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05/11/2012 - 04h15

Opinião: Campanha de Obama volta ao trabalho

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ROGER COHEN
ESPECIAL PARA O "NEW YORK TIMES"

Seja qual for o resultado da eleição nos EUA, os grandes erros da campanha de Barack Obama continuarão sendo analisados por muito tempo. Todo o romantismo de 2008 acabou.

A palavra de ordem no comitê de Obama é "trabalho". Para vencer amanhã, o presidente precisa labutar por cada voto.

A campanha obamista gastou, nos últimos meses, milhões de dólares em anúncios que buscavam retratar o rival Mitt Romney como o monstro da Bain Capital e o plutocrata usurpador sem um pingo de humanidade. Mas os democratas viram esse esforço virar fumaça quando Romney, deslocando-se para o centro, pareceu meramente um ser humano durante os três debates.

Romney emergiu dos confrontos como um presidente viável, feito que seria capaz de virar o jogo. Esse sucesso foi semeado no primeiro debate -só existe uma chance de passar uma primeira impressão- e consolidado no segundo e no terceiro, embora a performance de Obama tenha melhorado.

No primeiro debate, um desastre para Obama, os americanos acabaram vendo um presidente cuja inteligência e competência poucos questionam, mas que era frio. Obama estava laborioso e condescendente, um intelectual obrigado a se submeter a um ritual que ele claramente via como perda de tempo. Quando despertou para a importância dos debates, ele passou a ser petulante e agressivo demais.

Àquela altura, a dinâmica da eleição mudou. Uma vez que Romney se tornou plausível e que quase 70 milhões de americanos viram o lado menos apreciável de Obama, o perturbador cenário econômico voltou a ter lugar de destaque na campanha.

Uma coisa é se preocupar com a economia quando não parece haver uma alternativa real, outra é quando surge um possível líder.

Embora haja lampejos de recuperação, e o país tenha melhorado muito desde 2008, o desemprego e a preocupação continuam grandes. Os americanos fazem a mesma pergunta que Romney tem colocado com grande efeito: se é possível tolerar mais quatro anos do mesmo.

Obama certamente vencerá em Illinois, Estado onde fez carreira política. Mas fiquei surpreso, aqui em Chicago, com a veemência dos empresários contra ele, sendo que muitos estão convencidos de que ele é, por temperamento, contrário às empresas, por mais que tente esconder isso.

Um membro do Conselho Empresarial da Casa Branca me disse estar perplexo com o pouco interesse que Obama demonstra durante as reuniões sobre as opiniões e as preocupações dos líderes empresariais.

Em Cleveland, em Ohio, que pode ser o Estado mais decisivo da eleição, conversei com Thomas Kish, um ex-marine negro que trabalha com segurança e que foi democrata a vida toda. Ele disse que está preocupado que os EUA caiam "morro abaixo" e que está em dúvida sobre em quem votar. "Vi todos aqueles comerciais [de Obama] que colocam Romney para baixo, mas o vi nos debates e gostei da agressividade dele."

Ohio, segundo a maioria das pesquisas, está em situação de empate. Nenhum republicano jamais conquistou a Casa Branca sem vencer por lá.

Topei em Cleveland com várias famílias divididas, nas quais os homens pareciam inclinados por Romney, ao passo que as mulheres eram veementes em sua oposição a ele, por causa das posições do candidato em questões sociais e da sua crença de que "o próximo passo correto para a Suprema Corte é reverter a Roe versus Wade", a decisão judicial de 40 anos atrás que instituiu o direito ao aborto.

Como em muitos outros temas, Romney mudou de posição a respeito do aborto. O falecido Ted Kennedy o chamava de "múltipla escolha". Em 1994, Romney disse: "Acredito que o aborto deva ser seguro e legal no país". Mais do que isso, prometeu: "Vocês nunca me verão cedendo a esse respeito".

Já chega das promessas de Romney. Ele deveria manter seu bom-senso de 1994.

O fato é que Romney está em todas -falando de impostos, aborto, Irã e Palestina. Por muito tempo, ele soou belicoso. Agora, parece comungar com os espíritos de John Lennon e de Mahatma Gandhi. Mas, numa economia fraca, parece possível que os americanos estejam dispostos a ignorar tudo isso, pois, de todos os erros da campanha de Obama, esse foi o que permitiu que Romney tirasse a diferença.

Agora, Obama vai ter que penar. Isso significa levar grupos eleitorais cruciais -mulheres, negros, latinos e pobres- às urnas em grande número. Ele ainda pode conseguir, mas nos últimos dois meses ele pouco fez para se ajudar. A emoção o elevou. Ele deveria ter confiado mais nela.

 

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