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Maestro do coro da Capela Sistina diz que relutou em aceitar posto
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FELIPE SELIGMAN
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Tudo começou no início dos anos 90, quando fiz duas apresentações na Sicília, onde eu era maestro de um coro local e também dava aula.
Fiz duas apresentações para o papa João Paulo 2º uma em Siracusa e outra em Palermo. Nessa última, fiz uma apresentação especial num estádio, com centenas de cantores e foi onde ele me escolheu, acho eu.
Nunca desejei fazer parte do coro da Capela Sistina. Não me interessava. Eu trabalhava muito na Sicília e queria ficar por lá. Adoro aquele lugar.
Em janeiro de 1997, era meio-dia e me ligaram da Secretaria de Estado do Vaticano. "Olha, o papa acaba de te nomear para ser diretor do coro principal, em Roma". Fiquei perplexo, a notícia me incomodou muito e na eu hora disse não.
Me falaram que o então maestro havia completado 80 anos e precisavam de alguém para ocupar a posição.
Passado o choque e alguns meses, eu aceitei. Assumi no dia 29 de maio daquele ano e já no dia 29 de junho fiz minha primeira celebração. Foi quando começou a grande aventura da minha vida.
Cheguei em Roma e me colocaram em um apartamento aqui, na Cidade do Vaticano. Este que moro até hoje [a entrevista é em sua residência]. Antes, quem morou aqui foi o cardeal argentino Leonardo Sandri. Peguei dele.
Tenho grandes recordações dos 13 anos em que fiquei à frente do coro. Duas são do tempo de João Paulo 2º e me emocionam muito.
A primeira foi em 2000. Era aniversário de 80 anos do ex-presidente [italiano Carlo Azeglio] Ciampi. A Secretaria de Estado do Vaticano me liga e diz: "venha à capela privada do papa agora. Você vai celebrar uma missa com ele".
Não entendi nada. Mas cheguei lá e só estavam João Paulo 2º, Ciampi e sua mulher. Fiquei fascinado. Era um momento histórico. Quando o papa bebeu o vinho e esticou a mão, eu não acreditei. Bebi no mesmo cálice dele e foi uma emoção tremenda.
A outra foi quando eu consegui tocar pela primeira vez, na íntegra, um magnificat [cântico eclesiástico em homenagem a Maria] que havia composto para a comemoração dos 25 anos de papado, em 2003.
Mas a execução foi interrompida, porque o papa João Paulo 2º se sentiu mal. Lembro que o então cardeal Joseph Ratzinger chegou até mim e elogiou muito. "Logo você conseguirá completar a execução", disse.
No dia da morte do papa [em 2005], me chamaram cedo, dizendo que ele tinha indo embora. Fui direto ver o papa e um dos primeiros a beijar seus pés.
Depois desci até as grutas, onde preparavam o corpo. Quando olhei para o lado, lá estava Ratzinger, concentrado. Nos olhamos e foi só. Não imaginaria que ele viraria Bento 16.
Também tenho uma boa recordação, muito divertida, por sinal, dos tempos de Bento 16. O ex-presidente americano [George W.] Bush] veio a Roma em 2008.
O Santo Padre resolveu fazer em homenagem um concerto do coro da Capela Sistina nos jardins do Vaticano.
No final, ele me apresentou. Conversamos sobre amenidades --"gostei da apresentação"; "você gosta de música?"; e coisas do tipo.
Mas como Bush e eu não nos entendíamos, pois eu não falo inglês, usamos o papa como tradutor [risos].
O conclave é um momento emocionante. E pensar que em 2005, eu estava ali dentro [da Capela Sistina, onde o papa é escolhido].
É inacreditável, emocionante, inesquecível. Naquele ano, a Capela Paulinea [de onde os cardeais saiam] estava em reforma.
Então saímos de mais longe, da sala principal, no segundo andar da Basílica de São Pedro.
Pena que o sonho acabou em 2010. Fui substituído. [O secretário de Estado do Vaticano] Tarcisio Bertone colocou um salesiano [como ele] no meu lugar.
Mas não quero falar sobre isso, prefiro lembrar das coisas boas.
Divulgação | ||
Giuseppe Liberto (à esq.), com Bento 16, em foto sem data |
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