Comitiva argentina busca aproximação com moradores das ilhas Malvinas

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Uma comitiva de notáveis argentinos, formada pelo Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, a líder da linha fundadora das Mães da Praça de Maio, Nora Cortiñas, representantes de organizações de direitos humanos, religiosos e políticos, desembarca neste sábado (11) nas ilhas Malvinas (Falklands) para uma visita de aproximação com a população do arquipélago.

Disputadas por Reino Unido e Argentina, as Malvinas foram ocupadas pelo Exército argentino em 1982, dando início a uma guerra que deixou mais de 900 mortos.

Desde a vitória britânica nessa ocasião, o governo argentino mantém a reivindicação pela soberania das ilhas —localizadas a pouco mais de 500 km de sua costa— e não reconhece o princípio de autodeterminação dos islenhos, que em 2013 referendaram, em plebiscito, o desejo de continuar como parte do Reino Unido.

A visita da comissão não terá fins políticos. O objetivo anunciado é o de homenagear os mortos, quando se aproxima o aniversário de 35 anos da guerra.

No entanto, a viagem ocorre no contexto de uma campanha maior de estratégia do governo argentino de se aproximar dos habitantes da ilha para ganhar sua simpatia —posição oposta à dos governos de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015), com os quais não houve diálogo.

"Estamos ouvindo um ruído positivo vindo do governo de Mauricio Macri", disse à Folha o historiador e jornalista John Fowler, por telefone, de Port Stanley, capital das Malvinas.

"Só que ainda esperamos que esses acenos se transformem em avanços concretos. Essas visitas, assim como a de esportistas e de grupos de veteranos de guerra, são bem-vindas, desde que os argentinos parem de jogar o jogo de pedir as ilhas para eles", afirmou Fowler.

Crédito: Editoria de arte/Folhapress

O governo do arquipélago sinalizou que espera receber a comitiva argentina com um espírito de "diálogo e paz", como afirmaram em comunicado. "Esperamos que respeitem os direitos dos islenhos à autodeterminação e que possam observar que as Falklands são um país bem governado, moderno e independente, e assim deseja continuar sendo".

Para os insulanos, o mais interessante seria discutir parcerias econômicas com a Argentina e um maior contato com o continente.

Hoje há apenas um voo comercial por semana, que sai do Chile até a base aérea de Mount Pleasant, além dos voos militares que vêm do Reino Unido.

O isolamento da ilha causa problemas no dia a dia dos habitantes, como a alta de preços de alimentos e de outros bens, por conta dos custos de transporte.

ABORDAGEM

A gestão Macri afirma que não abrirá mão do pedido de negociação para obter a soberania das ilhas, uma vez que este é parte da Constituição do país, mas que fará isso de forma diferente.

Macri já expressou esse desejo de mudar o enfoque da relação com a primeira-ministra britânica, Theresa May, e voltou ao tema em seu discurso de abertura do Congresso, ocorrido no dia 1º.

"O caminho do diálogo é a via para avançar no nossa reclamação histórica pela soberania das ilhas Malvinas, hoje sob o domínio britânico", afirmou o presidente Macri aos legisladores.

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