Cidade iraquiana ainda sofre cinco meses após expulsão do EI

TOMISLAV SKARO
DA ASSOCIATED PRESS, EM HAMDANIYA, IRAQUE

Bahaa Franshaw enfia pedaços de carne em um espeto, preparando-se para vender aos passantes. Seus clientes potenciais incluem civis que vêm de Mossul para Hamdaniya para escapar das lutas. Rumando para Mossul, há reforços militares e funcionários de organizações não governamentais que tentam ajudar a cidade destroçada pela guerra a se reerguer.

Cinco meses depois de ser capturada por tropas iraquianas, Hamdaniya –que fica entre Irbil e Mossul– é um exemplo quase deserto da imensa tarefa de reconstrução que enfrentam as autoridades, não apenas desta área, mas também de outras, depois de eliminar os combatentes do grupo Estado Islâmico.

Um dos poucos que retornaram para Hamdaniya, cuja população de maioria cristã já chegou perto de 700 mil, Franshaw, 46, espera reviver a fazenda que ele teve de deixar para trás, embora esteja mais cético sobre as perspectivas do país como um todo. "Eu quero que o Iraque volte a ser o que era antes, mas isso não vai acontecer", disse ele.

Os militantes do EI que foram expulsos da cidade recuaram para Mossul, de onde continuam a lutar contra o Exército iraquiano. Não há números oficiais sobre os moradores anteriores à guerra que retornaram a Hamdaniya, mas Franshaw diz que ficaria surpreso se mais de cem tiverem voltado. Além deles, há os recrutas da polícia que estão sendo treinados aqui e militares que assumiram posições na cidade.

Muitos prédios de Hamdaniya foram destruídos. Entre os ataques aéreos da coalizão, a artilharia iraquiana e forças do EI explodindo o resto, várias ruas foram reduzidas a montes de entulho.

Enquanto Franshaw mantém a esperança de um dia reviver sua fazenda, por enquanto ele se reinventou abrindo um ponto de kebab para servir ao público que passa. A cidade não tem o básico. Não há água, e a energia vem de geradores. O restaurante de Franshaw funciona com tanques de água e canos improvisados que quebram frequentemente. "É difícil voltar porque não há nada para que voltar", diz ele.

Saad Hashim, um muçulmano sunita de Bagdá, almoça na casa de Franshaw. Ele diz que os desalojados que transporta para os acampamentos prometeram voltar assim que a infraestrutura permitir, com energia e água restabelecidas.

Um comandante local de uma milícia cristã, Arkan Hasib Khidh, culpa as autoridades pela falta de progresso na cidade. "O governo não fez nada por nós até agora", afirmou ele. Há sinais de normalidade, porém. Um hospital improvisado esta prestes a receber os primeiros pacientes, e as autoridades vão começar a tratar dos processos jurídicos. Neste verão, uma escola deverá abrir as portas aos estudantes.

O progresso é dolorosamente lento, entretanto, e aponta para a longa e difícil jornada que aguarda uma população que sofreu sob o domínio do EI e hoje se debate com a falta de infraestrutura. De volta à sua casa, que conseguiu escapar do pior e só foi saqueada e depredada, Franshaw diz que não entende por que alguns danos aconteceram depois da saída dos combatentes do EI.

Pisando sobre suas coisas espalhadas pela sala, ele aponta os móveis quebrados e diz: "Isto não foi feito pelo EI".

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