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Igreja deve optar entre ser conservadora ou reacionária, diz filósofo
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DE SÃO PAULO
O principal debate que a Igreja Católica enfrenta se dá na dicotomia entre princípios conservadores e reacionários, segundo o filósofo Mario Sergio Cortella, da PUC-SP.
Cortella, 58, afirma que o conservadorismo não é necessariamente ruim, pois se refere a manter princípios do Concílio Vaticano 2º (1962-5), que reuniu religiosos com o objetivo de readequar a igreja aos tempos atuais.
O resultado foi a abertura do caminho para visões mais ecumênicas, impulsando a Teologia da Libertação.
Por outro lado, o filósofo vê uma ação reacionária quando o papa Bento 16 afirma que só há uma igreja verdadeira, a católica.
A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha em seu escritório. (FM)
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Conservador vs. reacionário
A grande discussão é se teremos dentro da igreja uma movimentação conservadora --em relação a alguns valores dos últimos 50 anos-- ou reacionária. Conservador significa manter alguns princípios do Concílio Vaticano 2º.
Por exemplo, quando Bento 16 diz, usando um termo quase arcaico, que existe uma verdadeira igreja, a católica, ele não está sendo conservador, mas reacionário. Conservador foi o pensamento do Vaticano 2º, que trouxe a discussão sobre ecumenismo.
Essa dicotomia se dá quando João Paulo 2º faz uma gestão defensiva dos princípios religiosos. Num mundo que caminhava para a abertura dentro da igreja, para uma modernização com os papas João 23 (1958-63) e Paulo 6º (1963-78) e, portanto, para o século 21, da modernidade, o papa escolhido [o polonês João Paulo 2º] viveu sob o domínio soviético, enfrentou o nazismo quando jovem e tinha um adversário, o ateísmo.
Foi um papado com dupla face: internamente, conservador-reacionário; externamente, conservador-progressista.
O "papa ideal"
O ideal é que seja alguém capaz de aumentar a participação do leigo e retomar o espírito do Concílio Vaticano 2°: a modernização, as discussões pela forma de diálogo com a ciência contemporânea e a maneira ecumênica de convivência com outras percepções religiosas ou com pessoas que não têm nenhum tipo de fé.
O futuro de Bento 16
Esse papa criou algo inédito. O grande argumento que a igreja sempre usou em relação a não romper parâmetros foi a tradição. Não se pode ordenar mulheres porque faz parte da tradição, embora não esteja escrito. Pois bem, faz parte da tradição o papa não renunciar. O maior impacto de Bento 16 foi ter quebrado uma razão explicativa, o argumento da tradição.
Ele sabe que a presença viva dele hoje não é suficiente para que as ideias que ele defende sejam levadas adiante. Não tem força física, mas também não tem força política para fazê-lo sozinho. A única alternativa dele era criar uma forma de impacto.
Ala progressista no Brasil
Resta um fôlego em relação a alguns movimentos da Amazônia, alguns centros urbanos com área periférica têm uma parcela dessa força, uma ação junto ao MST no Sul, uma parcela em Mato Grosso do Sul e em Rondônia. Mas esse espírito é reduzido porque você não opera um clero que não esteja em sintonia com os seus comandantes.
Arquidiocese pós-d.Paulo
Dom Cláudio Hummes (1998-2007) foi um privilégio para os católicos da cidade porque dom Cláudio é uma referência especial nessas questões [progressistas].
Dom Odilo Scherer tem experiência em alguns Estados brasileiros do Sul, esteve no Vaticano, mas é um tempo muito recente numa cidade como São Paulo. Sua presença mais forte foi em relação à PUC [foi criticado ao escolher a professora Anna Cintra como reitora, apesar de ela ter ficado em terceiro lugar na votação entre estudantes, funcionários e professores].
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