Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
11/10/2012 - 11h46

Biden se prepara para atacar em debate contra Ryan

Publicidade

ED PILKINGTON
DO "GUARDIAN"

Quando Joe Biden foi visto pela última vez num debate nacional, quatro anos atrás, a moderadora Gwen Ifill perguntou se ele concordava que o ponto fraco que as pessoas discerniam nele era a falta de disciplina.

O então senador respondeu: "Você é muito gentil por sugerir que meu único calcanhar de Aquiles seja a falta de disciplina. Outros falam de minha veemência excessiva."

Fotomontagem
O atual vice-presidente dos EUA e democrata Joe Biden (e); o republicano e candidato a vice Paul Ryan
O atual vice-presidente dos EUA e democrata Joe Biden (e); o republicano e candidato a vice Paul Ryan

Na noite de quinta-feira, quando Biden vai ficar diante das câmeras de TV em Danville, Kentucky, para enfrentar seu rival para a Vice-Presidência, Paul Ryan, ele terá que superar os dois problemas e demonstrar disciplina somada a veemência grande, se bem que não excessiva.

Os trunfos em jogo são altos: depois da atuação de Barack Obama no debate presidencial da semana passada, a posição do presidente nas sondagens descreveu um mergulho, enquanto a chapa Romney-Ryan saiu revigorada.

Cabe agora a Joe Biden --político que, como vice-presidente, passou boa parte dos últimos quatro anos longe dos holofotes-- ter a melhor atuação de sua carreira política. "Ele precisa reposicionar o debate", comentou Darrell West, especialista em governo e mídia no Brookings Institution.

"A performance fraca de Obama permitiu a Mitt Romney mudar totalmente o modo como apresenta seu histórico. Os democratas não podem deixar que isso aconteça outra vez. Espero que Biden seja agressivo ao chamar a atenção às diferenças entre as duas campanhas nas questões mais importantes."

Biden, 69, passou os últimos três dias fechado em sua casa em Wilmington, Delaware, fazendo um trabalho intensivo de preparação com a ajuda de uma equipe de assessores comandada por David Axelrod, o estrategista chefe de reeleição de Obama.

ENSAIOS

Biden vem ensaiando com o deputado Chris Van Hollen, do Maryland, que representou o papel de Paul Ryan, e vem estudando em profundidade as posições de seu adversário com relação a várias questões, tendo feito uma análise textual detalhada do livro co-escrito por Ryan, "Young Guns".

A implicação é clara: Biden vai fazer tudo o que puder para não repetir os erros de Obama na semana passada, quando o presidente foi visto como sendo passivo demais em seu embate com Romney. "Biden vai estar muito atento a qualquer tentativa de Ryan de mostrar-se como sendo mais moderado do que é realmente", disse West.

Fica claro que os assessores têm consciência da necessidade de Biden explorar as contradições embutidas as posições de seu adversário --de uma maneira que Obama não fez com Romney.

Jennifer Psaki, secretária de imprensa da campanha de reeleição de Obama, disse a um grupo de jornalistas no avião presidencial, esta semana, que "a questão aqui é qual Paul Ryan vai comparecer ao debate esta semana? Será o Paul Ryan que tem feito afirmações enganosas sobre tudo, desde seu tempo de conclusão de uma maratona até detalhes e questões específicas que ele incluiu em seu discurso na convenção? Ou será o Paul Ryan que propôs ansiosamente a 'voucherização' do Medicare e a redução dos impostos pagos por milionários e bilionários? Estaremos atentos para ver."

Robert Barnett, o maior dos preparadores para debates, alguém que já ajudou candidatos democratas em nada menos que oito corridas presidenciais desde 1976 e que faz parte da equipe de preparação de Obama e Biden este ano, disse que, em última análise, sempre é mais importante focar sobre diferenças políticas substantivas que sobre gafes ou frases de efeito.

Ele observa que a frase de efeito mais famosa de todos os debates vice-presidenciais --"senador, o senhor não é nenhum Jack Kennedy"-- foi proferida contra Dan Quayle por Lloyd Bentsen, que, apesar dessa fala contundente, foi derrotado juntamente com Michael Dukakis na eleição de 1988.

Barnett também observa que, no debate da semana passada entre Romney e Obama, "houve um contraste claro em questões importantes, e não um foco sobre frases de efeito. Quando a discussão é substantiva, isso resulta num debate melhor."

Com esse ponto em mente, é pouco provável que Biden repita a omissão inexplicável de Obama, que deixou de mencionar o histórico de Romney na firma de gerenciamento de ativos Bain Capital e os comentários notórios do candidato republicano sobre os 47% de americanos dependentes. E haverá muito a atacar em termos do histórico de seu adversário imediato.

'SUJEITO POWER POINT'

Sendo um estudioso confesso de políticas públicas que se descreve como um "sujeito PowerPoint", Ryan, 42 anos, levará para o debate uma profusão de propostas estratégicas que já lhe proporcionaram credenciais impressionantes em Washington, mas o deixaram exposto a ataques democratas.

O primeiro lugar nessa lista é o do orçamento de Paul Ryan, que contraria a afirmação feita por Romney na semana passada de que pretende não mudar os impostos sobre os americanos mais ricos.

O orçamento proposto por Ryan prevê uma redução para 25% dos impostos sobre os super-ricos e um aumento concreto dos impostos cobrados dos americanos mais pobres, devido à eliminação das isenções fiscais para as pessoas de baixa renda.

E há o Medicare, o seguro nacional de saúde para pessoas com mais de 65 anos, que, essencialmente, Ryan propôs privatizar para quem hoje tem menos de 55. Ele se mostrou igualmente ousado em suas propostas para o Medicaid, o seguro nacional de saúde para famílias pobres, traçando planos que, segundo sugerem analistas independentes, reduzirão o orçamento do Medicaid em um terço nos próximos dez anos.

Darrell West, o especialista do Instituto Brookings, prevê que Biden também mencione as posições controversas de Ryan sobre o aborto --outra área em que o candidato republicano a vice está em discordância com o novo Romney moderado mostrado em Denver na semana passada.

ÓVULO

Tudo o que Biden precisa fazer é observar que Ryan defendeu uma legislação que garantiria ao óvulo fertilizado todos os direitos legais de uma pessoa, e que quem co-patrocinou o projeto de lei com ele foi justamente Todd Akin, o republicano do Missouri que em agosto causou assombro em todo o mundo ao declarar que mulheres que foram "legitimamente" estupradas raramente engravidam.

"A questão do aborto é uma boa maneira para Biden buscar o apoio de eleitoras que estão indecisas quanto a votar em Obama", disse West.

Mas uma coisa que Biden não pode pressupor é que Paul Ryan será pego desprevenido por perguntas relativas a suas posições. Embora seja inexperiente em debates nacionais, o parlamentar de Wisconsin está fazendo sua própria preparação para o debate, há vários dias, e já disse estar preparado para uma ofensiva de Joe Biden.

"Prevejo que o vice-presidente vai me atacar como uma bala de canhão", ele disse ao conservador "Weekly Standard".

Tudo isso garante um debate potencialmente instigante, depois do embate presidencial um tanto quanto morno da semana passada. Joe Biden tem calcanhares de Aquiles diversos, mas ser monótono não é um deles.

Tradução de CLARA ALLAIN

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página