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Análise: Mercosul tem vários problemas e a entrada da Venezuela não é um deles
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MONICA HIRST
ESPECIAL PARA A FOLHA
O protagonismo da Venezuela no tabuleiro político sul-americano é um tema de controvérsia já rebatido. Fonte de embates políticos sistemáticos, o chavismo é possivelmente a única forma de polarização que traz à lembrança um aspecto danoso da Guerra Fria: a exacerbação de diferenças ideológicas no lugar de um debate plural e democrático sobre opções de modelos econômicos.
Na América do Sul, este tipo de discussão foi já superado pela própria realidade, na qual se somam experiências de desenvolvimento sustentável e crescimento econômico, múltiplas formas de inserção nos circuitos globais do investimento e do comércio internacional e exitosas políticas de inclusão social.
A entrada da Venezuela no Mercosul abriu novo capítulo de confrontos, marcado pelo questionamento ao toma lá dá cá estabelecido com a crise institucional paraguaia, aos procedimentos jurídicos adotados e ao impacto político para o bloco. Não obstante, quando se sabem os percalços já enfrentados pelo grupo para avançar em seus próprios propósitos, percebe-se o caráter artificial desta reação. Os problemas do Mercosul são outros.
Mas existem outras ponderações quanto à presença regional da Venezuela, em especial o seu desempenho a favor de processos de paz, da cooperação e da estabilidade democrática sul-americana.
O primeiro ponto é a atuação venezuelana como parceiro pró-ativo da cooperação Sul-Sul regional, especialmente (mas não apenas) no marco da Alba. Relevante no Caribe, na América Central e do Sul, essa cooperação adquiriu importância local e reconhecimento internacional. Destacam-se ações no Haiti, antes do terremoto e após.
Em segundo lugar, deve-se mencionar o papel de acompanhante formal (ao lado do Chile) na negociação de um acordo de paz na Colômbia lançada recentemente pelo governo Santos.
Esse é um desfecho ansiado há várias décadas, que conta com o apoio de Cuba e Noruega e assegura uma negociação inclusiva com assento para todas as partes em conflito.
O terceiro ponto é o papel da Venezuela como o país que inaugurará a prática da observação eleitoral da Unasul. Não é um fato trivial, dada a carga de expectativas sobre as eleições presidenciais.
A associação entre a legitimidade do processo eleitoral venezuelano e a presença política da Unasul favorece por si mesmo o componente democrático da construção comunitária sul-americana.
MONICA HIRST é professora da Universidade Nacional de Quilmes e bolsista do Ipea
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