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11/03/2013 - 06h30

"Número dois" de Cuba atrai olhares atentos

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DAMIEN CAVE e VICTORIA BURNETT
DO "NEW YORK TIMES"

CIDADE DO MÉXICO - É possível que ele tenha aceitado o cargo mais difícil de Cuba. Rivais em casa vão tentar derrubá-lo. Inimigos no exterior vão procurar desacreditá-lo. Praticamente todos que têm algum interesse por Cuba -incluindo espiões americanos e oficiais de inteligência cubanos- vão vasculhar sua vida pública e privada à procura de segredos ou pistas para prever quais serão seus planos.

Enquanto isso, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, 52, o principal candidato à sucessão dos Castro após mais de meio século de governo dos irmãos, vai precisar demonstrar a autoridade de um futuro presidente, mas também agir como quem não deseja o cargo, conservando as atitudes de submissão e de lealdade.

"Será um desafio", previu Brian Latell, ex-agente da CIA que monitorou os discursos de Fidel Castro por anos e continua a monitorar Raúl Castro como analista externo. "A história da Revolução Cubana é repleta de nomes de pessoas que foram vistas como sendo números dois ou três, e todas acabaram caindo ao longo do caminho, desde Che Guevara."

Embora muitos cubanos não o conheçam, Díaz-Canel tornou-se o escolhido quando foi promovido a primeiro vice-presidente, em 24 de fevereiro, o dia em que Raúl Castro, 81, anunciou que vai se aposentar ao fim de seu mandato atual, em 2018.

Desde que Fidel Castro adoeceu e se afastou da vida pública, em 2006, vários políticos do alto escalão que estavam sendo cogitados para o cargo foram banidos do governo. Alguns foram acusados de corrupção, outros de deslealdade, sob a forma de piadas vulgares (gravadas em segredo) sobre a saúde de Fidel Castro e as habilidades políticas de seu irmão.

Mas, diferentemente de outros que foram aventados como possíveis futuros líderes, Díaz-Canel conseguiu ser ungido oficialmente como sucessor. Ninguém mais pode se gabar dessa distinção. Embora ainda se saiba pouco sobre ele, o que se sabe leva a crer que foi Raúl Castro quem o escolheu. Embora esteja claro que Díaz-Canel seja seguidor leal e declarado dos Castro, ele tem pouco em comum com Fidel, em termos de personalidade ou de visão política. Em vez disso, parece uma versão mais jovem e casual de Raúl.

Franklin Reyes/Associated Press
O presidente Raúl Castro, à esquerda, com o novo vice-presidente Miguel Díaz-Canel, à direita
O presidente Raúl Castro, à esquerda, com o novo vice-presidente Miguel Díaz-Canel, à direita

Como Raúl, ele é conhecido por ser divertido e caloroso quando está em grupos pequenos de pessoas e mais comedido ao discursar para multidões. Engenheiro, compartilha com Raúl o respeito pela competência, mais do que pela ideologia, e a aversão a aparições públicas cheias de pompa. Díaz-Canel é conhecido nos círculos do Partido Comunista por ir ao trabalho de bicicleta quando era governador da província de Villa Clara. Ele nasceu numa região central de Cuba, em 20 de abril de 1960. Seu pai trabalhava numa cervejaria e sua mãe era professora primária, segundo uma pessoa próxima à família, mas que pediu anonimato.

Díaz-Canel parece ter mantido uma abordagem prática ao longo de toda carreira. Depois de se formar na Universidade Central de Las Villas, em 1982, prestou serviço militar por alguns anos e depois ascendeu lentamente na hierarquia do Partido Comunista.

Sua reputação de pragmatismo e competência, as qualidades que o levaram a ser apreciado por Raúl Castro, começou a ganhar força recentemente. Analistas e ex-subalternos dizem que o primeiro vice-presidente é um administrador, não um inovador.

"Não há nada que indique que ele seja alguém que pense em promover transformações aceleradas ou dramáticas no sistema político ou econômico de Cuba", comentou Geoff Thale, diretor de programas do Escritório de Washington para a América Latina.

No entanto, existem indícios de que Díaz-Canel vem se preparando para seu papel. Em um discurso que fez em fevereiro de 2012 para educadores de todo o mundo reunidos em Havana, ele falou da necessidade de "passar por transformações" e destacou uma máxima do pensador mais famoso de Cuba, José Martí. Falando sobre o futuro, Díaz-Canel citou uma frase de 1894: "Enxergar depois não vale nada. O que vale realmente é prever... e estar preparado."

Com reportagem de Damien Cave, na Cidade do México, e Victoria Burnett, em Havana, e com pesquisa de Alain Delaquérière, em Nova York.

 

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