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Universidade tunisiana reflete embate entre secular e religioso
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DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO
Os olhares da comunidade internacional já não estão mais pousados na Tunísia, país que deu a largada para a Primavera Árabe ao destronar o ditador Zine El Abdine Ben Ali, em janeiro de 2011.
Mas, enquanto observadores estão agora atentos aos desenlaces violentos na Síria, o pequeno país africano ainda debate seu futuro político.
Uma questão-chave tem sido o papel que o islamismo vai ocupar -não apenas nas cadeiras do Parlamento, mas também na vida pública.
A Universidade Manouba tornou-se, nesse contexto, um exemplo da dificuldade de agradar salafistas (ultraconservadores) e seculares.
Fethi Belaid - 7.mar.2012/France Presse |
Aluna usando niqab fala ao telefone na Universidade Manouba |
Desde o ano passado, essa universidade tem vivido embates entre estudantes islâmicos e Habib Kazdaghli, decano da Faculdade de Letras.
À Folha ele narra algumas das agressões pelas quais passa por tomar decisões controversas no país em construção -por exemplo, proibir o véu na sala de aula.
Em março, Kazdaghli suspendeu duas estudantes pelo uso do niqab, vestimenta que oculta o rosto. "Em objeção, alunos vieram à minha sala para protestar. Quando eu pedi que saíssem, eles destruíram meu escritório", diz.
O véu é considerado "indefensável" pelo corpo docente. "Como podemos dar aula para uma aluna quando não vemos seu rosto?", indaga.
PROJETO SOCIAL
Kazdaghli é criticado dentro do país por não chegar a um acordo com os alunos islâmicos -que reivindicam, também, espaço reservado às orações na universidade.
A Tunísia, em geral, luta para acomodar a diversidade religiosa e reconhecer as necessidades de grupos islâmicos.
Para Kazdaghli, a questão envolve "pessoas externas usando a universidade e uma minoria de estudantes para atingir um objetivo", já que "para salafistas, o ambiente universitário é um bastião do secularismo estatal".
"Eles exigem a segregação dos alunos homens e mulheres", afirma. "A questão é complexa e reflete o novo projeto social proposto por grupos conservadores."
A Tunísia elegeu, no fim de 2011, um Parlamento com maioria de islamitas.
Kazdaghli diz ter chamado a polícia em diversas ocasiões para conter os protestos, sem ter sucesso. "Nenhuma instituição está disposta a tomar posição", afirma.
O decano diz que há hoje em seu país uma "guerra de ideologias". "Estamos vendo a expressão do que foi reprimido", diz, referindo-se às décadas de ditadura de Ben Ali. "A violência ideológica é o resultado de décadas de frustração e de humilhação."
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