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24/09/2012 - 05h00

Tempos de cerco na África

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ADAM NOSSITER
DO "NEW YORK TIMES", EM DACAR

Gás lacrimogêneo usado contra centenas de manifestantes em Togo. Prisões em massa de manifestantes na Guiné. Ataques guerrilheiros contra policiais e soldados na Costa do Marfim. Militantes que atiravam pedras e garrafas reprimidos à força no Gabão.

A situação é turbulenta nas capitais da costa oeste africana. A autoridade dos governos vem sendo contestada nas ruas, com emboscadas à noite ou com pedras e armas de fogo em plena luz do dia -e os governos vêm reagindo.

Independentemente de esses governos serem vistos como legítimos, como é o caso da Guiné ou da Costa do Marfim, ou suspeitos, como os do Togo ou do Gabão, o período é de cerco.

Todos esses núcleos de turbulência ilustram uma subcorrente persistente da vida política no lado ocidental do continente: onde há dúvidas internas quanto à legitimidade de governos, a estabilidade não passa de ilusão.

Esse padrão é agravado pela profunda disparidade de renda na África, que persiste não obstante seus índices impressionantes de crescimento econômico.

No Togo e no Gabão, o poder é dominado pelas mesmas famílias há décadas. Na Guiné e na Costa do Marfim, a ordem democrática parece ter chegado apenas recentemente. Mas todos esses países fervilham de incerteza debaixo da superfície.

O governo do Mali caiu neste ano, para espanto e choque de muitos que saudavam o país como exemplo democrático. Mas a queda foi recebida sem surpresa pelos malineses, que há muito tempo o consideravam corrupto demais para se manter de pé.

Em 2010, a Guiné conseguiu promover uma eleição presidencial legítima, a primeira de sua história, após mais de 50 anos de opressão autoritária. Um líder oposicionista veterano, Alpha Condé, que tinha sido preso e exilado pelos líderes tiranos que governaram o país por muitos anos, foi eleito num pleito avaliado como sendo justo.

Mas no fim do mês passado, seus policiais estavam reunindo dezenas de manifestantes, disparando gás lacrimogêneo contra a casa de um opositor político, atirando em manifestantes nos bairros pobres da capital, espancando e prendendo os manifestantes.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos denunciou a "força excessiva" empregada pela polícia. A oposição suspeita que Alpha Condé queira fraudar as eleições legislativas várias vezes adiadas.

Os problemas do país -instituições fracas, ódio étnico, forças de segurança brutais- não foram resolvidas pela eleição.

Na Costa do Marfim, o presidente Alassane Ouattara, ex-alto funcionário do Fundo Monetário Internacional, venceu a eleição de modo legítimo mas teve que tomar posse pela força, com a ajuda das Forças Armadas francesas, após uma guerra civil breve, mas sangrenta, que deixou 3.000 mortos.

Quase metade do país votou no adversário de Ouattara, Laurent Gbagbo.

Gbagbo está na prisão, aguardando julgamento no Tribunal Criminal Internacional por crimes contra a humanidade. Um número significativo dos cidadãos do país discorda das acusações feitas a ele e do direito de Ouattara de governar.

No Togo, manifestantes antigoverno vêm repetidas vezes saindo às ruas da capital, Lomé. Recentemente, a polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo contra centenas deles.

Os manifestantes do movimento Vamos Salvar o Togo temem que as próximas eleições parlamentares sejam fraudadas. As mulheres do movimento chegaram a convocar uma greve nacional de sexo.

Quando o general Gnassingbé Eyadéma morreu, em 2005, após 38 anos no poder, os militares instalaram em seu lugar seu filho Faure Gnassingbé.

Este venceu uma eleição dúbia em 2005 -uma vitória acompanhada pela morte de quase 800 manifestantes e a fuga de outros milhares para países vizinhos, segundo grupos togoleses de defesa dos direitos humanos- e outra em 2010.

O Gabão vive protestos violentos contra a família Bongo, que governa o país há 40 anos.

Parece pouco provável que a turbulência se acalme. "Os togoleses não fazem três refeições por dia", disse Jil-Benoït Afangbedji, um dos líderes do Vamos Salvar o Togo. "As autoridades ignoram nossas reivindicações. Mas não vamos nos calar."

 

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