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24/08/2012 - 21h57

Inspetores descobrem avanços de programa nuclear do Irã

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DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Os inspetores nucleares internacionais em breve reportarão que o Irã instalou centenas de novas centrífugas nos últimos meses e pode estar acelerando a produção de combustível nuclear, enquanto as negociações com os Estados Unidos e seus aliados estão quase paralisadas, de acordo com diplomatas e especialistas informados sobre o trabalho de inspeção.

Quase todos os novos equipamentos estão sendo instalados em um site subterrâneo profundo localizado em uma base militar perto de Qum, considerada virtualmente invulnerável a ataques militares.

Isso sugere que as alegações dos líderes iranianos no mês passado "de que o país elevou em quase mil novas máquinas seu número de centrífugas, apesar da sabotagem ocidental" podem ser verdade.

O relatório também indicará, de acordo com pessoas que conhecem seu conteúdo, que o Irã está cada vez mais concentrado em enriquecer urânio ao nível de 20% - o grau de pureza de que o país diz necessitar para um reator nuclear especializado que suas autoridades insistem será usado apenas para propósitos médicos, mas que especialistas externos afirmam estar bem próximo do enriquecimento necessário ao urânio usado em armas nucleares.

O relatório não tenta determinar se o Irã tomou ou não a decisão de construir uma bomba atômica; agentes dos serviços de inteligência norte-americanos acreditam que não seja esse o caso, e o Irã insiste em que deseja usar a energia nuclear para fins pacíficos.

É improvável que o Irã já tenha começado a usar as novas centrífugas na produção de combustível, e mesmo com uma alta significativa na produção de combustível ainda seriam precisos meses, no mínimo, para que possa produzir uma bomba nuclear primitiva. De acordo com a maioria das estimativas do governo norte-americano, o Irã necessitaria de pelo menos dois anos para desenvolver uma ogiva funcional e instalá-la em um míssil.

DEBATE

Mesmo assim, o relatório dos especialistas da Agência Internacional de Energia (AIE), reportado inicialmente pela Reuters, provavelmente vai renovar o debate sobre as intenções do Irã, em um momento no qual as autoridades israelenses vêm intensificando seus alertas quanto ao fechamento da janela de oportunidade para um ataque militar preventivo.

Uma facção comandada pelo ministro da Defesa israelense Ehud Barak quase certamente argumentará que o Irã está mais perto do que Barak define como "zona de imunidade", o momento em que tanto equipamento estará instalado na instalação subterrânea de Fordow, que será tarde demais para que Israel impeça os iranianos de produzir uma arma, caso decidam fazê-lo.

O relatório também pode afetar a corrida presidencial nos Estados Unidos. O candidato republicano Mitt Romney usou uma viagem a Israel no mês passado para declarar que o presidente Barack Obama havia perdido tempo em negociações nucleares infrutíferas com o Irã, e que o Irã havia aproveitado esse tempo para levar adiante seu programa nuclear.

"Isso causará ainda mais discussão sobre o tempo que resta para diplomacia", disse Olli Heinonen, ex-inspetor chefe da AIEA e hoje pesquisador no Centro Belfer de Ciência e Assuntos Internacionais de Harvard, na quinta-feira.

"Mesmo que as novas centrífugas ainda não estejam operando, mil máquinas novas significam aumento de 20% -e um nível de produção ampliado será um alerta vermelho para muita gente".

ACORDO MAIS DIFÍCIL

O que também pode tornar um acordo diplomático mais difícil. Sob uma oferta apresentada pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais, com participação da Rússia, a Teerã, no final do trimestre passado, Teerã poderia reter alguma capacidade de enriquecimento de urânio se entregasse todo o seu estoque de urânio enriquecido a 20% e respondesse às perguntas dos inspetores internacionais sobre indícios de que trabalhou para desenvolver uma arma nuclear.

Ainda que autoridades iranianas tenham expressado algum interesse no plano, por canais privados, a proposta não avançou e não existem novas sessões de negociação na agenda, de acordo com funcionários do governo norte-americano. "Por enquanto, as negociações estão paralisadas", disse um membro importante do governo na quinta-feira.

Obama e seus assessores vêm tentando evitar uma crise quanto ao Irã em meio aos meses finais da campanha presidencial. Mas o relatório, que deve ser o último divulgado pela AIEA até o pleito, exporá uma realidade sombria.

A despeito de sanções cada vez mais dolorosas, e de um programa clandestino chamado "Olympic Games" (Olimpíadas, em inglês) que tenta retardar o programa nuclear iraniano por meio de ataques cibernéticos, o Irã fez progressos substanciais na produção de urânio enriquecido, nos últimos anos "" de volume suficiente para uma bomba, quando Obama assumiu em 2009, para o equivalente a cinco bombas hoje.

Mas o combustível requereria enriquecimento adicional considerável antes que possa ser usado em uma arma, e mesmo então, insistiram Obama e outros, os Estados Unidos quase certamente veriam indicações com antecedência suficiente para agir antes que o Irã desenvolva uma arma nuclear funcional. Mas os israelenses discordam quanto a isso.

CAPACIDADE NUCLEAR

A questão crítica que o relatório da AIEA deve promover quando for publicado, talvez já na quarta-feira, é a seguinte: até ponto o Irã se aproximou de adquirir uma "capacidade" bélica nuclear, ou seja, a capacidade de produzir uma bomba em prazo relativamente curto?

Os israelenses afirmam que o Irã não pode ser autorizado a atingir essa capacidade, posição que Romney pareceu endossar durante sua visita a Israel. Obama disse apenas que impediria o Irã de obter uma arma, e não determinou se valeria o risco agir para impedir que o Irã chegue muito perto da capacidade de construi-la.

Nas últimas semanas, dois importantes funcionários do governo, o secretário da Defesa Leon Panetta e o assessor de segurança nacional do presidente, Thomas Donilon, fizeram visitas separadas a Israel para convencer Barak e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu de que Obama fala sério em impedir que o Irã obtenha uma bomba.

Mas o governo israelense deixou claro que não confia nessas garantias e sugeriu que pode agir ainda que as limitações do poderio militar israelense signifiquem que o programa nuclear iraniano seria retardado em apenas dois anos.

Muita gente nas forças armadas e serviços de segurança israelenses está argumentando que esta não é a hora para um ataque, e Gabi Ashkenazi, recentemente reformado como chefe de Estado-Maior da Força de Defesa de Israel, expressou apoio aos ex-funcionários do governo israelense, instando Netanyahu, na quarta-feira, a procurar opções, como sanções adicionais ou novas ações clandestinas.

A argumentação israelense de que o Ocidente talvez não seja capaz de detectar os novos avanços iranianos será reforçada por outro elemento do novo relatório dos inspetores, que detalha os esforços do Irã para limpar um local há muito suspeito de abrigar instalações nucleares, perto de Parchin, nos subúrbios de Teerã.

É lá que a AIEA, com base em entrevistas com pelo menos um cientista e relatórios dos serviços de inteligência ocidentais, suspeita de que o Irã tenha conduzido testes relacionados à construção de armas.

Mas imagens de satélites sugerem que os iranianos passaram meses limpando o local, e quando os inspetores da AIEA forem autorizados a visitá-lo, se é que uma visita será permitia, todos os indícios do que aconteceu por lá podem ter sido erradicados.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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