Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
09/03/2013 - 04h30

Análise: Prever conclave é como prever jogo de futebol

Publicidade

REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os conclaves dos últimos cem anos têm se resolvido de forma bastante rápida (principalmente quando comparados a certas eleições papais da Idade Média, quando picuinhas políticas podiam deixar o trono de Pedro vago por meses). Se a média se mantiver, o novo pontífice será conhecido em três dias, após sete rodadas de votação.

Contudo, nunca é demais lembrar que esse tipo de retrospecto é tão útil para prever o futuro de determinado evento quanto o histórico de vitórias de um time de futebol --ou seja, não muito. Talvez seja melhor considerar o contexto específico dos conclaves passados e ver o que podem sugerir para o atual.

Os dois conclaves realmente "relâmpago" --concluídos em dois dias, com só três rodadas de votação-- foram o de 1939, com a eleição de Pio 12, e o mais recente, em 2005.

Em ambos os casos, a dinâmica parece ter sido relativamente simples: após dois papas de personalidade forte e reinado longo (Pio 11 e João Paulo 2º), os cardeais decidiram colocar suas fichas em quem era visto como o segundo em comando do pontificado anterior e ainda gozava de grande influência.

Nos anos 1930, o cardeal Eugenio Pacelli, futuro Pio 12, tinha sido secretário de Estado da Santa Sé e se revelara negociador habilidoso em meio à ascensão do fascismo. Já na década passada, Joseph Ratzinger contava com a reputação de ser o disciplinador e "primeiro-teólogo". De quebra, seus sermões após a morte do papa polonês foram vistos como sinal de que ele era capaz de liderar a igreja.

No conclave atual, por outro lado, a figura de um herdeiro indiscutível parece estar em falta, mesmo porque a eleição acontece na esteira de uma crise de credibilidade que afetou boa parte da cúpula católica. Isso seria indício, portanto, de um conclave um pouco mais lento --ou, ao menos, não "relâmpago".

Já as duas eleições papais mais lerdas do último século --a do próprio Pio 11, em 1922, e a de João 23, em 1958, com cinco e quatro dias de duração, respectivamente-- são mais difíceis de encaixar numa categoria única. Um impasse entre facções de cardeais atrasou a primeira, enquanto João 23 parece ter virado o escolhido justamente porque Pio 12 não tinha nenhum herdeiro claro.

E quanto a uma possível disputa de facções hoje? Mais da metade dos cardeais assumiu o posto durante o reinado de Bento 16, o que os torna, em tese, um grupo não exatamente diversificado.

Por outro lado, também é possível interpretar a demora para acertar a data do conclave como uma tentativa de evitar que o ritmo da eleição fosse ditado apenas pela Cúria --embora decerto seja simplista dividir os cardeais entre burocratas de Roma e prelados de fora. Só para retomar a analogia futebolística, a caixinha de surpresas continua valendo.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página