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22/10/2012 - 03h40

Mulheres chinesas enfrentam barreiras para entrar na universidade

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DIDI KIRSTEN TATLOW
DO "NEW YORK TIMES"

PEQUIM - No final de agosto, em Pequim, Xiong Jing e duas amigas rasparam suas cabeças em protesto contra uma tendência crescente nas universidades chinesas. Cada vez mais, as mulheres precisam ter notas mais altas que os homens para ingressar nas universidades, enfrentando cotas de gênero não oficiais, mas amplamente praticadas, que favorecem os homens.

As três amigas ficaram furiosas quando, em agosto, o Ministério da Educação declarou que as práticas atendem ao "interesse nacional". De acordo com Xiong, 20 pessoas ao todo na China rasparam as cabeças em protesto contra as normas.

"A resposta do Ministério da Educação nos deixou ultrajadas", disse Xiong. "É lamentável e é ilegal. A Lei da Educação proíbe a discriminação de vários tipos, incluindo a de gênero. E o Ministério da Educação está permitindo isso."

Ninguém sabe ao certo quando foram implementadas as cotas e as notas de admissão baseadas no gênero dos estudantes. Mas elas parecem ser uma prática enraizada, segundo reportagens da mídia chinesa, que publicou os critérios de ingresso no "gaokao", o vestibular nacional. A prática começou em 2005, em resposta ao aumento do número de mulheres que ingressavam nas universidades, onde elas estão começando a superar em número os estudantes homens em alguns cursos, especialmente os de línguas.

Em 2004, 43,8% dos estudantes de graduação eram mulheres, porcentagem que subiu para 49,6% em 2012, segundo cifras do Ministério da Educação. Nos programas de mestrado, as mulheres compunham 44,1% dos estudantes em 2004 e 50,3% em 2010. Dos candidatos a doutorado em 2010, 35,4% eram mulheres, contra 31,3% em 2004.

Em julho, o jornal "Southern Metropolis Daily", de Guangzhou, disse que a discriminação no vestibular é "extremamente clara", chamando isso de "a diferença homens-mulheres".

"Nos cursos de ciências da Universidade Chinesa de Ciência Política e Direito, as mulheres precisam marcar 632 pontos, mas os homens apenas 588", informa o jornal, que deu exemplos semelhantes de outras faculdades.

A prática é especialmente entrincheirada nas escolas de línguas e nas universidades ligadas à polícia ou às Forças Armadas. Em julho, segundo a reportagem, a Universidade de Estudos Internacionais de Xangai teria reduzido os critérios de ingresso de candidatos homens nos cursos de hebraico, árabe, ucraniano, coreano e russo.

Para Xiong Jing, os administradores universitários "acham que os países árabes não querem tratar com mulheres. Por isso, eles dificultam o acesso de mulheres aos cursos de árabe."

"Em vista de considerações de interesse nacional", respondeu o ministério, para atender às necessidades de formação de pessoal em algumas especialidades, "algumas faculdades podem ajustar as proporções de matrícula de homens e mulheres".

De acordo com o "21st Century Business Herald", He Qin, o vice-presidente da União dos Estudantes da Escola de Idiomas Estrangeiros da Universidade Agrícola Huazhong, na província de Hubei, disse que a falta de estudantes homens cria problemas práticos. Ele teria declarado que, no início de cada semestre, novas estudantes mulheres chegam "uma após a outra".

"Temos que conduzi-las até os dormitórios, e, devido à insuficiência de mão de obra, elas precisam carregar suas próprias malas até o sexto andar. As mãos doem a ponto de provocar a perda de consciência."

Na China, nascem 118 meninos para cada cem meninas. Dessa forma, mais homens do que mulheres deveriam estar ingressando nas faculdades. Mas, sob a política nacional do filho único, as meninas passaram a receber o mesmo apoio e atenção que antes era dado apenas a seus irmãos, e isso explica seu avanço, dizem especialistas.

Ouyang Le, recém-saída do ensino médio, queria estudar na Universidade de Relações Internacionais. Ela tinha marcado 614 pontos no "gaokao", mas, por ser mulher, precisava atingir 628. Se ela fosse um homem, teriam bastado 609 pontos.

Xiong disse que Ouyang, que contatou as ativistas, é um caso raro. A maioria das mulheres prejudicadas não se manifesta -apenas procura entrar em uma universidade ou curso diferente. "Elas são jovens e inexperientes. Em muitos casos, seus pais as aconselham a não causar problemas."

 

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