Dono da Riachuelo lança manifesto político em NY; assista ao vídeo

Crédito: Eduardo Knapp/Folhapress Sao Paulo, SP, BRASIL, 08-11-2017: Especial Reforma Trabalhista. Retrato do empresario Flavio Rocha (dono da Riachuelo) no jardim de sua residencia no Jardim Europa (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, MERCADO).
Em manifesto, o empresário Flávio Rocha convocou empresários a defender o livre mercado

MARIANA CARNEIRO
DE BRASÍLIA

Com um manifesto gravado em Nova York, o presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, lançou, nesta quarta-feira (17), um movimento de empresários, que batizou de "Brasil 200 anos" –referência aos quase dois séculos desde a proclamação da Independência, em 2022, ano que encerra o próximo mandato presidencial.

O grupo, segundo o próprio executivo, se situa à direita do espectro político e, frisa Rocha, tem a missão de defender valores de uma agenda econômica liberal e uma posição conservadora nos costumes.

Uma fórmula puro-sangue de direita, à moda do Partido Republicano do americano de Donald Trump.

Nova York se tornou a plataforma de lançamento do movimento por acaso, disse ele. Reunidos em um grande evento do varejo internacional, empresários de marcas conhecidas no Brasil sintonizaram a mesma preocupação com a ausência de uma alternativa à direita para fazer frente ao desafio nas urnas e "anteciparam" a estreia.

Luiza Trajano (Magazine Luiza), Sebastião Bomfim (Centauro), Alberto Saraiva (Habib's), Sônia Hess (Dudalina) são alguns dos empresários signatários do manifesto, segundo Rocha, que conta também com o reforço do apresentador de televisão Roberto Justus. Alguns deles, como o próprio Rocha, apoiaram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Na avaliação do empresário, o desejo pelo "protagonismo do indivíduo na economia e dos valores da família nos costumes" é majoritário no Brasil, e a população está clamando por um representante à sua altura nas urnas.
"O candidato que o povo clama não se apresentou ainda", disse ele, em conversa por telefone com a Folha.

MANIFESTO

Em sua "carta-manifesto", o executivo critica as gestões petistas, defende o livre mercado e convoca o empresariado brasileiro a participar de forma mais ativa da política nacional.

"O livre mercado não é apenas a melhor arma contra a pobreza, é a única. (...) Há décadas que o Brasil optou por odiar os empreendedores, os investidores, os inovadores e os resultados falam por si. Agora é hora de mostrar que é possível um outro caminho", diz um trecho da mensagem.

"Quero sugerir a todos vocês que chegou a hora de uma nova independência: é preciso tirar o estado das costas da sociedade, do cidadão, dos empreendedores, que estão sufocados e não aguentam mais seu peso. Chegou o momento da independência de cada um de nós das garras governamentais. Liberdade ou morte!", afirma o manifesto.

A ideia, segundo Rocha, é que o grupo entregue uma pauta comum aos candidatos a cargos do Executivo e do Legislativo e que faça uma cobrança dos compromissos assumidos por eles.

Na mensagem, o empresário critica –sem mencionar nomes– as gestões petistas e a candidatura do ex-presidente Lula.

"Não queremos um retrocesso ideológico às ideias tóxicas responsáveis pela pior crise da história do Brasil", disse Rocha à Folha.

No manifesto, Rocha é mais incisivo: "Não é possível que o líder das pesquisas no Brasil para presidente hoje seja não apenas o maior responsável pela crise como um criminoso condenado a 9 anos e meio de prisão em apenas um de inúmeros processos que responde. Que mensagem o país está passando para a classe política e para o mundo? Que aqui o crime compensa? Que o brasileiro aprova a roubalheira?"

Ele também pede que os empresários do país defendam o liberalismo de forma mais ativa.

Ex-deputado federal (1987-1995) por seu estado natal, o Rio Grande do Norte, o empresário foi levado a abandonar uma candidatura presidencial em 1994, quando se viu envolvido em acusações de financiamento indevido na campanha eleitoral. Seu então partido, o PL (hoje PR), optou por apoiar Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e Flávio deixou a política.

Hoje, ele afirma que não será candidato. "Não vou ser candidato, não tenho presença, sou um empresário."

O executivo –já conhecido por se posicionar politicamente contra as gestões petistas–, porém, já vinha acompanhando de perto a preparação para o pleito presidencial de 2018.

No início de ano, ele participara de um culto da Sara Nossa Terra e, no palco, apresentou o ministro da Fazenda e possível candidato Henrique Meirelles –sem, no entanto, cravar um apoio à eventual candidatura.

Sobre os nomes que já se apresentaram como alternativa, só Rodrigo Maia (DEM-RJ) recebe elogios. "Tem feito um trabalho maravilhoso pelas reformas". Porém, diz ele, apenas o vocabulário econômico não vence eleição.

"Alternativas devem ser encorajadas a sair do discurso econômico, que é muito restrito, e pisar no terreno pantanoso da polêmica comportamental, assumindo bandeiras que causam reação negativa da intelectualidade, mas que podem encantar o eleitorado", afirmou.

Para ele, Bolsonaro não é liberal na economia, e Alckmin "não assumiu a bandeira da revisão do estatuto do desarmamento, a redução da maioridade penal, contra o aborto", assuntos caros a esse espectro político.

Leia abaixo a carta completa.

Prezados Amigos,

É uma grande alegria estar aqui com você na maior feira de varejo do mundo, neste momento tão especial em que o varejo brasileiro começa a mostrar sinais de recuperação. Somos duros na queda, resilientes, e estamos aqui para dizer ao mundo que não desistimos do Brasil.

Não tenho dúvida de que é o trabalho duro, o brilhantismo e o compromisso com o Brasil de todos vocês que permite que um país mergulhado na pior crise econômica e também ética e moral da sua história possa ter um pouco de esperança. Meus mais sinceros parabéns a todos vocês por esse resultado.

Minha mensagem para vocês hoje não é apenas para aplaudir os bons números da economia e do varejo mas para lembrar como a recuperação econômica do Brasil ainda é frágil, como ainda somos vulneráveis, como cada pequeno avanço que estamos fazendo pode nos deixar esquecer o tamanho do abismo que está logo na esquina.

O rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard & Poor's na semana passada foi um duro lembrete de quanto ainda temos que caminhar para um crescimento realmente sustentável e que abra mais oportunidades para um país com mais de 12 milhões de desempregados. Cada desempregado é um drama de todos nós, uma família desestruturada, uma vida em compasso de espera, um brasileiro que tem problemas para prover para si e para sua família.

A leve recuperação do Brasil atual não pode significar, de forma alguma, o esquecimento de como chegamos até aqui. O Brasil é um país sem memória, mas não é possível que em pleno ano eleitoral não se fale a cada oportunidade, todos os dias, do período nefasto de quase 15 anos em que uma quadrilha saqueou o Brasil, aparelhou as instituições, usou bancos e obras públicas para enriquecimento privado numa proporção jamais vista e que, espero, nunca mais aconteça.

Não há nada de casual na crise brasileira. Desde 2009, quando nasceu a famigerada e insana "Nova Matriz Econômica", o Brasil foi jogado num buraco que ainda levaremos muitos anos para sair. E nós varejistas sabemos isso como ninguém, sabemos da dificuldade do povo brasileiro de manter seu nome limpo, de pagar suas contas, de ter condições mínimas de consumo.

O Brasil hoje não tem um governo, é o governo que tem um país que vive para sustentar sua gastança, seu desperdício, seu endividamento, seus ralos bilionários de corrupção e clientelismo, suas regulações insanas, seu intervencionismo retrógrado, sua aversão ao liberalismo e ao empreendedorismo, seu paternalismo autoritário, sua incompetência criminosa e sua fome insaciável por poder, dinheiro e ingerência na vida do cidadão e das empresas. É preciso dar um basta!

O livre mercado não é apenas a melhor arma contra a pobreza, é a única. Todos nós, em algum momento da vida, precisamos fazer uma escolha: ou estamos ao lado dos pobres ou da pobreza. Ou temos amor aos mais necessitados ou temos ódio aos ricos. São sentimentos incompatíveis. Se você é solidário ao pobres, faz tudo para que saiam da pobreza. E é o livre mercado que pode gerar oportunidades e riqueza para todos, especialmente os mais pobres. Quando vamos aprender esta que é a mais básica das lições da história?

Se você quer o melhor para os pobres, você luta por uma sociedade mais livre, que crie mais riquezas e oportunidades para todos. Se você odeia os ricos, você quer expropriar seus bens e destruir sua capacidade produtiva, jogando todos no caos e na miséria. Há décadas que o Brasil optou por odiar os empreendedores, os investidores, os inovadores e os resultados falam por si.

Agora é hora de mostrar que é possível um outro caminho. O próximo presidente governará o país de janeiro de 2019 até o final de 2022. Numa dessas coincidências mágicas, 2022 é exatamente o ano em que o país completará 200 anos do dia em que, às margens do Rio Ipiranga, Pedro I deu o grito que tornou o Brasil uma nação independente de Portugal.

Quero sugerir a todos vocês que chegou a hora de uma nova independência: é preciso tirar o estado das costas da sociedade, do cidadão, dos empreendedores, que estão sufocados e não aguentam mais seu peso. Chegou o momento da independência de cada um de nós das garras governamentais. Liberdade ou morte!

É por isso que estou lançando, junto com outras lideranças da sociedade civil, o movimento Brasil 200 anos. Nós queremos que você diga que país espera para 2022, como você quer o Brasil na comemoração dos seus 200 anos, ao final do mandato dos candidatos eleitos este ano. 2022 começa em 2018, os 200 anos do Brasil começam aqui e agora. Em quatro anos não é possível fazer tudo, mas é possível fazer muito.

Estamos conversando com cidadãos brasileiros para que juntos tenhamos uma pauta comum para entregar aos candidatos ao executivo e ao legislativo com compromisso verdadeiro com a liberdade para que eles saibam, sem sombra de dúvidas, o que o Brasil espera deles. Vamos contribuir com propostas, metas, dados, idéias e, claro, vamos cobrar a cada momento, durante os 4 anos que nos separam do bicentenário, o andamento da implementação destas propostas.

Não é possível que o líder das pesquisas no Brasil para presidente hoje seja não apenas o maior responsável pela crise como um criminoso condenado a 9 anos e meio de prisão em apenas um de inúmeros processos que responde. Que mensagem o país está passando para a classe política e para o mundo? Que aqui o crime compensa? Que o brasileiro aprova a roubalheira? Não é possível que a lição, a mais dura de todas, não tenha sido aprendida.

Eu não espero que toda a imprensa, com honrosas exceções, tenha a isenção de reportar estes fatos durante a campanha, mas espero estar errado. Foram quase 15 anos de uma farra de gastos públicos e créditos subsidiados para os amigos do rei, o que incluiu vários grupos de comunicação que infelizmente jogam contra a estabilidade econômica que estamos buscando hoje com tanta dificuldade sonhando com a volta do dinheiro fácil.

A apropriação privada dos ganhos provenientes de empréstimos de pai para filho dos bancos públicos infelizmente comprou corações e mentes nos últimos anos e muitos fingem não perceber os riscos da volta do projeto bolivariano e cleptomaníaco de poder ao comando do país.

Infelizmente a elite empresarial brasileira, da qual faço parte, não tem liderado como deveria o processo de tornar o Brasil um país mais livre, parte dela sócia do assalto ao estado com prejuízos incalculáveis para a população mais carente. Sem uma elite comprometida de corpo e alma com o progresso, com o avanço institucional, com mais liberdade e menos intervencionismo, com a diminuição do estado hipertrofiado, não vamos a lugar algum.

Por mais que a Operação Lava Jato me orgulhe como cidadão, não tenho como não ficar triste por ver empresários que deveriam estar pensando nas próximas gerações de brasileiros, incluindo em seus próprios filhos, envolvidos nos piores escândalos de corrupção da nossa história. Quantos empresários ainda vivem nas suas pequenas bolhas acreditando que podem tocar suas vidas e seus negócios sem se preocupar com a deteriorização do país, sem lutar pelas instituições, pela ética e pela democracia? Mais cedo ou mais tarde, essa omissão baterá na porta de cada um de nós e cobrará a conta.

Os empresários e empreendedores do país devem ser os guardiões mais intransigentes da competitividade e da liberdade, pré-requisitos para a criação de riqueza que move a economia e a sociedade no caminho da prosperidade e da verdadeira justiça social, com autonomia, dignidade e oportunidades para todos. Chegou a hora de pararmos de ser parte do problema e viramos parte da solução e é essa a convocação que faço hoje para cada um de vocês.

Um país mais livre é também uma declaração de confiança ao nosso povo, uma prova de que juntos podemos construir mais oportunidades para todos, sem a intermediação nefasta da burocracia estatal. Tenho certeza de que cada um de vocês vai tomar parte nessa luta que é de todos nós.

Tenho muita fé no Brasil e nos brasileiros e provo isso saindo da minha zona de conforto e me expondo aqui para vocês na luta para devolver o Brasil aos seus verdadeiros donos, o povo brasileiro. O cidadão independente é aquele que consegue estudar, trabalhar, empreender, gerar valor para a sociedade, para si e sua família, que participa voluntariamente da comunidade e que é solidário com quem precisa.

Peço a todos vocês que participem do Brasil 200 anos com sugestões, propostas, idéias e muito mais. O Brasil 200 só tem um dono: o povo brasileiro, cada um de vocês. Aqui em Nova York, na capital do mundo, podemos nos unir para refundar o Brasil em bases mais livres e solidárias, mais modernas e prósperas para todos. É a minha ideologia, é o meu compromisso, e espero que seja o de vocês também.

Muito obrigado!

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