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Rejeição à Argentina domina referendo sobre Malvinas
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SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL ÀS ILHAS MALVINAS
Trina Berntsen tem 38 anos. Sua família, de origem inglesa, está nas Malvinas (Falklands) há sete gerações.
Como muitos moradores da pequena comunidade de Stanley (a capital, com 1.500 habitantes), tem dois empregos. De manhã apresenta um programa na rádio local. À tarde, dirige um táxi. Sua rotina é a mesma diariamente.
Ontem foi um dia diferente para Trina, que era uma garota na época da Guerra das Malvinas (1982), mas que desde então alimenta uma intolerância aos argentinos.
Vestiu um chapéu com a bandeira do Reino Unido e uma camiseta que dizia "nossa ilha, nossa escolha" e foi votar. "Finalmente os argentinos vão receber uma lição", disse à Folha, enquanto esperava sua vez na fila do posto de votação montado na sede do poder municipal.
Como Trina, os malvinenses saíram decididos a dar sua opinião ontem no referendo que responderá "sim" ou "não" à pergunta: "Você deseja que as Falklands continuem com seu status de território britânico de ultramar?".
Teddy Summers e sua mulher, Siby, vestiam camisetas que diziam "sim, nós existimos", em referência ao fato de a Argentina não reconhecer a existência dos "kelpers", habitantes das ilhas.
"Seu país é uma bagunça, não? Pois então, não traga essa bagunça para o meu quintal", disse Summers ao repórter do jornal argentino "La Nación" que tentava em vão entrevistá-lo.
O frio de 4ºC, a chuva e os fortes ventos não os intimidaram. Estiveram em campanha desde o sábado à tarde, quando chegou o avião semanal da LAN Chile, único vínculo das Malvinas com a América do Sul e que trouxe a maioria dos 50 jornalistas que cobrem o evento.
Já na saída do aeroporto, os visitantes puderam ver uma exibição de carros nas montanhas que formaram a palavra "yes".
"Levem essa mensagem ao mundo", gritava Cynthia Walker, que vestia uma camiseta, feita por ela própria, com um mapa da América do Sul desenhado em que as Malvinas apareciam com destaque e com as cores da bandeira britânica, enquanto no lugar da Argentina via-se um espaço em branco.
Sylvia Colombo/Folhapress | ||
Em fila de votação, moradora das ilhas exibe camiseta da América do Sul sem a Argentina |
'SIM' ASSEGURADO
Não se espera de maneira nenhuma um resultado diferente da vitória do "sim". Os "kelpers", porém, estão preocupados com a aparição de algum voto negativo. "Mesmo um pequeno 'não' fará os argentinos dançarem tango em torno da Casa Rosada", diz Lisa Watson, editora do jornal local "Penguin News".
Para ter um resultado convincente, o governo investiu numa campanha para que ninguém deixe de votar. Às 8h saíram de Stanley cinco postos eleitorais móveis --quatro vans e um pequeno avião-- levando mesas de votação aos pontos mais remotos das ilhas.
O referendo vai até hoje, e o resultado oficial será anunciado com uma festa de rua e música ao vivo.
O comércio, em geral, também se engajou, fazendo publicidade e estimulando o voto. O Deano's Bar, principal pub da cidade, colocou anúncio no jornal para dizer que levaria gratuitamente os clientes ao local de votação a qualquer hora do dia. "Assim você não a terá desculpa de que estava no bar e não pôde votar: nós o levamos até lá."
O governo argentino, que não reconhece o referendo, não havia se pronunciado oficialmente sobre o assunto até o encerramento desta edição.
O senador Aníbal Fernández, um dos principais porta-vozes do kirchnerismo, foi o único a dar declarações ontem, dizendo que o referendo era ilegal.
Em Ushuaia, cidade ao sul do país que os argentinos consideram a capital do arquipélago, houve um "malvinazo", uma vigília que reuniu militantes kirchneristas e veteranos de guerra.
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