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22/03/2013 - 03h30

Maestro do coro da Capela Sistina diz que relutou em aceitar posto

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FELIPE SELIGMAN
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Tudo começou no início dos anos 90, quando fiz duas apresentações na Sicília, onde eu era maestro de um coro local e também dava aula.

Fiz duas apresentações para o papa João Paulo 2º uma em Siracusa e outra em Palermo. Nessa última, fiz uma apresentação especial num estádio, com centenas de cantores e foi onde ele me escolheu, acho eu.

Nunca desejei fazer parte do coro da Capela Sistina. Não me interessava. Eu trabalhava muito na Sicília e queria ficar por lá. Adoro aquele lugar.

Em janeiro de 1997, era meio-dia e me ligaram da Secretaria de Estado do Vaticano. "Olha, o papa acaba de te nomear para ser diretor do coro principal, em Roma". Fiquei perplexo, a notícia me incomodou muito e na eu hora disse não.

Me falaram que o então maestro havia completado 80 anos e precisavam de alguém para ocupar a posição.

Passado o choque e alguns meses, eu aceitei. Assumi no dia 29 de maio daquele ano e já no dia 29 de junho fiz minha primeira celebração. Foi quando começou a grande aventura da minha vida.

Cheguei em Roma e me colocaram em um apartamento aqui, na Cidade do Vaticano. Este que moro até hoje [a entrevista é em sua residência]. Antes, quem morou aqui foi o cardeal argentino Leonardo Sandri. Peguei dele.

Tenho grandes recordações dos 13 anos em que fiquei à frente do coro. Duas são do tempo de João Paulo 2º e me emocionam muito.

A primeira foi em 2000. Era aniversário de 80 anos do ex-presidente [italiano Carlo Azeglio] Ciampi. A Secretaria de Estado do Vaticano me liga e diz: "venha à capela privada do papa agora. Você vai celebrar uma missa com ele".

Não entendi nada. Mas cheguei lá e só estavam João Paulo 2º, Ciampi e sua mulher. Fiquei fascinado. Era um momento histórico. Quando o papa bebeu o vinho e esticou a mão, eu não acreditei. Bebi no mesmo cálice dele e foi uma emoção tremenda.

A outra foi quando eu consegui tocar pela primeira vez, na íntegra, um magnificat [cântico eclesiástico em homenagem a Maria] que havia composto para a comemoração dos 25 anos de papado, em 2003.

Mas a execução foi interrompida, porque o papa João Paulo 2º se sentiu mal. Lembro que o então cardeal Joseph Ratzinger chegou até mim e elogiou muito. "Logo você conseguirá completar a execução", disse.

No dia da morte do papa [em 2005], me chamaram cedo, dizendo que ele tinha indo embora. Fui direto ver o papa e um dos primeiros a beijar seus pés.

Depois desci até as grutas, onde preparavam o corpo. Quando olhei para o lado, lá estava Ratzinger, concentrado. Nos olhamos e foi só. Não imaginaria que ele viraria Bento 16.

Também tenho uma boa recordação, muito divertida, por sinal, dos tempos de Bento 16. O ex-presidente americano [George W.] Bush] veio a Roma em 2008.

O Santo Padre resolveu fazer em homenagem um concerto do coro da Capela Sistina nos jardins do Vaticano.

No final, ele me apresentou. Conversamos sobre amenidades --"gostei da apresentação"; "você gosta de música?"; e coisas do tipo.

Mas como Bush e eu não nos entendíamos, pois eu não falo inglês, usamos o papa como tradutor [risos].

O conclave é um momento emocionante. E pensar que em 2005, eu estava ali dentro [da Capela Sistina, onde o papa é escolhido].

É inacreditável, emocionante, inesquecível. Naquele ano, a Capela Paulinea [de onde os cardeais saiam] estava em reforma.

Então saímos de mais longe, da sala principal, no segundo andar da Basílica de São Pedro.

Pena que o sonho acabou em 2010. Fui substituído. [O secretário de Estado do Vaticano] Tarcisio Bertone colocou um salesiano [como ele] no meu lugar.

Mas não quero falar sobre isso, prefiro lembrar das coisas boas.

Divulgação
Giuseppe Liberto (à esq.), com Bento 16, em foto sem data
Giuseppe Liberto (à esq.), com Bento 16, em foto sem data
 

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