Câmara dos EUA fará nova votação e adia aprovação de reforma tributária

ESTELITA HASS CARAZZAI
DE WASHINGTON

Depois de aprovarem a versão final da reforma tributária do presidente Donald Trump nesta terça (19), os deputados americanos terão que votar a proposta novamente nesta quarta (20), adiando a promulgação da medida.

Três pontos da lei foram questionados no Senado, que deve votar o texto ainda nesta noite. Os republicanos têm maioria em ambas as Casas e devem conseguir aprovar a lei, mas precisarão retirar os tópicos em desacordo com as regras do Senado e fazer uma nova votação final na Câmara, na quarta pela manhã.

Caso aprovada, a proposta será uma vitória significativa para Trump, depois de ter fracassado ao tentar derrubar o Obamacare e ver a maioria republicana no Senado ser reduzida a uma cadeira, com a eleição de um democrata no Alabama na semana passada.

"É o corte de impostos mais significativo da história", comemorou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, após a votação na Câmara.

Trump tem chamado a medida de "um presente de Natal" para os americanos, embora a reforma tenha sido criticada por beneficiar milionários e empresas, além de representar um custo de US$ 1 trilhão ao orçamento federal pelos próximos dez anos, em função da perda de arrecadação.

"No geral, as famílias de renda mais alta terão mais cortes de impostos", informou o Tax Policy Center, que fez uma análise do texto final da lei.

DIVISÃO

Grande parte dos cortes de impostos vai até 2025. Depois, a maioria dos americanos verá uma alta nas alíquotas.

Já o imposto de renda para empresas cairá de 35% para 20%, o que, segundo os republicanos, vai melhorar a competitividade do país, estimular a economia e garantir mais empregos.

"Isso é o ideal americano", discursou o deputado republicano Paul Ryan, presidente da Câmara, durante a sessão que aprovou a lei nesta terça (19). Para ele, a redução da alíquota para empresas vai impulsionar a economia e garantir mobilidade social e liberdade.

Democratas criticaram a pressa na aprovação da lei, e afirmam que ela aumentará a dívida pública e não dará garantia de novos empregos, mas beneficiará prioritariamente grandes corporações e milionários -inclusive Trump, cujas empresas terão uma redução estimada de US$ 1 bilhão em impostos, de acordo com o "New York Times". O presidente, que não divulga sua declaração de renda, nega que será favorecido.

"Essa lei vai instalar uma plutocracia permanente no nosso país", declarou a deputada Nancy Pelosi, líder democrata na Câmara.

Ryan rebateu as críticas. "Não estou preocupado. Os resultados vão tornar a lei popular", disse ele, durante coletiva de imprensa nesta terça (19). Ele voltou a defender que a lei irá estimular a economia e fazer o país crescer em torno de 3% no ano que vem.

Num movimento para garantir os votos necessários à medida, o vice-presidente Mike Pence, que também é presidente do Senado, adiou uma viagem ao Oriente Médio para garantir o voto de minerva, caso haja empate na votação na Casa.

No Brasil, analistas temem que a reforma afaste investimentos do país, já que o corte de impostos tornaria mais atrativo para multinacionais declararem lucro nos EUA.

A previsão é que a votação no Senado seja finalizada até a madrugada desta quarta (20). Trump pretende assinar a versão final da lei até o final desta semana, mesmo com a nova votação na Câmara.

REFORMA DE TRUMP
Os efeitos das novas regras tributárias

POR UM LADO...

Redução de impostos para empresas
A alíquota cai de 35% para 20%, o que, segundo o governo, atrai investimentos ao país

Crescimento econômico e mais empregos
Trump promete crescimento de 3%, mais empregos e alívio da carga tributária, apesar de dúvidas sobre a eficácia da proposta

Simplificação das alíquotas
O número de faixas de cobrança será reduzido, e a maior parte dos contribuintes poderá preencher sua declaração em apenas uma página

POR OUTRO LADO...

Aumento da dívida pública
O corte de impostos representará perda de US$ 1 trilhão aos cofres públicos nos próximos dez anos, o que pode levar a cortes orçamentários ou a um aumento da dívida –questão sempre sensível para os republicanos

Benefícios para os mais ricos
Empresas serão as grandes beneficiadas, já que o corte de impostos para a classe média só vale até 2025. Fim de benefícios para estudantes e redução de impostos sobre propriedade podem aumentar a desigualdade, segundo analistas

Vantagens para Trump
O corte de impostos sobre imóveis pode poupar até US$ 1 bilhão das empresas do próprio presidente, segundo o jornal "New York Times"

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