Trump tem pior aprovação da história em três primeiros meses de mandato

ISABEL FLECK
DE WASHINGTON

Eleito sem ter a maioria dos votos populares graças ao complexo sistema eleitoral americano, Donald Trump está aprofundando divisões e alimentando sua impopularidade mesmo em sua base, mostram pesquisas.

Antes de completar cem dias de sua chegada à Casa Branca, em 20 de janeiro, o republicano registrou o nível mais baixo de aprovação para um presidente no primeiro trimestre no cargo: 38% na virada deste mês, segundo o instituto Gallup. Hoje o índice está em 40%.

Entre os eleitores da oposição, seu apoio é de 6% no mesmo monitoramento semanal feito pelo Gallup, um patamar que passou anos desconhecido para seus antecessores imediatos, o democrata Barack Obama e o republicano George W. Bush.

Até mesmo na base de seu partido o cenário se deteriora: sua aprovação, 89% quando assumiu, recuou para 81% no início de abril pelo Gallup. A queda mostrada pelas sondagens da Universidade Quinnipiac junto ao eleitorado republicano é ainda pior, de 91% para 79%.

Trump teria perdido apoio também entre homens brancos, que compõem o núcleo duro de seu eleitorado. Segundo a série de pesquisas da Quinnipiac, sua aprovação pelo grupo diminuiu de 58% para 47% no último mês, deixando, pela primeira vez, de ser majoritária nessa fatia.

O quadro se mostra polarizado se comparado ao desempenho dos antecessores –Obama só atingiria um índice tão baixo (6%) entre os opositores no fim do primeiro mandato, e Bush, no meio do segundo.

Mas não só. Entre os eleitores independentes, o desempenho de Trump também piora: de 42% de aprovação quando assumiu passou para 34% no fim de semana passado no Gallup. O número é o mais baixo, no primeiro trimestre de governo, desde Dwight Eisenhower (1953-61).

SEM LUA-DE-MEL

"Trump começou com uma aprovação pior que a dos outros presidentes e ainda teve uma performance ruim até agora, com um governo caótico e cheio de erros", diz o cientista político David Hopkins, especialista em opinião pública do Boston College.

O republicano assumiu o cargo com 45% de apoio, enquanto seus antecessores menos populares no início de mandato —George Bush pai e Ronald Reagan, ambos republicanos— tinham 51%. Maioria tênue, mas maioria.

Entre os erros citados por Hopkins que afetaram a imagem do presidente estão a implementação malsucedida de um veto à entrada de cidadãos de sete países muçulmanos nos EUA e o fracasso em derrubar´ a reforma do sistema de saúde feita por Obama.

Timothy Malloy, diretor-assistente de pesquisas da Quinnipiac, cita ainda o escândalo envolvendo a proximidade da equipe de Trump com a Rússia, que derrubou o conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, e as acusações do presidente de que Obama teria grampeado seus telefones, sobre as quais não ofereceu provas.

"Ele fez várias promessas, como acabar com o 'Obamacare', disse que era um grande negociador", diz Malloy, lembrando a falta de votos no próprio partido a favor da nova lei de saúde –a Câmara tem maioria republicana, mas a proposta travou.

"Isso fez com que começasse a perder também apoio entre a sua base. E um presidente fraco internamente é um presidente fraco no mundo."

Segundo a pesquisa do Quinnipiac, 55% dos americanos acham que Trump não é honesto, e 52%, que ele não liga para a população.

O ataque a alvos do governo sírio em 6 de abril pode afetar a aprovação do presidente, mas o levantamento diário do Gallup mostra que, de sexta (7) a segunda (10), o índice apenas oscilou dois pontos, dentro da margem de erro (de dois pontos percentuais em ambas as direções).

A desaprovação é de 54%.

A nova posição em política externa e a posse do juiz conservador Neil Gorsuch na Suprema Corte podem reconquistar parte do terreno perdido na base de apoio.

Fritz Scheuren, vice-presidente do Centro pela Excelência em Pesquisas da Universidade de Chicago, se declara um eleitor republicano "decepcionado" com Trump.

"O veto a cidadãos de alguns países foi feito de forma errada, e ele não previu a resistência do próprio partido ao plano para substituir o 'Obamacare'", diz.

Mas pondera que as "expectativas eram muito altas" e prevê ventos favoráveis. "Temos que esperar dois meses, com o juiz na Suprema Corte e novos debates sobre o 'Obamacare' vamos ver mudanças a favor de Trump."

E as pesquisas não podem errar como nas eleições de 2016? Scheuren diz que não a ponto de mudar o quadro. "Mesmo que errem a por cinco pontos, Trump ainda seria o mais impopular."

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