Descrição de chapéu The New York Times

EUA investem em guerra cibernética contra mísseis da Coreia da Norte

DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Três anos atrás, o presidente Barack Obama ordenou que os dirigentes do Pentágono acelerassem seus ataques cibernéticos e eletrônicos contra o programa de mísseis da Coreia do Norte, na esperança de sabotar os testes daquele país nos primeiros segundos do lançamento dos mísseis.

Não demorou para que muitos foguetes militares da Coreia do Norte começassem a explodir, perder o rumo, se desintegrar em pleno ar e cair no mar.

Os proponentes desse tipo de esforço afirmam acreditar que os ataques direcionados tenham criado uma vantagem nova para as defesas antimísseis dos Estados Unidos, e retardado por diversos anos o momento em que a Coreia do Norte adquirirá a capacidade de ameaçar cidades americanas com armas nucleares disparadas por mísseis balísticos intercontinentais.

Na Coreia do Norte, os alvos são muito mais desafiadores. Mísseis são disparados de múltiplos locais de lançamento em todo o país, e transportados em plataformas móveis de lançamento a fim de confundir os adversários. Para atacá-los, é essencial escolher o momento perfeito.

Os proponentes do sofisticado esforço para manipular remotamente os dados usados pelo programa de mísseis norte-coreanos argumentam que não há alternativa viável para os Estados Unidos, porque o esforço para impedir que os norte-coreanos aprendessem os segredos de como produzir armas nucleares já fracassou.

Em fevereiro de 2013, a Coreia do Norte realizou um teste nuclear que produziu uma explosão de força semelhante à da bomba que destruiu Hiroshima. Dias depois, o Pentágono anunciou uma expansão de sua força de interceptadores antimísseis na Califórnia e no Alasca. Também começou a revelar seu programa de ataque "antes do lançamento", para desativar os mísseis antes de seu uso.

NOVOS MÉTODOS

O general Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, anunciou o programa, afirmando que "guerra cibernética, armas de energia dirigida e ataques eletrônicos", uma referência a recursos como vírus de computadores, lasers e interferência nos sinais de rádio adversários, estavam se tornando importantes acessórios novos aos métodos tradicionais de desviar ataques inimigos.

Mesmo assim, Kim levou seus programas adiante. Em abril do ano passado, engenheiros norte-coreanos dispararam um par de potentes propulsores de mísseis que poderiam ter a capacidade de carregar uma ogiva nuclear até os Estados Unidos. Em setembro, a Coreia do Norte testou com sucesso uma arma nuclear com mais de duas vezes o potencial destrutivo da bomba de Hiroshima.

Mas a decisão de atacar a capacidade de lançamento de um adversário pode ter consequências imprevistas, alertam os especialistas. Se os Estados Unidos usarem armas cibernéticas contra sistemas de lançamento nuclear —mesmo os de um Estado ameaçador como a Coreia do Norte—, Rússia e China podem se sentir no direito de fazer o mesmo, com os mísseis americanos como alvo.

Alguns estrategistas argumentam que todos os sistemas nucleares deveriam ficar excluídos da lista de alvos de ataques cibernéticos. "Compreendo a urgência da ameaça", disse Amy Zegart, especialista em inteligência e segurança cibernética da Universidade Stanford. "Mas dentro de 30 anos talvez venhamos a decidir que essa é uma coisa muito, muito perigosa de se fazer."

A Casa Branca está estudando opções militares contra a Coreia do Norte, disse um importante funcionário do governo Trump. Reintroduzir armas nucleares táticas americanas no território da Coreia do Sul, de onde elas foram retiradas um quarto de século atrás, é outra hipótese em consideração, mesmo que a medida acelere a corrida armamentista com a Coreia do Norte.

O "não vai acontecer!" postado por Trump na rede social, sobre a ameaça dos mísseis intercontinentais norte-coreanos, sugere que um confronto mais intenso pode estar se aproximando.

"Independentemente das intenções reais de Trump", afirmou recentemente James Acton, analista de questões nucleares no Carnegie Endowment for International Peace, "a mensagem pode ser vista como uma 'linha vermelha', e com isso se tornar um potencial teste da credibilidade do presidente".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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