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05/04/2012 - 03h33

Leia a íntegra do controverso poema de Günter Grass sobre Israel

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DE SÃO PAULO

O que Deve Ser Dito*

Günter Grass

Por que me calo há tanto tempo

Sobre o que é evidente e se empregava

Em jogos de guerra em que no fim, sobreviventes,

terminamos como notas de pé de página.

É o suposto direito a um ataque preventivo

Que poderia exterminar o povo iraniano,

Subjugado e levado a um júbilo orquestrado por um fanfarrão,

Porque em sua jurisdição suspeita-se da fabricação de uma bomba atômica.

Mas, por que me proíbo de dizer o nome

desse outro país em que há anos ainda que secretamente

Dispõe-se de um crescente potencial nuclear

Fora de controle, já que é inacessível a toda inspeção?

O silêncio generalizado sobre esse fato,

Ao qual o meu próprio silêncio se submeteu,

Me soa como uma grave mentira

e uma coação que ameaça castigar quando não se respeita;

"antissemitismo" é o nome da condenação.

Agora, no entanto, porque o meu país foi

Atingido e chamado às falas uma e outra vez

Por crimes muito particulares

Incomparáveis

rotineiramente,

Mesmo que depois qualificada como reparação,

Vai entregar a Israel outro submarino cuja especialidade

É dirigir ogivas aniquiladoras

Em direção aonde não se comprovou a existência de uma única bomba,

Embora se queira apresentar como prova o medo

Digo o que deve ser dito

Por que me calei até agora?

Porque achava que minha origem,

Marcada por um estigma indelével, me proibia de atribuir esse fato, como é evidente,

Ao país chamado Israel, ao qual estou unido e quero continuar estando.

Por que só agora digo, envelhecido e com minha última tinta: Israel, potência nuclear, coloca em perigo uma paz mundial já por si mesma alquebrada?

Porque é preciso dizer o que amanhã poderia ser tarde demais,

E porque incriminados o bastante por ser alemães poderíamos ser cúmplices

De um crime que é previsível, tornando nossa parcela de culpa impossível de ser extinta com as desculpas de sempre

Admito: não continuo calado porque estou farto da hipocrisia do Ocidente; cabe esperar ainda que muitos se liberem do silêncio, exijam ao causador desse perigo visível que renuncie ao uso da força e insistam também em que os governos de ambos países

Permitam o controle permanente e sem barreiras por uma instância internacional do potencial nuclear israelense e das instalações nucleares iranianas.

Só assim poderemos ajudar a todos israelenses e palestinos e sobretudo a todos os seres humanos que nessa região tomada pela demência vivem como inimigos lado a lado, odiando-se mutuamente, e, definitivamente, ajudar-nos também.

*Tradução livre da versão em español do poema, escrito originalmente em alemão e publicado pelo diário "Süddeutsche Zeitung"

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