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Campanha americana ignora aborto, gays e armas
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RAUL JUSTE LORES
DE NOVA YORK
As 'guerras culturais' saíram do primeiro plano da campanha presidencial norte-americana.
O presidente Barack Obama defendeu o casamento gay em maio, sem causar escândalo. Uso de retórica antiaborto para amealhar votos é condenado rapidamente.
Os temas mais polarizadores dessa agenda, aborto, porte de armas, casamento gay e política contraceptiva, ficaram de fora do primeiro debate entre os presidenciáveis, que tratava de assuntos domésticos.
Em 2004, a reeleição do presidente George W. Bush contou com o empurrão de 11 plebiscitos para se decidir a proibição do casamento gay em vários Estados do país.
A ideia foi de Karl Rove, marqueteiro-mor de Bush, que contava tirar milhões de casa para se manifestarem contra os gays. Nos 11 Estados onde houve plebiscito, a proibição do casamento foi aprovada, Bush levou os votos e foi reeleito.
Rove continua como mandachuva, agora na campanha do oposicionista Mitt Romney, e o assunto foi relegado para escanteio.
Em pesquisa do instituto Pew, no ano passado, pela primeira vez a maioria dos americanos (51%) era favorável ao casamento gay (em 2004, apenas 39%). Entre os menores de 35 anos, a aprovação chegava a 70%.
GUERRA ÀS MULHERES
O fenômeno mais parecido às guerras culturais na campanha de 2012 é apelidado de "guerra às mulheres". Trata-se das posições de diversos candidatos republicanos ao Congresso contra o financiamento de planejamento familiar e de campanhas contraceptivas, e do ataque ao aborto mesmo em casos em que houve estupro.
Democratas têm acusado os republicanos de guerra contra as mulheres, mas o assunto ficou de fora da campanha nacional. Romney ignora o tema.
Outros temas que costumam causar confrontos entre democratas e republicanos não tiveram grandes mudanças de aprovação na última década.
O apoio ao aborto legal (53%) é o mesmo que em 2002 (41% se opõem).
O direito ao porte de armas de fogo é mais polarizador que o casamento gay: 49% defendem o direito ao porte, enquanto 45% querem maior controle.
Entre os democratas, 67% preferem mais controle, enquanto 72% dos republicanos defendem a liberdade de se ter uma arma.
Apesar de chacinas recentes, o assunto é invisível na campanha.
"Temas econômicos e de segurança nacional dominam o debate e as lideranças republicanas estão lutando para se afastar das posições mais radicais", disse à Folha o colunista Frank Bruni, do "New York Times.
Gay e um dos editorialistas do jornal, Bruni, 47, relembra que, na última convenção republicana, nenhum homossexual foi convidado a discursar e representar o partido, mas que também não houve ataques ao casamento gay no "horário nobre" do evento.
"As pesquisas dizem que a sociedade americana está mais favorável ao casamento gay e a oposição nos dois partidos está seguindo essa tendência", diz.
CELEBRIDADES
Mas ele também nota que os gays se fizeram mais ouvidos porque há uma importante dinâmica que segue as fontes das doações de campanha. "Os gays souberam demonstrar que são muito capazes em arrecadação, tornando-se mais influentes, como resultado."
Celebridades gays, como Ricky Martin, Ellen De Generes e Neil Patrick Harris promoveram jantares para arrecadar fundos para a campanha de Obama.
Saindo do palanque, o assunto vai para o Judiciário. A Suprema Corte pode decidir ainda este ano processos que recorrem pela aprovação do casamento gay. A Corte aprovou o aborto em 1973.
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