Padre pedófilo preso na Argentina atuava na Itália nos anos 1960

DIOGO BERCITO
DE MADRI

Gianni Bisoli, 68, recebeu com alívio a notícia de que Nicola Corradi, a quem acusa de abuso sexual, foi detido na Argentina em dezembro. Deficiente auditivo, Bisoli diz ter sido repetidamente estuprado aos 11 anos por esse padre em um instituto católico de Verona, na Itália.

A detenção, no entanto, tardou décadas. Corradi, 82, teria abusado de Bisoli entre 1959 e 1962. Investigado, foi transferido entre as filiais do Instituto Antonio Provolo, privado mas vinculado à Igreja Católica, até chegar à Argentina –onde manteve a prática.

O crime já prescreveu na Itália. Mas, insatisfeita, uma associação de proteção aos deficientes auditivos quer levar o caso até a Corte Europeia de Direitos Humanos.

A associação, que também se chama Antonio Provolo mas não tem nenhum laço com o instituto, fez a primeira acusação em 2009, após Bisoli apontar pela primeira vez a Corradi como autor.

"Enviamos um vídeo ao papa Francisco", diz à Folha Marco Lodi Rizzini, porta-voz da associação, que entregou também uma lista com o nome dos abusadores. Em outubro de 2015, ele se reuniu com o pontífice por sete minutos para tratar do tema.

O Vaticano recebeu diversas acusações e o nome de Corradi foi repetido por diversas vítimas, diz Rizzini.

"Mas ainda estamos esperando que a Santa Sé faça alguma coisa, como fundar uma comissão oficial para o apoio às vítimas, com terapia e aconselhamento", afirma.

"Vamos levar toda essa discussão para a Corte Europeia de Direitos Humanos, porque nós sentimos que a justiça ainda não foi feita."

Bisoli conta que o abuso no Instituto Provolo de Verona consistia de "masturbação e sodomia". "Sempre acontecia entre as paredes dos banheiros do Provolo."

Corradi não era o único. Outros homens participavam das ações, diz ele, incluindo o bispo Giuseppe Carraro, declarado beato em 2015.

O fato de que mesmo com todas essas acusações o Vaticano não tenha agido contrasta com a política de tolerância zero defendida por Francisco, segundo organizações de defesa às vítimas.

"Como o papa Francisco é argentino e ele esteve envolvido com a atividade clerical por muitos anos, suspeitamos que ele sabia dessas ações cruéis", diz Bisoli.

Procurado pela Folha, o Vaticano não respondeu aos pedidos por esclarecimentos.

Mais de 30 denúncias são investigadas em Mendoza e Buenos Aires sobre o abuso sexual de menores deficientes auditivos em filiais do Antonio Provolo –no país, os crimes não prescreveram.

Dois religiosos foram detidos em dezembro, incluindo Corradi e o argentino Horacio Corbacho, 56. As penas ao processo de abuso sexual triplamente agravado podem variar de 8 a 20 anos, segundo o promotor do caso.

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