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14/11/2012 - 07h01

Próximo premiê da China participou de eleições na universidade

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SIMON RABINOVITCH
DO "FINANCIAL TIMES", EM PEQUIM

Li Keqiang, o próximo primeiro-ministro da China, é o único dos dirigentes do primeiro escalão do partido a ter participado de uma eleição competitiva.

Isso ocorreu em 1980, quando foi eleito para comandar a organização estudantil da Universidade de Pequim, onde na época as ideias políticas liberais eram moda. Em breve poderemos saber se essa experiência juvenil de democracia exercerá alguma influência sobre a postura de Li.

Quando o Partido Comunista revelar a nova liderança, nesta semana, Li assumirá a segunda posição na hierarquia, e em março do ano que vem substituirá Wen Jiabao como primeiro-ministro.

Quaisquer esperanças de que ele tenha inclinações reformistas estariam baseadas em seus dias de universidade, quando ele não só apoiou eleições livres e abertas como estudou inglês e direito, orientado por um professor que lecionava democracia constitucional. Li não esqueceu seu aprendizado de idiomas. Fala o melhor inglês entre os principais líderes chineses -eficaz mas não fluente. Mas parece ter deixado boa parte de seu idealismo de lado, ao ascender na hierarquia política.

Wang Juntao, antigo colega de universidade que se exilou e luta pela democracia do exterior, escreveu sobre um encontro com Li quase uma década após a formatura: "Senti que seu caráter já não era tão independente, e percebi certo ar de desilusão".

O episódio mais revelador na carreira de Li foi sua condução do escândalo de Aids em Henan, uma Província pobre no centro do país da qual ele serviu como governador no final dos anos 90.

Os aldeões recebiam pagamentos para doar sangue que era reinjetado após extração de plasma. Dezenas de milhares de lavradores foram infectados quando receberam sangue restituído contaminado por HIV. Quando surgiram reportagens sobre o acontecido, Li reprimiu a mídia e os ativistas. Seu governo precisou de quase cinco anos para admitir o problema.

Li foi criticado por sua indecisão, nos círculos oficiais, uma reprovação às suas capacidades de liderança que continua a ser repetida ainda atualmente. Mas contava com duas vantagens que o protegeram e o ajudaram a chegar ao topo do sistema.

Primeiro, contava com um poderoso patrono político, o presidente Hu Jintao. Li atraiu a atenção de Hu quando trabalhou na Liga da Juventude Comunista, a organização do partido para treinar quadros adolescentes e jovens. Hu dirigiu a liga na metade dos anos 80 e Li ocupou o mesmo posto no início da década de 90.

Quadros egressos da liga formam uma facção política na China, e Hu desejava que seu protegido o sucedesse na Presidência, mas teve de aceitar o posto de primeiro-ministro para ele quando uma facção rival, a dos chamados pequenos príncipes, descendentes dos líderes revolucionários chineses, conseguiu impor um de seus membros, Xi Jinping, para a Presidência.

A segunda vantagem de Li é que ele é visto como bom condutor da economia -uma vantagem importante porque a economia é a principal responsabilidade do primeiro-ministro. "A impressão dominante que Li deixa é a de ser um bom burocrata do partido", disseram contatos chineses a diplomatas norte-americanos depois que Li foi selecionado em 2007 para ser o próximo primeiro-ministro, de acordo com um cabograma revelado pelo WikiLeaks.

Li tem mestrado em direito e doutorado em economia pela Universidade de Pequim, onde foi orientado por Li Yining, um dos pioneiros das reformas pró-mercado no país.

Nos últimos cinco anos, Li foi vice-presidente do grupo de trabalho de finanças e economia do Comitê Central, a segunda mais importante posição no comando da economia, abaixo de Wen.

Li merece crédito, portanto, por ajudar a conduzir a China durante a crise econômica mundial, deixando o país em situação melhor que a de virtualmente qualquer outra nação do planeta, ainda que críticos digam que o preço desse sucesso são dívidas cujo custo ainda não se fez sentir.

Ele aparentemente também desempenhou papel importante no relatório sobre a China em 2030 produzido pelo Banco Mundial e pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, uma organização de pesquisa controlada pelo gabinete chinês. A principal recomendação do texto é limitar o poder econômico das estatais.

Isso alimentou otimismo quanto à possibilidade de que, embora tenha abandonado suas ideias políticas reformistas ainda na universidade, Li talvez proponha reformas econômicas que conduzirão a segunda maior economia do mundo a um modelo de crescimento mais sustentável.

Wen recebeu severas críticas por fazer pouco como primeiro-ministro a despeito de sua retórica de mudança. Se a agenda de Li se provar menos ambiciosa, ele talvez possa realizar mais. "Li Keqiang será mais efetivo que Wen Jiabao", disse Bo Zhiyue, especialista em política chinesa na Universidade Nacional de Cingapura. "Wen tentou promover reformas demais -sociais, políticas e econômicas. Li terá mais concentração."

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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