Brasileiros movimentam setor de negócios e serviços em Portugal

Crédito: Fernando Donasci/Folhapress ESTORIL - PORTUGAL, 17-01-2018 - EMPRESARIAS BRASILEIRAS EM PORTUGAL As empresarias brasileiras Liliani Wietcovsky (esq) e Paula Mendes (dir) estão aquecendo o mercado português com serviços que já existem no Brasil e não tem em Portugal. (Foto: Fernando Donasci/Folhapress) DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
As empresárias brasileiras Liliani Wietcovsky (esq) e Paula Mendes (dir) estão aquecendo o mercado português com serviços que já existem no Brasil, mas não em Portugal

GIULIANA MIRANDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LISBOA

A nova leva de brasileiros com alto poder aquisitivo que se instalou em Portugal está impulsionando uma série de serviços e negócios que eram quase inexistentes no país.

É o caso das festas infantis com ares de superprodução, que se proliferam na esteira da chegada das famílias brasileiras.

"É cultural. Em Portugal, mesmo as pessoas mais ricas não tinham o hábito de fazer festas grandes para as crianças. O normal era só um bolinho do supermercado mesmo, com sucos e refrigerantes", diz a empresária brasileira Liliani Wietcovsky.

Proprietária da empresa de organização de eventos Lima Limão, criada há cinco anos, ela diz que a chegada de mais brasileiros teve bastante impacto no mercado, com demanda cada vez mais consistente por festas com decoração caprichada e menu farto.

"O brasileiro está acostumado a fazer festas bem produzidas e traz esse hábito com ele mesmo mudando de país. Aliás, o brasileiro muitas vezes quer tudo igual ao que tinha no Brasil, mesmo que não exista fornecedor de quibe, esfirra e coxinha por aqui", brinca ela.

Sócia de Liliani, a designer portuguesa Paula Mendes diz que o consumidor brasileiro está disposto a pagar bem, "mas é muito exigente".

Tanta exigência é perceptível também no mercado imobiliário, onde os brasileiros viraram os clientes favoritos de muitos corretores, que oferecem até visitas via Skype para fechar negócio.

"Há alguns anos eu não imaginava vender uma casa para um cliente que eu nunca vi, mas hoje faço muitos negócios assim. Pelo menos para mim e para os meus colegas, o brasileiro inaugurou o conceito de venda de casas por vídeo", diz a consultora Rita Rodrigues, que se especializou no mercado de luxo.

Um levantamento feito pela Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal diz que, em 2017, um em cada quatro imóveis em Portugal foi comprado por estrangeiros. Os brasileiros em terceiro lugar na lista de nacionalidades, atrás de chineses e franceses, mas se destacam pelo valor médio mais alto das casas.

O investimento em imóveis de alto padrão tem uma explicação: desde 2012, o governo português concede vistos especiais para quem adquire propriedades de pelo menos € 500 mil -ou € 350 mil em bairros predeterminados.

Os brasileiros são a segunda nacionalidade que mais usufruiu do benefício do chamado "visto gold", atrás apenas dos chineses.

DELIVERY

Corriqueiro para os brasileiros, o serviço de entrega em domicílio é bem menos difundido em Portugal, mas já começa a se espalhar pelas áreas com imigrantes endinheirados, como Cascais, a 30 minutos de Lisboa.

Sócio de uma padaria em uma área nobre de Cascais, o português Carlos Pinto começou a oferecer pães e outros produtos em delivery para atender à clientela brasileira.

"Temos muitos clientes brasileiros que se mudaram recentemente para cá com as famílias. Oferecer as entregas foi um diferencial que ajudou a fideliza-los", conta.

Em Portugal há nove anos, a carioca Tatiana Sabatie também avalia que a chegada dos conterrâneos nos últimos anos tem ajudado a impulsionar serviços.

Junto com a amiga Fabiana Barcellos, que há dez anos trocou o Rio por Cascais, ela abriu a Why (We Host You), que é uma espécie de assessoria para ajudar quem quer trocar o Brasil por Portugal.

Esse tipo de serviço, chamado de "relocation", tem se proliferado no país, muitas vezes comandado por brasileiros que já tem experiência com os trâmites burocráticos.
"Mesmo os notários [cartórios] e os gerentes de banco já se dispõem a fazer um atendimento personalizado, ir até o cliente. Isso é muito recente, de um ano para cá, e com certeza tem a ver com esses brasileiros que chegaram agora", avalia Fabiana.

"Também acho que mudou bastante a percepção que se tinha do brasileiro. Antes, eu tinha um pouco de receio quando notavam meu sotaque. Várias vezes olhavam meio torto. Agora, sinto que isso mudou. Os portugueses perceberam que os brasileiros também podem vir para investir e acrescentar", diz.

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