Trump assume com a equipe mais incompleta da história recente

DO "NEW YORK TIMES"

"Nossa responsabilidade é estarmos prontos desde o dia um", disse o vice-presidente Mike Pence em Washington na semana passada. "O povo americano pode ter confiança em que estaremos."

O povo americano tem poucas razões para sentir tal confiança. Considerando que o presidente Donald Trump pensa que o país se encontra em situação desesperadora, como ele disse em seu discurso de posse, é estranho que não tenha montado uma equipe de ases em tempo recorde.

Em vez disso, ele tomou posse na sexta-feira com a equipe mais incompleta da história recente. Desde a posse, ele parece ter dedicado mais atenção às dimensões da multidão que acompanhou sua posse quanto ao trabalho imenso que tem pela frente.

Um presidente que chega ao governo precisa preencher cerca de 4.000 cargos. Os escolhidos por ele para preencher mais de 1.100 desses cargos precisam ser confirmados pelo Senado. É impossível para qualquer presidente preencher todos os cargos até o dia um de seu mandato.

Mas os veteranos em transições presidenciais recomendam que um novo presidente comece com uma equipe da Casa Branca já montada —450 pessoas que não precisam ser confirmadas pelo Senado— e que já tenha indicados para os cem cargos mais importantes que precisam ser confirmados pelo Senado.

Trump não está nem sequer perto disso. Não há nomes indicados para três quartos dos cem cargos mais importantes. Sua equipe da Casa Branca, cerca de 30 de cujos integrantes assumiram seus postos no domingo, tem pouca experiência de governo.

No entanto, muitos deles ganharam cargos elevados; é o caso de Omarosa Manigault, ex-participante de "O Aprendiz" e "Celebrity Apprentice", chamada para ser assessora do presidente e diretora de comunicações do Escritório de Relações Públicas da Casa Branca.

Trump completou sua lista de 21 integrantes de seu gabinete apenas na quinta-feira (19), e a maioria deles ainda tem um longo caminho a percorrer. Ele os nomeou sem uma sabatina prévia, e muitos deles são indivíduos muito ricos, de modo que o Escritório Governamental de Ética está levando mais tempo para analisar seus muitos bens para verificar se existem potenciais conflitos de interesse.

Alguns dos nomes indicados podem acabar caindo devido a esses conflitos ou por simples inadequação.

A equipe de transição de Trump disse na semana passada que esperava ver o Senado aprovar sete nomes do gabinete na sexta-feira, o que seria o mesmo número com que George W. Bush e Barack Obama contavam no dia de sua posse.

O Senado aprovou apenas dois: o general John Kelly para secretário de Segurança Nacional, o general James Mattis para secretário da Defesa. O deputado Mike Pompeo como diretor da CIA (Agência Central de Inteligência) foi aprovado nesta segunda (23).

Sean Spicer, o novo secretário de imprensa de Donald Trump, diz que "há muito trabalho sendo feito nos bastidores para que os ocupantes de muitos desses cargos estejam prontos para começar a trabalhar" nos próximos dias.

Enquanto isso, a equipe de Trump foi obrigada a pedir a cerca de 50 funcionários essenciais do governo anterior, em sua maioria profissionais de segurança nacional e diplomacia, que continuem em seus cargos.

E assim se desmente aquele velho refrão segundo o qual um empresário sabe comandar um governo com mais eficiência do que pessoas que têm experiência no governo. Fica claro que Trump teria feito bem em passar mais tempo ocupado com a transição e menos tempo no Twitter.

Mas por que, em um governo federal feito de mais de 2 milhões de profissionais, muitos deles profundamente experientes, o presidente precisa nomear 4.000 pessoas e o Senado precisa avaliar 1.100 delas? A aprovação de uma dúzia de nomes de indicados ao gabinete deixou o Senado em situação de quase caos. Agora multiplique-se isso por 100.

"Esse número enorme de nomeados pelo presidente é um resquício do sistema de benesses; não é boa maneira de administrar uma ferrovia e com certeza não de administrar nosso governo", diz Max Stier, diretor da organização Partnership for Public Service, que promove a eficácia dos funcionários governamentais e presta assistência a equipes de transição dos dois partidos políticos.

Uma maneira de aliviar a sobrecarga seria reduzir o número de cargos cujos ocupantes precisam ser aprovados pelo Senado. Este deve opinar sobre o indicado pelo presidente para a pasta da Defesa, é claro, mas por que motivo dezenas de cargos menores no Pentágono, como os de nove membros do Conselho de Regentes da universidade que forma médicos e enfermeiros militares, precisam passar por esse processo trabalhoso?

A Partnership for Public Service identificou quase 700 dos cargos mais importantes cujos ocupantes são confirmados pelo Senado; o processo de confirmação poderia ser dispensado para o restante, que são cargos em conselhos e outros semelhantes.

Em 2012 a Lei de Eficiência e Enxugamento de Nomeações Feitas pelo Presidente traçou uma lista de 169 cargos cujos ocupantes são nomeados pelo presidente, mas que não precisariam mais passar pelo crivo do Senado. Trump poderia incentivar o Congresso a acrescentar outros à lista. Mas primeiro ele precisa arregaçar as mangas, instalar sua própria administração e colocá-la para funcionar.

Tradução de CLARA ALLAIN

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.