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Novos "Garotos Perdidos" do Sudão
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JEFFREY GETTLEMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM YIDA
Milhares de crianças desacompanhadas estão deixando uma região isolada e rebelde na fronteira sul do Sudão, escapando de uma implacável agressão aérea e da perspectiva de morrerem de fome.
Enviados por seus pais em odisseias através de campos de batalha e pântanos infestados pela malária, as crianças estão repetindo um dos mais sórdidos capítulos da história sudanesa: o dos chamados "Lost Boys" ("Garotos Perdidos") da guerra civil da década de 1990.
Eles vagavam por centenas de quilômetros fugindo de milícias, bombardeiros e leões no país.
Agora, uma nova geração de Garotos Perdidos -e algumas Garotas Perdidas também- está emergindo de uma guerra que, apesar de um acordo de paz, nunca terminou completamente.
Haidar Musa, 14, andava pelo enlameado campo de refugiados de Yida, que ganha mil moradores por dia, transformando uma floresta verde em um esquálido mar de lonas brancas da ONU.
Haidar fugiu da escravidão depois que seus captores alvejaram seu irmão. Com ele havia outros oito meninos, com roupas rasgadas e a barriga cheia de capim, sua única comida há vários dias.
Eles estavam descalços, em pé, olhando avidamente um tonel de feijões ferventes, prontos para a sua primeira refeição e uma nova casa: uma cabana infestada de ratos, onde eles dormiriam sobre caixas de papelões dobradas.
"Não falamos mais sobre os nossos pais", disse Haidar, se atrapalhando com os botões quebrados de uma camisa doada. "Mesmo se voltarmos, não vamos encontrar ninguém."
John Prendergast, cofundador do Projeto "Enough", que luta contra genocídios e crimes contra a humanidade, trabalhou de perto com os Garotos Perdidos há 20 anos. "Aqueles sobreviventes pareciam ter uma história única, que nunca seria repetida", disse. "Mas aqui estamos de novo."
Uma marca registrada da estratégia de contrainsurgência do governo sudanês é o ataque aos civis, como ocorreu no sul do Sudão na década de 1980, nos montes Nuba nos anos 1990 e, em Darfur, no começo deste século.
Agora, novamente há bombardeios obrigando aldeias inteiras dos montes Nuba a fugirem para cavernas, deixando campos sem cultivar, mercados vazios e pessoas ameaçadas pela fome.
A atual ofensiva parece colocar as crianças da região totalmente na mira e elas com frequência não têm para onde fugir.
Um trabalhador humanitário no campo de Yida disse que 14 meninos que tentavam chegar aqui foram abatidos a tiros num posto de controle do Exército sudanês. Estilhaços de bombas dilaceraram inúmeros outros.
As doenças assolam o interior e muitos bebês que chegam a Yida nas costas das suas mães precisam receber alimentos por um tubo gástrico no hospital de campo.
Atualmente, dezenas de milhares de combatentes dos montes Nuba, equipados com tanques e artilharia, se recusam a depor armas enquanto o governo de Omar Bashir, dominado por árabes muçulmanos, continuar governando em Cartum. Bashir está no poder há 23 anos.
Eles se dizem oprimidos, em parte por serem cristãos e por não serem árabes. Não há perspectiva de fim da guerra.
Em Yida, cerca de 30 km ao sul da fronteira com o Sudão, o acampamento está se tornando permanente.
Funcionários da ONU dizem que o acampamento é perto demais da fronteira disputada. Já houve bombardeios em Yida, e as autoridades do campo se recusam a construir escolas ou distribuir sementes, dizendo aos cerca de 60 mil refugiados que se desloquem para o sul.
Mas os refugiados não se mexem, argumentando que o solo é ruim mais ao sul.
Muitas vezes, o bando de crianças, algumas com apenas 7 anos, era guiado por um professor ou combatente rebelde pelos pedregosos montes Nuba até Yida, numa viagem infernal que geralmente dura dez dias a pé.
Os exasperados líderes voluntários do campo estão tentando manter o local limpo, ordenando às crianças que varram o chão com galhos e esfreguem panelas com areia.
"Mas, a não ser que a guerra termine, vai ser muito difícil", disse o cuidador Ahmed Manoun. "Não vejo como essas crianças irão encontrar seus pais."
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