Turquia adverte os EUA sobre risco de conflito no norte da Síria

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PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

A Turquia advertiu nesta quinta-feira (25) que os Estados Unidos devem suspender o apoio às milícias curdas na Síria, ou arriscam-se a entrar em confronto com forças turcas na região. As afirmações apontam para a possibilidade de conflito entre os dois membros da Otan (aliança militar ocidental).

"Qualquer um que apoie a organização terrorista será um alvo nesta batalha", disse o vice-premiê turco, Bekir Bozdag, que também é porta-voz do presidente Recep Tayyip Erdogan, referindo-se às milícias curdas YPG na Síria. "Os EUA precisam rever seus soldados na área e seu apoio a terroristas, para evitar um confronto com a Turquia."

Crédito: George Ourfalian/AFP Curdos sírios velam vítimas de ofensiva das forças da Turquia sobre minoria étnica em Afrin
Curdos sírios velam vítimas de ofensiva das forças da Turquia sobre minoria étnica em Afrin

A Turquia lançou uma ofensiva contra os curdos em Afrin, no norte da Síria, em 20 de janeiro. O governo turco afirma que a milícia curda síria é aliada do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), que lidera uma insurgência separatista na Turquia e é considerado terrorista por Ancara, pela União Europeia e pelos EUA.

Os EUA se aliaram à milícia curda YPG para combater o Estado Islâmico na Síria, fornecendo armas e treinamento nos últimos anos. Os americanos pediram à Turquia que limite sua ofensiva, mas afirmaram que só apoiam a YPG no combate ao EI e não se mobilizaram para defender os curdos em Afrin.

O problema é que a Turquia anunciou que irá mover sua ofensiva para a cidade de Manbij, a 100km de Afrin, e lá estão baseados cerca de 2.000 soldados americanos. Uma operação turca em Manbij traria risco de choques diretos com forças americanas.

Segundo a Casa Branca, o presidente Donald Trump telefonou para Erdogan na quarta-feira (24) e manifestou sua preocupação com sua ofensiva. "Ele exortou a Turquia a recuar, limitar suas ações militares e evitar mortes de civis e o deslocamento de refugiados, além de apontar para a presença americana em Manbij."

A transcrição do telefonema, divulgada pela Casa Branca, foi contestada pelo governo turco, que afirmou que Trump não manifestou nenhuma preocupação com o aumento da violência.

O ataque da Turquia contra os curdos abriu um novo front na guerra síria, que começou em 2011 e já causou mais de 350 mil mortes.

Um erro de cálculo dos EUA precipitou a invasão turca em Afrin. Em discurso, o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmou que os americanos manteriam presença na Síria no longo prazo. Pouco antes, os EUA haviam anunciado que patrocinariam uma força de fronteira de cerca de 30 mil homens.

Como os EUA estão aliados aos curdos, a Turquia encarou o anúncio como a constituição de um Exército curdo permanente na fronteira turca, com apoio e armamentos americanos, para evitar o avanço da Síria e do Irã.

A Rússia, que mantinha soldados e controlava o espaço aéreo em Afrin, em colaboração com os curdos, irritou-se com a aparente aliança permanente das milícias curdas com os EUA e abriu caminho para que a Turquia fizesse bombardeios.

Com isso, a Turquia aprofundou a aliança estratégica que vem selando com Moscou, desde que se agravaram seus atritos com os EUA, por causa do apoio aos curdos e da recusa do governo americano em extraditar o clérigo turco acusado por Erdogan de armar a tentativa de golpe de Estado de 2016. O governo sírio, embora condene a ação turca, não quer que a autonomia curda se consolide na região, por isso não agiu.

A ofensiva se transformou em uma guerra por procuração entre Rússia e EUA que, em apenas cinco dias, causou a morte de cerca de 25 civis, dezenas de militares, e a fuga de 5.000 pessoas.

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