Estado Islâmico sofre golpe pesado, mas não esmagador em Mossul

DA ASSOCIATED PRESS, EM MOSSUL

Tropas iraquianas cercaram a zona oeste de Mossul, e líderes militares prometem que agora é apenas questão de tempo até esmagarem a última grande resistência da milícia terrorista Estado Islâmico (EI) no Iraque.

Mas os militantes estão se posicionando para defender os resquícios de seu chamado "califado" na Síria e travam uma campanha insurgente no país vizinho.

PRÓXIMOS PASSOS DO EI

Os contra-ataques bem organizados do EI mostram que os militantes conservam o comando e controle, ao mesmo tempo em que estão perdendo o controle de Mossul.

Representantes iraquianos e da coalizão creem que o líder mais alto do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, e seus subordinados seniores escaparam de Mossul antes do início do ataque à cidade, em meados de outubro. É provável que tenham ido a Raqqa, na Síria, se bem que alguns podem ter ido para esconderijos no deserto na fronteira.

"Eles não querem compartilhar o risco que exigem que seus combatentes encarem, lutando até a morte", disse o general do Exército americano Stephen Townsend, que comanda a coalizão liderada pelos EUA contra o EI, à imprensa no Pentágono.

Também vêm escapando de Mossul muitos combatentes de escalão médio do EI, o equivalente aproximado aos capitães e majores de uma força armada convencional, cruciais para a manutenção da infraestrutura do grupo.

Um tenente-coronel da inteligência iraquiana estimou que centenas de combatentes já deixaram a zona oeste de Mosul em meio a civis. Eles podem formar a espinha dorsal de um Estado Islâmico renascido como força insurgente.

Em relativa segurança, dentro do território que o EI controla na Síria e seus bolsões remanescentes no Iraque, além de células de militantes secretos que o grupo possa manter dentro do território controlado pelo governo iraquiano, o EI poderá lançar operações insurgentes no Iraque, incluindo ataques suicidas, mais ou menos como fazia antes de 2014 em sua forma de então, como a Al Qaeda no Iraque.

A partir da Síria, o grupo também pode arquitetar ataques no Ocidente.

"O califado não vai desaparecer", prometeu o EI em publicação interna encontrada ao norte de Mosul pelo pesquisador Aymenn Jawad al-Tamimi, do Middle East Forum e estudioso do grupo.

Al-Tamimi disse que o documento parece antever a perda de áreas urbanas como Mosul e Raqqa.

"O texto adota a ideia de que o califado não desaparece com a perda de território e que o Ocidente, em especial, precisa entender que a próxima geração de soldados do califado está sendo formada em seu território", disse al-Tamimi.

Crédito: Ari Jalal - 14.mar.2017/Reuters Tanque das forças iraquianas dispara morteiro contra combatentes do Estado Islâmico em Mossul
Tanque das forças iraquianas dispara morteiro contra combatentes do Estado Islâmico em Mossul

PRÓXIMOS PASSOS NA LUTA

O próximo alvo provável é Raqqa, no norte da Síria. Forças lideradas pelos curdos e apoiadas pelos EUA estao tentando cortar as linhas de suprimento da cidade, e autoridades americanas já declararam que o ataque pode começar em questão de semanas. Ali também, porém, os militantes se preparam para uma luta prolongada e potencialmente exaustiva.

Depois disso, o último reduto dos militantes talvez seja a região de Deir el-Zour, no leste da Síria, perto da fronteira com o Iraque.

As forças iraquianas provavelmente vão precisar de semanas de descanso e reabastecimento depois de concluir a operação em Mosul. Mas a luta também vai continuar no Iraque, para derrotar os últimos bolsões controlados pelos militantes ao longo da fronteira.

É crucial também que sejam recapturados os postos de travessia da fronteira iraquiana ainda nas mãos dos militantes. Esse é um passo que pode limitar seriamente, mesmo que não paralisar por completo, a capacidade do EI de movimentar estoques e armamentos para o Iraque.

Oficiais militares e de inteligência seniores avisam que será igualmente importante trabalhar com as divisões políticas do Iraque.

No passado, os militantes conseguiram reconquistar força, depois de derrotados, por explorarem os ressentimentos presentes entre a minoria sunita iraquiana, que se sente marginalizada pela maioria xiita.

E o Iraque terá que lidar com a tarefa monumental de reconstruir cidades destruídas na luta contra o EI. A demora em fazê-lo pode alimentar o ressentimento sunita.

Falando no Fórum Sulaimani no início deste mês, o embaixador dos EUA no Iraque, Doug Silliman, disse que a próxima tarefa caberá ao governo iraquiano: retomar o fornecimento de serviços públicos aos territórios reconquistados do EI, para impor uma derrota duradoura ao grupo.

"As vitórias militares não serão o bastante", ele disse.

Tradução de CLARA ALLAIN

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