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14/03/2013 - 03h00

Artista León Ferrari, que 'brigou' com Bergoglio, lamenta escolha

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PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

León Ferrari, de 92 anos, considerado o maior artista plástico hoje da Argentina, é o homem que já brigou com o papa.

"É um horror, é um horror", disse à Folha Ferrari, diante da notícia sobre a eleição do cardeal argentino Jorge Bergoglio. "Vai ser um papa muito autoritário, com certeza", disse o artista ontem, de sua casa em Buenos Aires.

Em 2004, o então cardeal primaz da Argentina Bergoglio divulgou uma carta pública afirmando que a exposição de Ferrari, "Retrospectiva: Obras 1954-2004", era "blasfema".

A exposição tinha obras anticlericais como uma que mostrava Jesus crucificado em um avião de guerra, outras representando o inferno habitado por santos e apóstolos, e uma reprodução do Juízo Final da Capela Sistina "pintada" com cocô de várias pombas.

Uma ação na Justiça argentina pediu o fechamento da exposição, com o argumento de que um local pertencente ao Estado, como o Centro Cultural Recoleta, não podia abrigar obras ofensivas a uma parte da cidadania.

A exposição foi fechada e aberta algumas vezes, alvo de manifestações diárias e quatro ameaças de bomba.

VÂNDALOS

No dia 3 de dezembro de 2004, um grupo de católicos, gritando "Viva o Cristo Rei, caralho", destruiu várias obras de Ferrari na exposição e ameaçou o público com garrafas quebradas.

O artista juntou os estilhaços e pediu que a obra continuasse em exposição, com o título "Obrigado, Cardeal Bergoglio".

Milhares de católicos protestaram contra a exposição, com cartazes de "Viva a pátria, viva a Argentina católica".

Ativistas de direitos humanos e liberdade de expressão protestavam com cartazes com os dizeres: "Bergoglio, você não se ofendeu quando fuzilaram Mugica", referindo-se ao padre de esquerda Carlos Mugica, assassinado durante os anos da ditadura argentina.

"O problema que tenho com Bergoglio é que ele acha que as pessoas que não pensam como ele devem ser castigadas, condenadas, e eu penso que ninguém, nem sequer ele, deve ser castigado", disse Ferrari na época.

Em sua carta pública, o futuro papa dizia: "hoje me dirijo a vocês muito doído pela blasfêmia perpetrada no Centro Cultural Recoleta com motivo de uma exposição de artes plásticas", "um centro que se sustenta com dinheiro cristão".

Ele pedia um dia de penitência, jejum e oração contra a exposição.

A igreja disse que não incitou fiéis a destruírem as obras ou pedirem o fechamento da exposição.

Ferrari afirmou que as declarações de Bergoglio desencadearam a violência.Três pessoas foram condenadas pela destruição das obras.

Ele ganhou o Leão de Ouro na Bienal de Veneza em 2007.

"O que Bergoglio fez é uma vergonha, me chamar de blasfemo sabendo que ele será punido com o apedrejamento", disse Ferrari. "E eu naturalmente continuo contra a igreja."

Ele viveu em São Paulo entre 1976 e 1991, e tem duas netas morando na cidade, Florencia e Anna.

 

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