olhada em suas telas iniciais.
Patentes à parte, essa batalha teria sido evitada se houvesse maior investimento das empresas em pesquisas de design de interação.
Desde que surgiu, o iPhone se popularizou por ser um produto completamente diferente de seus predecessores, uma invenção muito maior do que uma simples cópia modificada dos aparelhos populares na época, como o Nokia N95.
A Samsung deveria ter feito o mesmo, já que, na condição de vice-líder da categoria, tinha muito tempo e bastante dinheiro para isso.
Não o fez e, ao seguir o caminho mais fácil, acabou perdendo a disputa.
Por mais que seja justa, a decisão final é ruim para o consumidor.
Ela reduz as opções de escolha e gera uma concentração de mercado que tende a aumentar preços e retardar a inovação.
Mas é, de qualquer forma, uma boa lembrança da fragilidade e da efemeridade do plágio.
LULI RADFAHRER é colunista da Folha e professor da ECA- USP, autor do livro "Enciclopédia da Nuvem: Cem Oportunidades e 550 Ferramentas On-line para Inspirar e Expandir Seus Negócios" (Campus).
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