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08/04/2013 - 03h00

Crise entre cargueiros afeta bancos europeus

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JACK EWING
DO "NEW YORK TIMES"

FRANKFURT -- Pode um navio flutuar e ao mesmo tempo estar "debaixo d'água"? Se ele foi financiado por um banco europeu, a resposta pode ser "sim". O excesso de navios e a fraca demanda pelo transporte de cargas, em função da economia global debilitada, reduziram o valor dos navios cargueiros.

De acordo com estimativas, é possível que até metade dos cargueiros hoje em operação esteja valendo menos que a dívida que carrega. No jargão financeiro, esses cargueiros estão com "negative equity", ou seja, valem menos do que a dívida contraída para pagar por eles.

Navios grandes, que, em 2008, poderiam ter sido vendidos por US$ 150 milhões, hoje valem cerca de US$ 40 milhões, segundo Nicholas Tsevdos, especialista em transporte marítimo de cargas na CR Investment Management, que ajuda os bancos a lidarem com ativos em difícil situação. Com o preço do serviço de transporte marítimo tendo chegado a patamares extremamente baixos, muitos cargueiros não estão ganhando o suficiente para pagar as prestações de suas dívidas.

A situação dos transportes marítimos de carga deve-se ao boom dos estaleiros, que chegou ao pico em 2008, logo antes da crise financeira, o que resultou num excedente de capacidade.

O mundo financeiro dos transportes de carga é indicativo de quanta faxina os bancos da região ainda têm por fazer. O receio é que alguns credores, quase todos na Europa, ainda não tenham encarado os potenciais prejuízos decorrentes dos estimados US$ 350 bilhões em empréstimos feitos ao setor.

É difícil saber se o risco dos empréstimos tomados pelo setor é grave o suficiente para prejudicar o sistema financeiro da zona do euro, devido à falta de informações detalhadas sobre os portfólios de crédito concedido pelos bancos aos transportes marítimos de carga.

Andreas R. Dombret, membro responsável por monitorar a estabilidade financeira no conselho executivo do alemão Bundesbank, acredita que a crise no setor dos transportes de carga, embora seja grave, não representa uma ampla ameaça à zona do euro.

Mas Dombret e outros vêm intensificando as pressões sobre instituições financeiras para que elas resolvam seus problemas. Num encontro do setor em Hamburgo, em fevereiro, Dombret avisou que o transporte marítimo é "um risco regional e substancial no setor bancário".

A desaceleração desse setor, que teve início em 2008, já levou à falência várias operadoras de grandes frotas. O Overseas Shipholding Group, maior operador americano de navios-tanque, entrou com pedido de falência em novembro. O receio é que alguns dos bancos mais ativos no financiamento de navios --que se concentram na Alemanha, na Escandinávia e no Reino Unido-- estejam procurando ignorar seus potenciais prejuízos.

Em matéria de ativos problemáticos, os cargueiros são especialmente difíceis de lidar. Diferentemente de um terreno, exigem uma manutenção cara. Perdem valor com o passar do tempo, por desgaste de uso ou porque a chegada de embarcações mais novas que consomem menos combustível os torna obsoletos. Até desativar um navio subutilizado custa dinheiro.

Bancos alemães como o HSH Nordbank e o Commerzbank, de Frankfurt, estiveram entre os que mais concederam empréstimos ao setor dos transportes marítimos, porque incentivos fiscais alemães favoreciam o financiamento de navios. A exposição dos bancos alemães ao setor dos transportes marítimos foi estimada em US$ 129 bilhões, mais que o dobro do valor dos títulos que esses bancos possuem de dívida dos governos da Grécia, da Irlanda, da Itália, de Portugal e da Espanha. O Grupo DNB, da Noruega, e o Nordea, da Suécia, também são atores importantes no financiamento de navios. Também é esse o caso do Lloyds Banking Group e do Royal Bank of Scotland, no Reino Unido.

O Nordea disse a investidores que prevê que o setor dos transportes marítimos de carga irá começar a se recuperar em 2014, quando a economia mundial deverá ganhar força. Mas outros são mais céticos.

Para o especialista Tsevdos, "segundo qualquer critério, a recessão que vivemos é mais profunda e difícil do que qualquer outra que tivemos nas últimas duas décadas".

 

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