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28/12/2012 - 06h25

Plano de chavista para adiar posse é 'golpe institucional', diz ex-aliado

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FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO

Enquanto a Venezuela debate que caminho legal seguir caso Hugo Chávez não assuma seu novo mandato em 10 de janeiro, um influente ex-aliado do governo acusa o presidente da Assembleia Nacional, o chavista Diosdado Cabello, de planejar um "golpe institucional" para adiar ao máximo novas eleições.

Heinz Dieterich, cientista político alemão e ideólogo do dito "socialismo do século 21", atacou Cabello num conhecido site do chavismo, provocando dezenas de reações, incluindo a do próprio.

Na TV, Cabello chamou Dieterich de "chulo" (parasita) da revolução. Ontem, o alemão radicado no México desafiou o chavista a aceitar auditoria sobre seu patrimônio --Cabello é acusado de ter enriquecido no governo.

Em entrevista à Folha, por e-mail, Dieterich, que rompeu com o chavismo em 2007 por discordar da reeleição indefinida, diz que Cabello "inspira temor" até no próprio Chávez por ter comandado serviços de inteligência e tenta "ignorar" o "testamento político" do presidente, que designou o vice Nicolás Maduro como seu sucessor.

*

Folha - Por que o sr. comparou Cabello a Stálin? De onde vem o poder dele de que falam?
Heinz Dieterich - Comparei a manipulação do testamento político do fundador da revolução soviética [Lênin] por Stálin com a tentativa de manipulação do testamento político de Hugo Chávez por Cabello. Parte do poder de Cabello vem de sua participação nas estruturas formais de poder do Estado e do partido (PSUV), nas quais ocupou ministérios de muito poder, informação e dinheiro. Hoje é presidente da Assembleia e vice-presidente do PSUV.

A outra parte vem de estruturas informais de poder e de seu modus operandi. Em algum momento, há que se falar disso com mais detalhe.

Agora, basta dizer que, como ministro do Interior, foi chefe dos serviços de inteligência (2002-3) e que, sendo tenente reformado, teve forte influência nas listas de promoção de altos oficiais.

Se Chávez não confiava nele, por que permitiu que ele fosse presidente da Assembleia?
Pelo que disse: Cabello tinha informação e não tinha escrúpulos em usá-la. Quer dizer: inspirava temor. Podia controlar a direita na Casa.

Como descreveria as facções no chavismo? Onde os cubanos ficam nesse cenário?
As facções decisivas são os governadores, os ministros, a Assembleia, o Tribunal Supremo de Justiça e as Forças Armadas. Cabello lidera o que era a fração mais poderosa. O testamento político do presidente neutralizou esse monopólio criando um poder equivalente, com Maduro à frente. Usando um conceito estatístico: a cena política venezuelana agora é bimodal. As demais figuras, como Rafael Ramírez [presidente da PDVSA], se colarão a um dos polos. Ramírez ao de Maduro.

Os cubanos não têm influência na sucessão, não têm poder real na Venezuela. Os militares são fiéis a Chávez. Este é o fator chave.

O que esperar do 10 de janeiro na Venezuela?
Maduro não pode aceitar a tentativa de golpe de Estado institucional de Cabello. E é provável que Chávez imponha Maduro contra Cabello. Não é uma crise constitucional, é um conflito hegemônico dentro do partido.

O Mercosul deveria reagir se a posse for adiada?
O Mercosul não necessita nem deve se meter. É um problema interno que os venezuelanos são perfeitamente capazes de resolver.

Há chavismo sem Chávez?
Não. Hugo Chávez é o fundador do projeto, que é integral, e ninguém pode substitui-lo. É igual ao fenômeno do peronismo. Todos os que substituíram Perón e Evita não foram mais que sombras dos próceres fundadores.

Há "socialismo do século 21" na Venezuela?
Não. De jeito nenhum. Há um Estado desenvolvimentista democrático-burguês. É a versão do desenvolvimentismo-corporativo de Perón.

Na ausência de Chávez, quem ocuparia seu lugar na região?
O único que reúne as condições subjetivas de Chávez é Rafael Correa. Mas o Equador não tem o peso objetivo que Correa requer para ser o herdeiro de Chávez. No momento, não há ninguém.

 

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