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11/12/2011 - 03h30

Oposição a Chávez está "unida como nunca", diz líder

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ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Articulador e líder da maior tentativa de unidade da oposição venezuelana desde o início da era Hugo Chávez, em 1999, o advogado, professor e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Ramón Guillermo Aveledo, 61, defende uma "parceria real" com a Colômbia para combater as Farc, grupo colombiano de guerrilha e narcotráfico.

Ele coordena o processo de escolha do candidato a opositor de Chávez no pleito de 2013. Em entrevista à Folha, em Brasília, Aveledo defendeu o respeito à propriedade e à iniciativa privadas e mudanças radicais na economia e na política externa, acenando inclusive com a venda dos aviões de caça Sukhoi comprados à Rússia por Chávez.

FOLHA - Se vencer, a Unidade Democrática vai mudar a constituição chavista?
RAMÓN GUILLERMO AVELEDO - Nós somos partidários de preservar a Constituição. Eu gostaria que, por exemplo, não houvesse reeleições indefinidas para o presidente, ou que os mandatos fossem mais curtos, mas essas são questões menores diante do fato de que a Constituição pode ser um ponto de encontro e nós precisamos de pontos de encontro.

A doença [um câncer abdominal] de Chávez cria um novo equilíbrio político?
Se ele quer mesmo concorrer à reeleição, precisa dar segurança aos venezuelanos de que tem saúde para isso. Essa é uma interrogação em toda a sociedade: ele será candidato? Tem condições? Tem saúde? A doença não tem sido tratada com transparência, como aqui, no Brasil. Mas nós, da oposição, tratamos a doença do presidente com respeito. Criticamos as políticas do presidente Chávez, não a pessoa.

Ele tem uma liderança forte e não articulou um sucessor. Isso cria um vácuo político?
Esse vazio seria do lado do chavismo oficial. Nós vamos concorrer com o nosso candidato e estamos unidos como nunca. Nas pesquisas, mesmo pessoas que apoiam Chávez dizem que querem a liberdade, a propriedade privada, não gostam de partido único... Então, vai se afirmando uma cisão entre a visão carismática do presidente e o apoio a suas políticas.

Quem da oposição catalisa essa cisão?
Antes não havia, mas hoje há nomes alternativos com muita viabilidade, que têm popularidade no mínimo similar a Chávez, mas não queremos um nome carismático, personalista, individualista.
Estamos fazendo debates entre os pré-candidatos, em 23 de janeiro anunciamos o programa comum e só depois, em 12 de fevereiro, haverá a eleição primária para eleger o candidato único, na qual toda a sociedade poderá votar.

É possível costurar a unidade com mais de 20 partidos envolvidos? E para governar?
Desde 2009 construímos esse projeto de unidade, baseado em dois pilares: disposição ao diálogo e regras claras de convivência. Se fosse só isso já seria em si mesmo uma mensagem muito forte ao país, porque, seguramente, são coisas que faltam à Venezuela.

Qual o modelo?
A "Concertación" do Chile. Isso não é possível na América Latina? Como não? Vejam o próprio Brasil.

Há uma terceira força entre o chavismo e a oposição?
Não. Não há espaço. Nós temos oito [dos 23] Estados e governamos os mais importante do país, Zulia, Miranda, Caraobobo. O próprio prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, está conosco.

O que será preciso mudar depois de 14 anos de Chávez?
A Venezuela tem a inflação mais alta da América Latina e a segunda maior do mundo, é preciso mudar antes de mais nada a política econômica. Temos leis, como a de arrendamento urbano, que até em Cuba e na China estão se livrando delas. Não temos só a retórica contra a propriedade privada, temos também medidas concretas, como se a propriedade fosse um mal. Outra problema muito sério é a violência, com 93% de impunidade. Assim é impossível viver.

Esse não é um problema da Justiça? O que Chávez tem a ver com isso?
Na Venezuela, o governo interveio na Justiça, manipulou, politizou, e fez o mesmo no Ministério Público. Mas tenho de falar sobre isso com pudor, com recato, porque, como venezuelano, me dá vergonha.

E quanto à questão social? Não há o que mudar, já que Chávez ganhou até prêmios internacionais?
Sim, com base em dados oficiais do governo venezuelano, que é muito bom de marketing em matéria social, mas a produção é muito má. Há políticas como as "misiones" que não fazem parte da estrutura de Estado e são discriminadoras, só com os partidários do chavismo. E há, sim, medidas sociais boas, como o "bairro adentro", que serão mantidos, mas têm de ser melhorados, porque foram todos tocados por médicos cubanos, enquanto os venezuelanos emigram por falta de emprego. Vamos universalizá-lo e providenciar recursos cortando gastos em coisas em que hoje se gasta muito e não são importantes.

Exemplo?
Nos encanta cooperar com o estrangeiro e me parece muito bom, mas a cooperação com outros países tem de ser de acordo com as nossas possibilidades e não só para estimular a popularidade do presidente.

Os caças Sukhoi comprados à Rússia podem ser vendidos?
Pode ser, porque não temos por que nos envolver numa escalada armamentista. Temos que vigiar melhor nossas fronteiras, mas aviões supersônicos não servem para vigiar fronteiras.

É possível uma parceria real com a Colômbia contra as Farc?
A relação dos presidentes Chávez e [Juan Manuel] Santos está bem, o que nos alegra, mas conosco pode melhorar muito mais. A violência, os sequestros e a extorsão nas fronteiras afetam os produtores venezuelanos. Tem de haver uma responsabilidade do Estado colombiano e do venezuelano e estamos muito dispostos a cooperar, a fazer uma aliança real contra o terrorismo e o narcotráfico.

Chávez se aproximou muito de Cuba e do Irã, por exemplo. O que deve mudar na política externa?
Seguramente, haverá relações muito fortes com Cuba, porque é muito próxima e tudo isso que ocorreu entre os dois governos você não pode desmontar de um dia para outro. Mas vamos enfatizar alianças com países vizinhos e que tenham afinidade, uma visão similar do mundo e de futuro e representem algo para a sociedade venezuelana, gerem empregos. Não se pode fazer política externa na base da retórica.

Como vão evoluir as relações com Bolívia e Equador, aliados de Chávez?
Nós temos, historicamente, uma relação estreita com Equador e Bolívia e continuaremos tendo. As questões ideológicas, partidárias, são secundárias. Nós saímos da Comunidade Andina e não chegamos a lugar nenhum.

E a Alba, a alternativa à Alca (que incluiria os EUA e nunca se concretizou)?
Alba? Nem sabemos o que é isso... Não passa de retórica oficial, ideológica.

Como será a posição da Venezuela em órgãos multilaterais, por exemplo, de direitos humanos?
É claro que vamos voltar à nossa posição histórica. Não podemos aceitar que um país com quem temos relações circunstanciais não respeite as convenções e leis da ONU e da OEA. Os direitos humanos são um princípio universal.

 

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