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18/03/2012 - 06h00

Romney não simpatiza com eleitor não falando sobre fé, diz professor

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LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A PROVO, UTAH

Para seus correligionários mórmons, não falar sobre sua religião e seu trabalho na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias pode custar ao conservador moderado Mitt Romney a empatia de parte do público na corrida à Casa Branca pelo Partido Republicano.

Romney, que pertence à denominação e a serviu por duas décadas líder local (bispo) e regional em Massachusetts, tem evitado tocar no assunto porque pesquisas apontam que uma parcela significativa do eleitorado --22%, segundo o Gallup-- não votaria em um mórmon.

Com isso, porém, ele só consegue falar da biografia de forma limitada, aponta o professor de política e mórmon J. Quin Monson, da Brigham Young University (mantida pela Igreja).

Ecoa uma opinião ouvida de forma recorrente pela reportagem em Utah, onde a religião predomina.
"Parte do trabalho de um bispo é aconselhar gente com problemas, seja de religião, dinheiro, casamento", afirma. Se Romney falasse a respeito, pareceria mais humano, e a crítica de que ele é robótico e sem noção de realidade se acalmaria", diz.

De família rica, Romney, ex-governador de Massachusetts, é frequentemente acusado de saber pouco da realidade do eleitor.

Para Monson, diretor-associado do Centro para o Estudo das Eleições e da Democracia na universidade, o candidato usa a temporada de primárias partidárias para calibrar sua estratégia, dada a rejeição pela fatia evangélica cara ao partido.

Leia abaixo a entrevista:

Folha - Por que Romney não fala de religião, ao contrário dos rivais no partido?
J. Quin Monson - Se conseguir a candidatura, pode ser que o vejamos falando mais. Parte da razão pela qual ele não fala agora é que entre alguns eleitores das primárias há uma percepção negativa dos mórmons.

Folha - Mas quem cita o fato de Romney ser mórmon para rejeitá-lo sabe que ele segue a religião, às vezes sem saber o que prega. Não é mais fácil abordar o tema?
Monson - Acho que não, pois a campanha se centraria nisso, e o que ele precisa fazer é focar a discussão no que ele acha mais importante. Quanto mais ele falar em religião, menos vai falar de seus pontos fortes.*

A sociedade americana evoluiu a um ponto em que se você expressa sentimentos racistas, ou antissemitas ou contra os católicos, as pessoas vão te olhar torto. As normas sociais impõem um preço por isso. Não chegamos a um ponto, porém, no qual você receberia olhares repreensivos por falar mal ou fazer piada de mórmons.

Fizemos uma pesquisa em que citamos as características de Romney, em uma biografia curta, e depois citamos a mesma lista e incluímos que ele é um membro ativo de sua Igreja. Isso ajudou. Se especificamos que ele é mórmon, a resposta é negativa.

Folha - Racismo, por exemplo, é frequentemente sub-relatado.
Monson - Pois é, isso é outra coisa. Se há uma norma social que diz que não se deve ser racista ou antimórmon, e você pergunta para a pessoa se ela votaria em um candidato negro ou mórmon, a pessoa dirá que votaria.

Aí medimos isso de outra forma: mostramos uma lista de característica às pessoas e perguntamos-lhes quantas -sem dizer quais - as deixam com raiva. Para outro grupo, apresentamos a mesma lista e incluímos "um mórmon ser eleito presidente".
É só subtrair o resultado da primeira do resultado das segundas e você tem o percentual de pessoas que têm raiva de ele ser mórmon.
E no caso dos mórmons, os dois formatos de pesquisa dão resultados iguais, porque não tem norma social.

Folha - Até que ponto isso tem sido usado politicamente? Já tivemos líderes evangélicos pró-Rick Santorum [ex-senador ultraconservador que é o principal rival de Romney no partido] dizendo que os mórmons são culto.
Monson - Deliberadamente. Os candidatos fazem referências indiretas, falam muito de sua religião para que as pessoas se lembrem que Romney é mórmon, ou então, mais frequentemente, usam cabos eleitorais.

Folha - Agora fala-se muito da questão religiosa por conta dos conservadores sociais, caros ao Partido Republicano. Na eleição presidencial em si, porém, o foco muda. Religião ainda terá peso?
Monson - Vai ser importante, mas de outro jeito. As reclamações do lado conservador são, quase sempre, teológicas -eles não gostam dos mórmons porque eles usam outro livro sagrado além da Bíblia, por exemplo.

Do outro lado, progressista, é uma crítica secular, uma aversão a religião em geral. Tanto faz se é um mórmon ou um evangélico.

Folha - O sr. espera ataques do Partido Democrata?
Monson - Sim. E devem falar da história da Igreja mórmon, de raça [os mórmons vetaram sacerdotes negros até 1978], de gênero, coisas que os mórmons de hoje já superaram. E não será [o presidente Barack] Obama, serão seus cabos eleitorais.

Folha - Obama passou por isso, com a polêmica sobre o radical Jeremiah Wright, seu ex-pastor em Chicago.
Monson - Passou, e teve também a polêmica sobre ele supostamente ser muçulmano. O viés antimuçulmanos é ainda pior que o antimórmon nas pesquisas. E há ainda uma proporção significativa de americanos que acha que Obama é muçulmano.

A mesma coisa, com sinais trocados, deve vir da esquerda em direção a Romney. Coisas sobre a religião e sua história em relação ao racismo, para levantar dúvidas entre mães suburbanas brancas, por exemplo, que poderiam votar nele mas não querem votar em um racista.

Folha - Por ataques com religião ainda funcionam nos EUA? E até que ponto podem pesar no resultado, em uma eleição na qual todo mundo só quer saber de economia?
Monson - Muito vai depender do contexto. Se a economia continuar a melhorar, e sair um pouco do foco, há grande potencial.

E se Romney falar alguma coisa que dê margem, vai abrir a porta para comentários. Essa é outra razão para que ele não fale a respeito. E as coisas mais sujas acontecem sob a superfície, se espalham por e-mails.

Folha - Ser mórmon influencia a personalidade política de Romney?
Monson - Acho que sim, e é aí que ele sai perdendo ao não falar. Ele se dedicou à Igreja, serviu como missionário na França [por dois anos], foi bispo, foi líder regional.

Eu já fui auxiliar de bispo, e sei que eles devotam muito tempo a isso. É um trabalho puxado pelo qual não recebem, de 20 a 30 horas por semana, das quais a maior parte é aconselhar pessoas com problema, seja de religião, dinheiro, casamento.

Essa parte do Romney ele não mostra, de horas e horas se encontrando com gente de verdade com problemas sérios, pois não poder falar da região. Se Romney falasse a respeito, pareceria mais humano, e a crítica de que ele é robótico e sem noção da realidade se acalmaria.

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