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28/10/2012 - 06h18

Mercenários eram até 40% da força líbia

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RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A ÁGUAS DE LINDÓIA

Um jovem pesquisador brasileiro se aventurou em meio ao recente conflito na Líbia para obter dados para seu doutorado. E descobriu muita coisa.

Por exemplo, que as forças do ditador Muammar Gaddafi, morto ano passado, eram compostas em altíssimo grau por mercenários: entre 30% e 40%, algo inédito em um Estado contemporâneo.

Fernando Brancoli é doutorando em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas, uma iniciativa conjunta de três universidades paulistas -Unicamp, Unesp e PUC-SP.

Brancoli, fluente em árabe, esteve em Benghazi, em Trípoli e na fronteira com a Tunísia. Entrevistou mercenários, incluindo, curiosamente, dois angolanos.

Pôde perceber que o líder líbio era eclético na hora de contratar soldados de aluguel: africanos de vários países ao sul do Saara, egípcios, sérvios, pessoal de países da Europa do leste, e mesmo uns raros americanos.

Ele também teve acesso a um tesouro saqueado e levado para a Universidade George Washington, nos EUA: documentos pessoais do ditador, muitos deles discursos inéditos, incluindo vídeos, tirados do seu "bunker".

"Baboseiras", resumiu Brancoli. O pesquisador falou ao 36º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), na semana passada em Águas de Lindóia (SP).

Gaddafi falava muito da "época de ouro" do islã, o distante século 12, e comenta sobre a decadência islâmica posterior. Um tema recorrente é a criação de estruturas políticas e militares pelo Ocidente para supostamente prejudicar o islã.

O líbio tinha concepções curiosas sobre política internacional. "O tratado de Westfália é o grande problema do Islã", pensava Gaddafi.

CÃES DE GUERRA

Trata-se de um conjunto de tratados assinados em 1648 que colocaram fim à Guerra dos Trinta Anos e que estão na base das relações internacionais modernas, estabelecendo princípios como a soberania do Estado-nação, e forças armadas nacionais.

Talvez por isso ele fazia questão de empregar mercenários e zombava das convenções internacionais contra o emprego destes "cães de guerra".

Uma maneira de evitar contestações é conferir nacionalidade ao mercenário. Gaddafi não fazia isso, segundo Brancoli.

"Ao contratar não nacionais para compor suas Forças Armadas, o ditador líbio estaria ameaçando uma das estruturas basilares das relações internacionais, o monopólio estatal do uso da força", diz Brancoli.

Os Estados Unidos eram altamente críticos disso; ironicamente, a necessidade de mais tropas fez com que surgissem empresas militares privadas americanas, como a Blackwater,
empregadas em lugares como o Iraque e o Afeganistão.

"Tais mercenários estabeleceram relações não-formais com os soldados regulares, formando um verdadeiro Exército híbrido, composto por estrangeiros contratados e cidadãos líbios.

Apesar de juridicamente não estarem consagrados, há registros, inclusive, de soldados contratados comandando regimentos formais, com combatentes formais sendo liderados por um estrangeiro contratado", declarou o pesquisador.

 

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