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08/10/2011 - 08h30

Autor explica dinheiro sem lastro com crueza e sarcasmo

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CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Fez sucesso no YouTube em setembro o vídeo em que um suposto operador do mercado financeiro, Alessio Rastani, afirma à BBC britânica que está se lixando para se os governos vão conseguir deter a crise na zona do euro.

"Nossa função é ganhar dinheiro com a crise", diz ele. "Os governos não mandam no mundo. O Goldman Sachs manda", afirma.

A sinceridade provocou suspeitas e o jornal "Telegraph" descobriu que Rastani, autor de um blog sobre finanças, não tinha autorização para trabalhar na City londrina.

Ele não era a fonte mais autorizada, mas a mesma crueza, quase pornográfica, está em "Extreme Money" (FT Press, do Financial Times).

O autor do livro que descreve e explica a "financeirização" da economia é Satyajit Das, consultor de bancos e especialista em derivativos --operações em que os investidores tentam antecipar ganhos ou evitar perdas com a variação futura de moedas, commodities, dívidas etc.

O sarcasmo dá o tom desde o início, quando ele fala da febre pré-2008 da venda de imóveis para americanos "ninja" (iniciais em inglês de sem renda, sem emprego e sem bens).

O texto é cheio de referências, às vezes cansativas, à cultura pop (Woody Allen, Andy Warhol, Jon Stewart, Grouxo Marx) e a eruditos em geral pouco citados por economistas, como Marshall McLuhan, Zygmunt Bauman, o grego Heródoto.

É impossível não se sentir voyeur diante do mundo paralelo no qual o "rei sol" de um banco de investimentos aluga o castelo de Versalhes para seu casamento, e outro executivo explica por que não vive em Nova York com menos de US$ 2 milhões por ano.

Num fórum financeiro três anos antes do estouro da bolha imobiliária, um guru oriental de túnica e mocassins Gucci tenta fazer a plateia levitar. Financistas pagam milhões por instalações do britânico Damien Hirst, como o tubarão num aquário de formol.

Mas o livro vai muito além do anedótico, contando como o esgotamento da economia industrial do pós-Guerra e decisões políticas nos anos 1980 levaram o dinheiro à fase em que é "capaz de multiplicação infinita e completamente irreal".

LEIGOS

Para os leigos, seu público alvo, "Extreme Money" traz explicações didáticas sobre como funcionam operações financeiras como "short selling" e "carry trade".

"Os bancos aprenderam a cortar e fatiar dívidas de mais maneiras do que qualquer 'chefe-celebridade'", afirma o autor.

Ele analisa as fórmulas matemáticas baseadas na suposta eficiência do mercado e compara a economia hoje à astronomia pré-Galileu, "movida por crenças políticas e filosóficas".

O compromisso intelectual com a defesa das velhas maneiras é formidável, conclui, barrando ou diluindo iniciativas de regulação e reforma.

Cita um banqueiro: "O período de remorso e desculpas precisa acabar".

Extreme Money: Masters of the Universe and the Cult of Risk
Satyajit Das
EDITORA FT Press
QUANTO US$ 23,99
AVALIAÇÃO Ótimo

 

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