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Campanha marca mudança geracional na oposição venezuelana
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FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
Na Venezuela pós-Hugo Chávez democracia quer dizer justiça social, e quem insistir em debater conceitos ideológicos com o atual presidente e martelar sobre ataques a liberdade de expressão vai perder a batalha do eleitorado. É com base nessa consigna que se montou a campanha do candidato a presidente opositor Henrique Capriles, que marca uma mudança geracional e de conduta na oposição ao chavismo.
Apesar de concorrer pela MUD (Mesa de Unidade), o núcleo da campanha é fechado em torno do Primeiro Justiça, a legenda centro-direitista que nasceu de uma defecção do tradicional partido conservador venezuelano Copei.
Capriles, que se diz progressista e lulista, e um punhado de próximos colaboradores decidiram estrear um discurso "paz e amor" para os padrões de polarização da política venezuelana desde 2000: sem ataques aos programas sociais governistas, centrado no maior flanco de Chávez, a falta de continuidade dos projetos e a ineficiência.
David Smilde, especialista em Venezuela e professor da Universidade da Geórgia, a oposição sempre aceitou gratamente a proposta de polarizar com Chávez, porque não acreditavam que ele tinha força eleitoral real e, quando perdiam, reclamavam de fraude.
"Nas campanhas passadas, a oposição respondeu alegremente aos esforços de Chávez para polarizar com suas próprias ações e retóricas polarizadoras, convencidos de que simplesmente a população ia 'acordar' para os perigos de Chávez e mudar o voto", escreveu Smilde no blog que comanda sobre Venezuela no centro de estudos Wola (Escritório em Washington para a América Latina, na sigla em inglês), em Washington.
"A campanha de Capriles representa uma importante inovação por ter entendido isso e quebrado essa lógica, mesmo que parte de seus apoiadores não tenha feito o mesmo", seguiu ele.
EX-CHAVISTA
O ex-governador do Estado de Miranda, o segundo mais populoso do país, fez ainda uma aliança tática com Leopoldo López, outro representante jovem e de partido próprio na oposição. López, fundador da legenda Vontade Popular, desistiu de concorrer à vaga de candidato da oposição após a Justiça Venezuela se negar a seguir uma sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que considerou ilegal sua inabilitação política.
O ex-prefeito do rico município de Chacao, um dos cinco que formam Caracas, tornou-se coordenador nacional da campanha de Capriles, dedicado a mobilizar militância para trabalhar como observador nas mesas de votação.
López tem um interesse imediato: fazer campanha intensa para o seu partido. É que, no próximo domingo, o eleitor vai poder votar em Capriles assinalando "x" na foto do candidato ao lado da legenda Vontade Popular ou do Primeiro Justiça e mais um punhado de partidos da MUD, permitindo medir a força eleitoral de cada legenda.
A união de Capriles e López também reúne dois grandes poderosos grupos empresariais do país. O maior grupo privado venezuelano, a gigante de alimentos e bebidas Polar, ligada a Leopoldo López, e o grupo Capriles, conglomerado de comunicação e outros negócios, da família ex-governador.
O candidato também forjou uma aproximação com Henri Falcón, o popular governador do Estado de Lara que deixou o chavismo em 2010 e se vende como "esquerda eficiente".
É em Lara que Capriles vai encerrar a campanha na quinta-feira e tudo indica que, num caso de vitória da oposição, ele seria nomeado vice-presidente executivo -o cargo não vai na chapa, é de livre escolha do presidente. A movimentação mostra a clara intenção de Capriles e do Primeiro Justiça de se descolar cada vez mais de seus desafetos dentro da MUD, principalmente a dirigência do tradicional partido social-democrata do país, AD (Ação Democrática).
Ao que parece, o cálculo é correto, já que a maior parte do eleitorado, especialmente as classes D e E, rejeitam a velha ordem partidária pré-Chávez.
"Estou em dúvida. Eu sou chavista, mas minha família quer me convencer a votar em Capriles. Eu queria votar, mas fico pensando nesses adecos [da AD] e copeianos [Copei] colados nele", disse neste domingo Alexander Lugo, 46, taxista e ex-funcionário público. "Acho que Capriles tem um discurso mais tranquilo, mais controlado. Seria bom provar uma coisa diferente."
CENSURA NA TV
A campanha tem menos dinheiro que a chavista, mas logística azeitada, e conta com os marqueteiros brasileiros Chico Mendez e Renato Pereira. A campanha sofre percalços até para emplacar spots na TV privada. A maior emissora privada da Venezuela, a Venevisión, do magnata Gustavo Cisneros, vetou uma propaganda de Capriles em que um pequeno comerciante que teve um negócio expropriado dizia que não era "burguês" nem "oligarca".
A TV, que fez um pacto de convivência com o chavismo após a não renovação do canal RCTV em 2007, não deu explicações para o veto. Segundo relatório recente da ONG Human Rights Watch a autocensura é um fenômeno em aumento em rádios e TVs venezuelanos.
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